Retiro dois apontamentos de textos que escrevi recentemente e que, no meu entender, me parecem mais actuais do que nunca:
No nosso clube todos ganhamos e todos perdemos. Não existe a sobrevalorização de contributos individuais para as vitorias nem a culpabilização de elementos específicos para as derrotas. Jesus parece não perceber isso. Ou melhor, o ego de Jesus parece não entender isso. Essa tendência para o auto-elogio apenas o prejudica e, infelizmente, prejudica o clube que ele serve.
A equipa tem de recuperar a confiança no seu potencial e esquecer o que se passa à sua volta. Esse será o factor essencial para que, nos próximos jogos, os adeptos possam voltar a acreditar na equipa.
A questão é que os adeptos já deixaram de acreditar na equipa e, muito mais grave do que isso, a equipa deixou de acreditar em si própria. A realidade é que nem os jogadores são tão maus como as recentes exibições o fazem crer nem as “condicionantes” do campeonato português deixaram de ser importantes (em Guimarães e na Madeira o Sporting foi roubado, por muito más que tenham sido as exibições). Mas assim como as equipas crescem em termos motivacionais impulsionadas por uma eventual dinâmica de vitoria, também as mesmas se incapacitam quando, por alguma razão, os resultados não aparecem.
É nestas alturas que os verdadeiros lideres fazem a diferença. O Sporting desta época, que tão altas expectativas gerou, precisa de alguém que recupere a sua auto-estima e renove a crença no potencial da equipa. A questão que se pode colocar é se Jorge Jesus é o homem indicado para a tarefa. Na minha opinião, terá de ser ele o líder da recuperação até porque, porventura, será ele também um dos maiores culpados pela situação que vivemos.
Tenho mais de 20 anos de liderança de equipas em empresas multinacionais. Sei o que é viver com a pressão de atingir os resultados esperados e a importância de ter as pessoas certas nos lugares certos. Sei também que, muito mais importante do que o talento ou o conhecimento necessário para a função, é fundamental a motivação e empenho de cada elemento ao executar as suas tarefas. O papel do líder é, essencialmente, o de manter os elementos da sua equipa motivados e concentrados no objectivo a atingir. Se assim for, consegue-se que uma equipa minimamente talentosa atinja resultados excepcionais.
Outro dos papeis fundamentais da liderança é o de valorizar a sua equipa quando o sucesso é alcançado e, acima de tudo, assumir as responsabilidades quando os resultados são um fracasso. O meu lema profissional sempre foi: “vocês são os vencedores e apenas eu sou o derrotado!”. Jorge Jesus, pelo menos em algumas declarações publicas, falha como líder de um grupo de homens que vê no seu treinador o foco inspirador para fazer mais e melhor.
Quando se fracassa, procuram-se internamente as razoes para os maus resultados. Depois de identificadas, estabelece-se um plano para eliminar essas deficiências (ou corrigi-las) e determina-se um espaço de tempo para se atingir os objectivos. Decorrido esse período de tempo, uma de duas hipóteses concretizou-se: ou a equipa está novamente no caminho do sucesso e o plano foi um êxito; ou os resultados continuam sem aparecer e nesse caso estabelece-se um novo plano de recuperação ou… muda-se o líder.
Não tenhamos duvidas: este é o maior desafio da carreira de Jorge Jesus. Agora (e só agora) ele tem oportunidade de demonstrar, de forma cabal, ser um grande treinador. Alias, mais do que um treinador, cabe-lhe agora o papel fundamental de líder. É esse desafio que ele tem agora de superar, independentemente dos erros que cometeu num passado recente.
O Sporting está neste momento refém de Jorge Jesus (não o pode despedir sem ter de pagar uma indemnização milionária), mas o treinador, em termos de carreira, também está refém dos resultados que consiga alcançar com o Sporting. Como treinador já demonstrou que consegue por esta equipa a praticar um futebol de excelência e como líder já elevou os níveis motivacionais dos jogadores a expoentes altíssimos. Pede-se pois que agora essa seja a sua prioridade máxima, numa altura em que a margem de manobra é mínima. Até porque, tal como Jorge Jesus saberá muito bem, viver com elevados níveis de pressão é algo a que qualquer grande líder está habituado. Basta que esteja à altura.