Dez militantes de extrema-direita foram ontem presentes ao juiz de instrução do Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa. Ouvidos desde as 14h00, à hora de fecho desta edição ainda não era sabido quais as medidas de coacção que lhes foram aplicadas.
Vasco Leitão, membro da direcção do PNR, foi um dos interrogados, tal como oito skinheads (da Hammerskin) e ainda Fernando Pimenta, dono da espingardaria Soldier, fechada desde 2006 na sequência de uma acção policial relacionada com um processo de tráfico de armas.
Os outros 20 indivíduos detidos na quarta-feira, na sequência das buscas efectuadas pela Judiciária, acabaram por ser libertados na madrugada de quinta-feira.
Parte dos cabeças rapadas levados ao TIC foi ouvida pelo espancamento de uma rapariga pertencente a uma facção skin mais moderada – o movimento SHARP, skinheads contra o preconceito racial.
A vítima foi agredida com violentos pontapés na cabeça, em finais de 2005, que a deixaram “caída e inconsciente no chão”, adiantou ao CM fonte ligada ao processo. Tal como outros membros do SHARP, estava marcada por várias ameaças trocadas no site ‘Forum Nacional’ como “um dos alvos a abater”.
O juiz inquiriu os skins sobre as perseguições e ameaças concretizadas em agressões. Um dos principais visados é Mário Machado, o conhecido activista do movimento skinhead e líder da Frente Nacional. É suspeito de participação em vários actos de violência, entre os quais um ocorrido em Agosto de 2006 – e outro, este ano, à porta do hipermercado Jumbo, na Maia. Outro episódio foi o das ameaças ao comentador político Daniel Oliveira.
Na operação que envolveu cerca de 100 agentes e 60 buscas, a PJ apanhou armas de calibre proibido, algumas de guerra, dezenas de soqueiras e facas, e material de propaganda nazi. Em causa estão crimes de discriminação racial, ameaças e ofensas à integridade física qualificadas, e posse ilegal de armas.
A mesma fonte ligada ao processo recordou ao CM a doutrina defendida pelos skins detidos: “Comparam os seres humanos aos macacos, entre outras teses racistas. É um movimento indiciado por defender a supremacia de uma raça pura, branca, que faz recair sobre outras raças todos os males da sociedade”.
José Pinto Coelho voltou ontem a frisar a ideia de que o PNR está a ser alvo de “uma campanha de diabolização” e promete “levar o caso até às últimas consequências, incluindo os tribunais europeus”. O líder nacionalista confirma que foram detidos três membros do partido, mas só Vasco Leitão foi ouvido no TIC. Ontem, à entrada do tribunal, alguns dos detidos gritaram “Viva Hitler”, enquanto as duas dezenas de amigos que os aguardavam à porta - e se mostraram agitados - responderam com “Portugal, Portugal” e “estamos com vocês”.
ORGANIZADORA DEMITIU-SE
Rita Vaz, líder da Juventude Nacionalista, organização que promove o encontro internacional de nacionalistas do próximo sábado, abandonou o cargo ao final do dia de anteontem. A jovem estudante de Medicina também se desligou da organização do encontro, tendo passado essa responsabilidade para o líder do PNR, José Pinto Coelho.
A estudar no primeiro ano de Medicina da Universidade da Covilhã, Rita receia que toda a exposição mediática de que tem sido alvo possa prejudicá-la durante o curso e optou por afastar-se do movimento juvenil, mantendo, no entanto, a militância no PNR. Quanto ao encontro de sábado, os nacionalistas cancelaram o concerto previsto “por razões de segurança”. É que a vigilância ia estar a cargo dos ‘Hammerskins’ e estes foram detidos. Mantém-se a conferência, em local não divulgado.
AMEAÇAS A DANIEL OLIVEIRA
Mário Machado, o líder da Frente Nacional e conhecido activista do movimento skinhead, responde, entre vários crimes, por “ameaças e simulação de agressões” a Daniel Oliveira (na foto), ex-assessor do Bloco de Esquerda e comentador político. Conforme explica no seu blogue ‘Arrastão’, em Dezembro do ano passado, foi abordado junto à Assembleia da República por Mário Machado, que ameaçou bater-lhe e arrancar-lhe “a cabeça” se voltasse a escrever sobre ele.
Em causa estava a crónica em que o bloguista apelidava o líder da FN de “Marcolas português” – em alusão ao líder de um perigoso gangue brasileiro. Daniel Oliveira apresentou queixa na PSP por “ameaça de morte”, mas há muito que é alvo de insultos na internet. “Não lhes dou o prazer de mudar a minha vida. Só deixei de ir ao Bairro Alto aos sábados à noite para evitar encontros indesejáveis”, disse ao CM.
8 ANOS
Pena máxima de prisão prevista no Código Penal para o crime de discriminação racial, que compreende, entre outros actos, a fundação ou participação em organizações que incitem à discriminação e ao ódio racial
10 UTILIZADORES
10 utilizadores registados como portugueses entre os 1250 que constam do fórum da Hammerskin na net. Um deles é Mário Machado
HAMMERSKIN
Hammerskin Fundada nos Estados Unidos em1988 é uma das organizações internacionais mais activas (e violentas) do movimento skin. A adesão do grupo extremista português PHO ao movimento, em 2004, coincide com o aumento das acções dos extremistas em Portugal
SANÇÃO COMUM
Os ministros da Justiça dos 27 países da União Europeia chegaram ontem a acordo para a imposição de uma sanção comum de um a três anos de prisão para o crime de incitamento ao racismo e xenofobia