Uma proposta para o drama financeiro da carreira do jogador de futebol

" Nem todos são Cristianos Ronaldos, nem todos ganham fortunas…!"
Fernando Mendes ex-jogador de futebol em reportagem SIC

Esquece-se F.Mendes que Cristianos não podem ser todos, tanto porque há só um mesmo…
Este é o drama que assola qualquer profissional de uma indústria altamente mediática e que lhes cria ilusões de imortalidade e riqueza, ainda muito antes de sequer serem jogadores adultos e formados.

Na verdade, este drama não é exclusivo desta profissão e pode ser perfeitamente identificado nos mesmos moldes em outras como a de modelo de moda, músico, actor e todas aquelas que juntem protagonismo efêmero com pressão social e mediática.
De resto, a particularidade do jogador de futebol agrava-se ainda mais por este ter um período de vida demasiado curto.

De entre vários pormenores da reportagem, de resto louvável da SIC, fez-me especial confusão e incomodo, o facto de se por ênfase no comportamento e responsabilidade dos clubes, sobretudo os formadores ao se fazer crer, de algum modo que estes jogadores já eram explorados mesmo durante o seu período de estrelato face aos baixos valores auferidos nos seus clubes que não lhe souberam eventualmente proporcionar o devido valor do seu rendimento.
Nada mais errado!
Aos clubes cabe fazer valer o negocio que é e deve ser tão vantajoso para estes assim como para os jogadores em causa.
Mas é o mercado quem define os contornos desta equação.

Sendo eu um atento apreciador do futebol, lamento profundamente a existência destes e de tantos outros casos, até mais graves mas que vividos por alguns profissionais que quase nunca passaram do anonimato.
Esta é uma profissão tão digna como qualquer outra e deve ser preservada por todos aqueles que beneficiem com ela.
São eles os próprios jogadores como também os clubes, os adeptos e todos os organismos ou organizações que de algum modo vivem dos proveitos desta mesma actividade.
A isto chama-se gestão de valores e proveito econômico… A bem de todos!

Bruno de Carvalho tem sido pioneiro e incentivador de algumas mudanças importantes e paradigmáticas no actual contexto futebolístico.
Está agora ainda no inicio do seu percurso mas, polêmicas à parte, tem despertado a atenção do universo futebolístico e não só com a forma como tem colocado questões importantes que contribuam para um melhor ambiente, em todos aspectos, do futebol nacional.

Coloco-lhe aqui um desafio ao ver estas reportagens que a SIC emitiu.

Deveriam os clubes em Portugal criar um sistema que seria, de resto, inédito no mundo do futebol para proporcionar a todos os jogadores de carreira futebolística profissional algum aforro que lhes equilibre a vida para além da carreira.
Isto valeria se todos os clubes e organismos aceitassem colaborar neste sistema de mutualidade.

Todos os contratos profissionais firmados em Portugal deveriam obrigar cada um dos jogadores a aforrar 5% do seu salário bruto.
A cada clube caberia a obrigação de depositar igualmente o mesmo valor correspondente a esses 5% do salário.
Esse valor ficaria cativado por uma instituição que o gerisse de uma forma conservador e de baixo risco de investimento.
Agência financeira ou seguradora que teria a obrigação da gestão desse valor que dado o montante enorme que rapidamente geraria (imaginemos todos os jogadores de futebol de todos os clubes das ligas profissionais, ano após ano) uma enorme procura por parte dessas instituições de gestão financeira.
Este montante seria retido até o jogador atingir os 40 anos, após o qual ficaria apto a fazer o levantamento correspondente ao valor majorado do seu depósito.

Todos aqueles que pretendessem levantá-lo antes do período perderiam qualquer direito à majoração mas receberiam o montante, por eles, depositado na integra.

Imaginemos dois cenários distintos.

Um jogador de um clube grande de media carreira toda feita em Portugal.
Inicia a sua carreira profissional aos 20 anos e acaba a carreira aos 33.
Faz 14 anos de carreira profissional.
Nos primeiros anos recebe uma media de 2000 euros durante 3 épocas e vê a sua situação contratual melhorada para os 30000 euros nos seguintes 5 anos acabando a carreira com um contrato ligeiramente melhorado até aos 40000 euros por mais 4 anos acabando a sua carreira com um contrato final de 25000 nos últimos 2 anos de carreira.
Este jogador cativa no fundo de pensão um valor na ordem dos 450000 euros.
Numa rentabilidade anual de 5% garantido por um investimento de baixo risco, este valor majoraria para o montante de… 1 milhão de euros em 20 anos.
A possibilidade de receber o montante por inteiro ou faseado mensalmente proporcionaria em qualquer caso uma qualidade de vida excelente a alguém que não pode manter altos níveis de rentabilidade financeira depois de finalizada a sua carreira.

Mas o mesmo poderíamos fazer em relação a um jogador de clube médio num salário que variasse entre os 600 euros nas suas primeiras 3 épocas e os 2500 no auge da sua carreira durante 7 anos para finalmente terminá-la com um montante de 1500 euros na suas ultimas 4 épocas.
Aqui o aprovisionamento não excederia um valor próximo dos 75000 euros.
Bem diferente do milhão de euros.
Mas ainda assim estamos a falar de um montante que poderia proporcionar um valor correspondente a um salário médio-baixo em Portugal.
É preciso perceber que este montante deveria ser sempre entendido como um complemento ao rendimento do ex-jogador que deveria sempre poder manter uma qualquer outra actividade profissional, pois não faz sentido imaginar que alguém que não passe de ser um jogador de carreira sofrível possa amealhar um erário que lhe permita viver o resto dos seus dias sem mais nada para fazer na vida.
Isso seria apenas vê-los como meros indigentes que não o deverão nunca ser de todo.

A isto poderia acrescer ainda um montante adicional que funcionaria como um prêmio extra que resultaria do eventual excedente que tal fundo atingisse e que seria distribuído mutualmente por todos aqueles que atingissem os 40 anos de idade reforçado muito por força da entrada de novos jogadores constantemente no sistema de fundo de pensões.
Este novo valor deveria ser dado de uma forma proporcional favorecendo sempre aqueles que tivessem menos valor acumulado.
Seria assim como um imposto em que os mais capazes contribuíam sobretudo para aqueles que menos tinham tornando o sistema um pouco menos desigual.

Isto que aqui apresento não passa de um protótipo de um modelo que poderia e deveria servir como esboço para um eventual programa que a todos desse uma garantia de alguma segurança digna precavendo-os de algum excesso de inicio de carreira e de eventuais negócios mal conduzidos ou administrados.
Mas inúmeras sugestões seriam sempre acrescentáveis a esta ideia de modelo original afim de optimiza-lo.

Um jogador começa e acaba uma carreira, seja ele qual for, muito antes de sequer se preocupar com o seu verdadeiro futuro…
Isto porque eles, tal como todos nós, não se imaginam incapazes de atingir a lua enquanto jovens.
A paragem da sua carreira é, no entanto, abrupta.
E isto vale tanto no aspecto financeiro como para todos outros factores de ordem social e pessoal.
Devem por isso serem apoiados e devidamente integrados, aliviando desse modo eventuais receios na sua vida pôs-laboral.
E esse papel pedagógico cabe também, em muito, aos clubes que os contratam tal como a todos os agentes desportivos e institucionais que os rodeiam ao longo de uma carreira, quando inclusivamente os idolatram para depois de um modo significativamente cínico os esquecer quando já não se tornam preponderantes na vida das pessoas e dos organismos que os rodeiam.

É com tristeza que vejo hoje inclusivamente adeptos desprezarem estrelas enormes e dedicadas dos seus clubes noutros tempos, alguns que dando tudo aos seus clubes de coração, prescindiram de eventuais mais profícuos contratos, mas que agora por motivos de conveniência ao actual estado de coisas, se tornam proscritos e criticados por aqueles que não merecem de forma alguma que alguém jogue com o mínimo de amor à camisola do clube que represente.

Todos somos de alguma forma culpados nesta equação.
A forma como consumimos até à exaustão tudo aquilo que nos preenche para imediatamente o deitarmos no lixo do esquecimento assim que nos deixa de ter algum uso é próprio de uma sociedade pobre sim mas de valores de espirito e culturais.
É por isso uma imensa obrigação que todos aqueles que tenham algum valor acrescido como de referencia nesta sociedade fraca possam sobressair com modelos e ideias que a todos permitam viver melhor e com mais dignidade.

Vejo em Bruno de Carvalho alguém que encaixa nesse perfil de referencia e que com uma iniciativa destas poderia colocar a sua imagem num patamar de prestigio que a todos nos dignificaria enquanto membros do melhor e mais capaz clube de Portugal, um dos melhores do Mundo!..

Isso trata-se de uma reforma anticipada!!

Exactamente , aqui nos estados unidos quase todas as companhias tem um sistema identico a isso que estas a tentar explicar, que se chama 401k , onde por ex: no meu caso na companhia onde trabalho todos os trabalhadores podem descontar ate 4% do seu ordenado , mas pode ser menos e a companhia match o mesmo numero , que por sua vez esses 4% sao distribuidos em pequenas apostas na bolsa .

Mas nesse dinheiro nao se pode tocar nunca, a nao ser num caso de emergencia , compra de casa , filho que entra na universidade , etc ,mas com uma penalizacao de 30% da quantia levantada .

Penso que de facto seria uma boa ideia para os jogadores de futebol, mesmo para aqueles que de facto nunca foram nenhuns jogadores fora de serie, mas pelo menos no final das suas carreiras terem algo a que se agarrar.

Ate mesmo para quem trabalha em portugal deveria de haver essa opcao, e pouco dinheiro que nos nunca vimos , que nao contamos ,mas que no fim de muitos anos de trabalho , por mais pouco que seja , e sempre agradavel ter uma quantia extra, e para os jogadores que normalmente ganham mais dinheiro que um cidadao comum, no final teriam uma quantia agradavel!!

Boa reflexão e proposta.

Isto é o tipo de coisa que o sindicato poderia fazer.

Oh, wait…