Portugal tem um futebol “sui generis”. Infelizmente, não pelos melhores motivos: neste desporto (e no mundo que o rodeia) concentram-se muitos dos defeitos que nos definem como nação. Um deles é o de se discutir demasiado e de se fazer pouco para mudar as coisas.
Não é o caso desta direcção do Sporting que tem tentado, contra ventos e marés, alterar muito daquilo que são os pilares podres que sustentam o futebol em Portugal. E quais são esses pilares?
- A corrupção na arbitragem;
- O controlo que alguns clubes detêm sobre os órgãos de poder;
- A falta generalizada de ética e respeito pela verdade desportiva;
- As ligações subservientes dos média para com certos interesses instalados.
Convém descreve-los com um pouco mais de detalhe:
- Corrupção na arbitragem
Não é de agora. Trata-se de um problema crónico do nosso futebol, que tarda em se livrar deste estigma. Alternadamente, ambos os nossos rivais tentam assegurar o controlo deste sector. Nunca explicaram porque o fazem (alguém lhes perguntou?), mas todos entendemos as razoes dessa luta. Recentemente tivemos (mais) dois episódios significantes: 1) o presidente do Sporting denunciou o suborno dos árbitros feito através de caixas presenteadas pelos nossos oponentes encarnados; 2) um dos árbitros (recentemente no activo) confessou ter sofrido pressões dos próprios órgãos que regem a arbitragem para favorecer um determinado clube.
Estes dois exemplos, de uma gravidade extrema, ameaçam agora cair no esquecimento. Com a conivência de uma imprensa domesticada, ambas as situações foram escamoteadas pelos órgãos de poder, como se fossem factos irrelevantes. Estamos pois perante uma realidade em que os agentes desportivos e os adeptos aceitam que a corrupção seja uma pratica normal no futebol. Notável.
[b]
- O controlo que alguns clubes detêm sobre os órgãos de poder[/b]
As lutas intestinas para garantir órgãos vitais nas entidades que regulam o futebol são evidencia clara da importância que esses cargos têm na garantia do sucesso desportivo que alguns clubes pretendem alcançar a todo o custo. A falta de critério e a ambiguidade das decisões que esses órgãos emitem são prova evidente dos serviços que prestam a terceiros. Exemplo disso é a forma inusitada como constantemente castigam o presidente do Sporting, revelando uma “eficiência” e rapidez que raramente se verifica quando se trata de casos que envolvem outros clubes. Por outro lado “assobiam para o ar” e fazem de conta que o escândalo e a evidencia não existe, quando afecta as cores que eles defendem.
[b]
- A falta generalizada de ética e respeito pela verdade desportiva[/b]
Já se viu que grande parte dos adeptos não se importa de como as vitórias são obtidas. Mais: mesmo quando ganham “roubando” os outros, gozam com a situação e classificam os adversários de “calimeros”. Os dirigentes e agentes desportivos agem em conformidade. O problema aqui é geral, exceptuando aqueles que são fieis discípulos da verdade desportiva e nos quais gosto de incluir a maioria dos adeptos do Sporting. Muito do que se tem passado nas ultimas décadas é o espelho de um futebol putrefacto até 'a raiz: vitorias atras de vitorias alcançadas através da deturpação sistemática de resultados e de campeonatos. Os que ganham pouco se importam. São o espelho de uma identidade nacional doente e não apenas do que são como adeptos de clubes de futebol. No fundo, são assim na vida como no desporto.
- As ligações subservientes dos média para com certos interesses instalados
Já todos percebemos que os media em Portugal são de uma pobreza atroz. Os que estão ligados ao desporto são, na generalidade, covis de prostitutas da escrita e da imagem. Não existe jornalismo de investigação serio e os “profissionais” raramente conseguem disfarçar a clubite de que sofrem. Tivesse o caso das caixas como alvo o Sporting e já se sabia quem forneceu o papelão para as mesmas e os detalhes da vida do empregado de mesa que serviu os repastos. Como o escândalo se relaciona com o clube do regime, o assunto é abordado com leveza e até, ocasionalmente, num tom jocoso.
Por outro lado dão voz e ampliam os soundbytes de conveniência dos donos da bola em Portugal. Exemplo gritante disso é o facto de o clube dos vermelhos andar a proclamar (através dos seus paineleiros profissionais) a falsa ideia de que são vitimas de erros da arbitragem e de que o Sporting é beneficiado. Esta mentira, facilmente desmontada por qualquer órgão de comunicação social isento, é repetida 100 vezes nos media até que se torne uma verdade adquirida na opinião publica em geral. A imprensa serve interesses sem a mínima preocupação e respeito pelo código deontológico que a devia reger.
Isto para dizer o seguinte: apesar do esforço titânico da actual direcção leonina em tentar purificar e profissionalizar a industria de futebol portuguesa, este desporto continua a ser terreno fértil de convívio entre gente de perfil dúbio e actividades que escapam a legalidade, em todas as suas vertentes. Lidar com futebol sem sujar as mãos é tarefa impossível. Um mundo de canalhas, que canibalizam o desporto em vez de o modernizar. Ao aceitarmos sermos espectadores deste embuste estamos, de alguma forma, a ser cúmplices das canalhices com que constantemente temos de lidar.
O que fazer? Desistir? Não, os leões nunca desistem. Esta é uma luta que merece a pena, não apenas pelo que pode significar para o nosso clube mas também pela mudança que pode trazer ao nosso país. Mais do que os chutos na bola ou o golo do meio da rua, urge concentrar esforços na mudança de mentalidades e de paradigma. Só assim devolveremos o desporto aos atletas e a ética desportiva aos órgãos que o regem.
A cada roubo, levantamo-nos mais rapido.
A cada decisao parcial, contestamos mais alto.
A cada mentira veiculada, escarrapachamos a verdade.
A cada canalha, uma cela de prisão.
Um Feliz e Santo Natal e um Prospero Ano Novo