Estava a ler o tópico sobre a entrevista de Sousa Cintra e, com o comentário de que os treinadores nunca são bons no Sporting. Fiz a lista e cheguei a conclusões bem diferentes:
Treinadores nos últimos 15 anos:
Transparentes (passaram tão rápido que nem me lembro deles):
António Dominguez (1992) - não acompanhou Marinho Peres na demissão perto do final da época e não ganhou nada com isso.
Vicente Cantatore (1998) - chegou, viu e fugiu. Com a equipa deixada por Octávio, não se pode censurá-lo.
Fernando Mendes (1998) - o terceiro numa época em que o Sporting teve quatro treinadores. Uma vitória por 5-0 sobre o Marítimo na Madeira foi o único ponto positivo num período tão mau que nem lhe permitiu acabar a época.
Giuseppe Materazzi (1999) - um caso clássico de desastre de relações públicas. Frases suicidas como “o Sporting é uma das quatro ou cinco boas equipas portuguesas”, a oposição dos jogadores e uma derrota humilhante por 3-0 contra os amadores noruegueses do Viking Stavanger puseram-no no avião para Roma antes do fim de Setembro. Há quem lhe atribua mérito pelo título de 1999/2000 pela preparação física da equipa.
Terríveis:
Octávio Machado (1996-97) porreiro para jogar com o Porto, mas um desastre contra tudo o resto. Responsável pela pior equipa do Sporting em muitos anos: 1997/98 com Nené, Vinicius, Saber, Carlos Miguel, Lang, Giménez, Ramirez e também pela inovação de jogar com três trincos numa final da Taça (Peixe, Vidigal e Pedro Martins) e a proeza de conseguir perdê-la para uma equipa do Benfica miserável onde brilhavam Mauro Airez, Luiz Gustavo e Calado. O equivalente futebolístico de uma bomba de fragmentação, felizmente agora desactivada e isolada algures perto de Palmela.
Fracos:
Robert Waseige (1996) - futuro seleccionador belga sem qual o grande Missé-Missé nunca teria vestido a verde-e-branco. Despedido depois de uma tareia na Taça UEFA em Metz. Famoso pela tirada em que dizia que era impossível trabalhar no Sporting porque em cada gaveta que abria, aparecia Octávio Machado - o que não andava assim tão longe da verdade.
Carlos Manuel (1998) – o homem que acreditava que Patacas e Marco Almeida eram talentos, e que, com uma dose de cantares alentejanos, mais a ajuda os ex-salgueiristas Leão e Renato e do inagualável Ivo Damas podia desfazer a cova que Octávio começou a cavar. Infelizmente, limitou-se a completar o trabalho.
Carlos Queiroz (1993-96): está tudo dito no tópico sobre a entrevista do Sousa Cintra. Ganhou uma Taça é certo, mas contanto com um sorteio hiper-favorável e sem defrontar Benfica ou Porto.
Bobby Robson (1992-93) – simpatiquíssimo, mas com resultados paupérrimos para a matéria-prima que tinha à disposição. Sancionou contratações que custariam pontos, eliminações e, quem sabe, campeonatos como Costinha e Lemajic. Está em duas eliminações traumatizantes – Casino Salzburg e Grasshoppers e teve uma primeira época pobre, apesar da primeira vitória sobre o Benfica em 8 anos. Nunca saberemos o que aconteceria se Sousa Cintra não tem o “vaipe” de contratar Carlos Queiroz – se calhar, nada de especial.
Passáveis:
José Peseiro (2004-05) – herdou a equipa já feita de Fernando Santos. Com reforços a sério como Viana, Rogério, Enakharire, mais a primeira época completa de Liedson montou uma equipa bipolar que ou fazia exibições memoráveis (Feyenoord fora, Newcastle casa, Boavista casa e fora, Braga fora…) ou se afundava em jogos miseráveis (Penafiel em Casa, Leiria em casa, Porto fora…) Garantiu um lugar na historia ao levar a equipa a uma final de uma competição europeia 41 anos depois mas enterrou-se ao aceitar continuar depois de ter levado um banho de bola do CSKA e de ter oferecido o campeonato ao Benfica indo à Luz jogar para o empate – quebrando de forma gratuita um bonito jejum lampião que estava a ser construído há 11 anos. Não ajudou ter sido apanhado no meio das lutas pelo poder no clube.
Fernando Santos (2003-04) – construiu uma equipa quase do zero do annus horribilis de 2002/03, à volta dos sobreviventes Beto, Rui Jorge e Pedro Barbosa, mais o “achado” Rochemback. Do lado mau, uma eliminação inacreditável às mãos de uma equipa turca de 2ª linha e outra na Taça de Portugal com o Vitória de Setúbal, então na II Divisão. Do lado bom, 19 jogos consecutivos sem perder e a única equipa a dar luta ao Porto enquanto José Mourinho lá esteve. A sua dispensa, depois de uma derrota com o Benfica num jogo em que o Sporting podia e devia ter goleado, é uma história mal contada.
Laszlo Boloni (2001-03) – o senhor “e se…?”. E se Jardel tem regressado ao Porto, como tudo indicava? Não sabemos, mas sabemos que foi campeão numa época perfeita onde lançou Viana e Quaresma. E se Veiga não fosse o escroque que todos conhecemos? E se o naufrágio da selecção no Mundial da Coreia (onde um terço dos seleccionados eram jogadores do Sporting) nunca tivesse acontecido? Não sabemos, apenas que a sua segunda época foi desastrosa.
Bons:
Marinho Peres (1990-92) – o primeiro treinador a aguentar uma época inteira no Sporting em 10 anos. Impagável nas conferências de imprensa, levou uma equipa que saía do período mais negro da sua história a 11 vitórias consecutivas no campeonato e à meia-final da Taça UEFA (que na altura era uma competição mais difícil do que a própria Taça dos Campeões e não a 2ª Divisão europeia que é hoje). Lançou jogadores como Balakov, Figo, Cherbakov ou Peixe na equipa principal mas tudo deu para o torto no ano seguinte. No entanto, tem um lugar no meu coração por ter devolvido dignidade e orgulho à minha equipa – é que dos 11 aos 15 anos, os meus pesadelos eram povoados por Negretes, Edels, Jorges Plácidos Peter Houtmans, Rui Masides, Rodolfos Rodriguez, Rijkaards fantasmas, etc.
Mirko Jozic (1998-99) – herdou a terra queimada por Octávio, limpou o balneário e com uma série de contratações inteligentes (Duscher, Rui Jorge, Quiroga – que parecia excelente até partir uma perna em Bolonha – Acosta…) e outras não tão inteligentes (Robaina, Hanusch, Kmet, Krpan…), lançou as bases para equipa do título. A sua saída é outra história mal contada.
Manuel Fernandes (2000) – apanhou o auto-proclamado “dream team” de Luís Duque em colapso e desenrascou-se como pôde. Ganhou uma Supertaça, e conseguiu aguentar a luta pelo título até às últimas jornadas, até uma derrota no Bessa injusta como tudo pôr ponto final nas esperanças do bi-campeonato. Ainda assim, foi fantástico vê-lo vibrar como um adepto quando enfiámos 3 num Benfica em queda livre.
Augusto Inácio (1999-00) – o homem que conseguiu transformar o Sporting eliminado por amadores noruegueses na primeira ronda da Taça UEFA na equipa que quebrou quase duas décadas de jejum, em competição directa com um penta-campeão FC Porto, que contava “só” com jogadores do calibre de Mário Jardel, Drulovic, Zahovic, Capucho, Aloísio, etc. Tudo o resto empalidece por comparação – incluindo tentar lidar com a megalomania de Luís Duque no ano seguinte.