Um ponto de vista interessante que saiu no JN de hoje.
A autoria é de Manuel António Pina.
[i]"Tudo bons rapazes
O presidente da Comissão de Arbitragem da Liga, Luís Guilherme, anunciou que os árbitros arguidos de crimes de corrupção e de fabricação de resultados no processo “Apito Dourado” continuarão a ser nomeados para dirigir jogos, enquanto não forem condenados.
Para Luís Guilherme, “os regulamentos são claros” e ainda bem que há alguma coisa clara na gestão do futebol em Portugal. Mas não deixa de ser igualmente claro que, tendo em conta a rapidez da Justiça e as facilidades que o Código de Processo Penal generosamente dá para que, de recurso em recurso, se possam protelar indefinidamente as decisões judiciais, todos os referidos árbitros chegarão à reforma sem deixar de apitar um único jogo.
Parece justo. Afinal, quaisquer que sejam as suas culpas, indiciados, acusados e até condenados sem sentença transitada em julgado, presumem-se inocentes. O próprio Judas, que nunca chegou a ser condenado em qualquer tribunal, e muito menos com sentença transitada, deve ser tido como bom rapaz. Mas, pergunta-se confiaria Luís Guilherme a contabilidade de uma empresa sua a alguém que estivesse acusado de fazer trafulhice com as contas da empresa do vizinho? Porque a questão não é a da figura processual da presunção de inocência, de exclusivo alcance dentro do processo. A questão é que, com diria César, não basta ser formalmente sério, é preciso também parecê-lo, senão sê-lo real e materialmente.
A fazer fé nos jornais, o mais certo é que a generalidade dos arguidos do “Apito Dourado” escapem à Justiça por motivos formais. Aparentemente, as escutas telefónicas em que foram apanhados a combinar resultados poderão vir a ser invalidadas porque a juíza não teve tempo de as ler de fio a pavio. E, se assim não for, os seus advogados poderão ainda, com a prestimosa ajuda do CPP, fazer demorar a coisa o tempo suficiente para que tudo prescreva.
A pergunta que deve pôr-se é a seguinte: poderão, nesse caso, Luís Guilherme e a Liga fingir que as escutas a combinar resultados não existiram? Poderão fazê-lo já agora? E fá-lo-ão os adeptos que vão aos estádios? E em que posição ficarão esses árbitros quando tiverem de tomar uma decisão polémica? Dar-lhes-á a opinião pública, como faz a lei, o benefício da dúvida?
O que está em causa não é uma questão legal, é uma questão de bom senso. Mas bom senso é coisa que não abunda na Liga, onde, em contrapartida, abundam presumíveis inocentes…" [/i]
Retrata um cenário que, ao meu ver, cada vez mais se consolida.
É uma pena, mas assim é.
E o “todo a vontade” do Major e do Papa, corrobora esse ponto de vista.
O que pensam disso?