[b][size=14pt]Sporting. A herança forte da formação [/size]Utilização de jogadores formados em Alcochete superou os 50% no campeonato e estabeleceu um novo recorde desde a inauguração da Academia. FC Porto e Benfica muito atrás[/b]
A Academia Sporting foi inaugurada a 21 de Junho de 2002 no final de uma temporada em que a equipa de Alvalade conquistou o último título de campeão nacional da sua história. Laszlo Bölöni era o treinador de um grupo que começava a dar os primeiros passos mais firmes num paradigma de formação de jovens talentos. A tendência não era recente - veja-se os casos mais sonantes como Paulo Futre, Luís Figo e Simão Sabrosa - mas nessa temporada começou a ser constante. Ricardo Quaresma estreou-se logo na jornada inaugural com o FC Porto, Hugo Viana começou a ganhar espaço no final de Setembro e Custódio teve direito aos últimos minutos da partida contra o Salgueiros, já em Março. Além disso, Beto era um elemento nuclear na defesa e Diogo fez finalmente o primeiro jogo pela equipa que o formou, já com 25 anos e depois de ser contratado ao Alverca.
Passaram mais de doze anos desde a inauguração e a aposta na formação parece estar na ordem do dia. O Sporting contratou seis jogadores para o plantel principal (André Geraldes, Paulo Oliveira, Oriol Rosell, Simeon Slavchev, Ryan Gauld e Junya Tanaka) e começou a pairar a ideia de que a aposta na formação apregoada por Bruno de Carvalho estaria em risco.
A formação leonina tem uma nova fornada à espera. João Mário e Ricardo Esgaio são jogadores que já têm experiência de Liga Portuguesa pelo clube de Alvalade mas aguardam uma aposta mais constante (juntos fizeram apenas 71 minutos em 2012/13), enquanto elementos como Ruben Semedo, Tobias Figueiredo, Mica Pinto, Wallyson, Chaby e Iuri Medeiros têm expectativas de poderem vir a ganhar os primeiros minutos.
Independentemente da validade das críticas, a herança é muito pesada. Numa análise que contará sempre e apenas os jogos disputados no campeonato (excluindo as outras competições nacionais e internacionais), a última temporada foi de longe aquela em que a formação teve mais peso no plantel sénior do Sporting. As restrições orçamentais e a maior dificuldade na composição do plantel, naquele que foi encarado com um ano zero, levou a que fossem utilizados um total de oito jogadores com rótulo da formação, com direito à estreia de dois - Wilson Eduardo (após quatro anos passados em empréstimos) e Carlos Mané (directamente da equipa júnior/equipa B). O número, tanto o total como o de estreantes, esteve longe de representar um recorde mas a percentagem de utilização passou pela primeira vez, em qualquer um dos três grandes, os 50%. Até 2013, a maior marca era a de 2009/2010, onde um total de onze jogadores (um estreante) representou 46,4% de utilização. Na última época, o número subiu para 50,1%.
Mais do que dar poucos minutos a jogadores para se irem ambientando à equipa principal, Leonardo Jardim escolheu um núcleo duro da formação para servir de espinha-dorsal no plantel. Por isso, apesar de o número total de jogadores ter sido inferior a outras cinco épocas desde que a academia foi criada, o tempo de utilização (14870 minutos) e a percentagem representaram claramente novos máximos. Rui Patrício, Cedric, William Carvalho, Adrien Silva e André Martins foram intocáveis durante toda a temporada (só o último não ultrapassou a barreira dos 2000 minutos - 1968), enquanto Wilson Eduardo, Carlos Mané e Eric Dier foram apostas regulares e ajudaram a aumentar o total.
Expectativas para 2014/15 A próxima temporada exigirá mais do Sporting e dificilmente os números continuarão na ordem dos 50%. Partindo do pressuposto que Rui Patrício e William Carvalho se mantêm no plantel, apenas três manterão o estatuto - Cedric será o terceiro. De resto, há várias dúvidas que sobressaem. As contratações de Rosell, Slavchev e Gauld deverão ajudar a aumentar a rotatividade no meio-campo - sem esquecer João Mário -, enquanto Wilson Eduardo parece estar com a porta de saída entreaberta. Em sentido contrário, Carlos Mané promete fazer mais minutos, mantendo-se a dúvida sobre o que acontecerá com Eric Dier. O central inglês foi terceira opção com Leonardo Jardim, atrás de Maurício e Rojo, mas a mudança de treinador e a eventual saída do argentino podem abrir novas oportunidades. Isto, claro, se o processo de renovação não se arrastar e influenciar o tempo de utilização.
O aumento de soluções extra-academia surge naturalmente no âmbito de dar um novo fôlego aos leões num ano em que haverá presença na fase de grupos da Liga dos Campeões, mas Bruno de Carvalho rejeita que isso signifique um passo atrás, como poderá parecer. “Temos de ir conciliando a formação e um scouting activo e depois ir lançando os melhores na equipa principal. Não podemos ser obcecados por uma política de formação que nos impeça todos os anos de sermos altamente competitivos. Não podemos estar fechados para o exterior e deixar de trazer mais qualidade”, afirmou em entrevista ao jornal “Luso-Americano” em Junho. Já esta semana, foi Aurélio Pereira a realçar a necessidade dessa conciliação: “A gestão desportiva não pode passar só pela academia. Um clube com a dimensão do Sporting tem de testar outros jovens.”
Os três grandes O Sporting sempre usou mais a bandeira da formação do que FC Porto e Benfica e os números espelham isso mesmo. Desde 2002/03, os leões têm as nove temporadas em que a percentagem de utilização é maior, sempre entre os 50% e os 30%, surgindo os dragões de 2002/03 na décima posição - 26,6%. Com José Mourinho no comando, o FC Porto utilizou sete jogadores da formação no campeonato, embora o contexto de utilização fosse um pouco diferente: Jorge Costa, Vítor Baía e Secretário eram jogadores feitos, enquanto Ricardo Carvalho não era uma aposta recente. Hélder Postiga assumia-se na segunda temporada com os seniores, enquanto Hugo Luz (162 minutos) e Reinaldo (um) foram os únicos estreantes nessa temporada.
A melhor época do Benfica surge apenas na 13.ª posição, com uma percentagem de utilização de 19,7% em 2004/05, ano em que as águias quebraram o jejum de títulos. O dado reflecte os 6631 minutos espalhados por Manuel Fernandes, João Pereira, Moreira, Bruno Aguiar e Amoreirinha - os últimos dois jogaram pela primeira época na equipa principal.
Números enganadores O recorde de jogadores da formação numa temporada pertence ao Sporting, em 2012/13. No entanto, o contexto dessa temporada foi atípico e foram utilizados 35 jogadores, entre os comandos de Sá Pinto, Oceano, Vercauteren e Jesualdo Ferreira. Da formação, foram utilizados 14 elementos, oito deles estreantes. Por outro lado, os “rookies” contribuíram apenas com 2618 minutos (média de 327) e Ricardo Esgaio, Fokobo, Betinho e João Mário não chegaram sequer aos 60 minutos de utilização - foram contabilizados jogadores da formação todos aqueles que alinharam pelos juniores na equipa.
As doze temporadas de análise permitem-nos 36 leituras diferentes e ajudam a construir um hábito. Ainda que os minutos de utilização sejam radicalmente diferentes, a quantidade de estreantes obedece quase sempre ao mesmo espectro - 30 resumem-se à estreia de um a três jogadores. No extremo inferior, o Benfica não usou ninguém da formação no campeonato pela primeira vez em 2006/07 e 2009/10, no superior surge logo no segundo lugar, com seis “rookies”, em 2013/14. Isso mesmo, a nível absoluto, de total de jogadores (sete) e de estreantes (seis), as águias nunca tiveram números tão altos como na última época.
A justificação para estes dados é simples. João Cancelo, Lindelof e Bernardo Silva jogaram na última jornada, no Dragão, com o título já atribuído, e Paulo Lopes e Sílvio entram nestas contas, apesar de terem abandonado a formação do clube em 1997 e 2006. Ainda assim, só nesta temporada jogaram pela primeira vez na equipa principal. Sobram André Gomes - o único não estreante - e Ivan Cavaleiro, que actuou 294 minutos. Os sete jogadores representaram 1496 minutos e são apenas a quinta melhor do Benfica no período estudado, atrás de 2004/05 (6631), 2003/04 (4854), 2008/09 (3836) e 2002/03 (2809).
Apostas fortes Estrear jogadores da formação é fácil, o mais difícil é haver uma aposta forte e recorrente nos jovens. É nesse capítulo que entra a importância dos minutos dados aos estreantes. Neste ângulo, André Santos (2247 pelo Sporting em 2010/11), João Pereira (1469 pelo Benfica em 2003/04) e Josué (1226 pelo FC Porto em 2013/14) surgem como os exemplos máximos em cada clube, embora em contextos diferentes, já que o exemplo encarnado foi o único a saltar directamente - André Santos esteve emprestado à U. Leiria uma época e Josué só se estreou depois de ter sido contratado ao P. Ferreira. Se se contabilizarem apenas as entradas directas, o melhor exemplo do FC Porto é Ivanildo, com 201 minutos em 2004/05. Em Alvalade, é Miguel Garcia, com 2025 minutos em 2003/04.
Nas doze temporadas, o Sporting foi a equipa que mais jogadores estreou - 34 -, que representaram uma utilização total na primeira época de 20473 minutos (média de 602). O Benfica surge a seguir com 22 jogadores que fizeram 7457 minutos (média de 338,9), enquanto o FC Porto estreou apenas vinte elementos que actuaram 3150 minutos (média de 157,5).
Tendências A aposta na formação não pode ser vista nunca como um sinónimo de títulos ou ausência deles. Exceptuando 2002/03, em que o FC Porto apareceu na frente, o Sporting foi sempre o clube com mais minutos feitos por jogadores da formação no campeonato. Mas nunca foi além do segundo lugar (2006, 2007, 2008, 2009 e 2014). Em sentido contrário, por exemplo, em 2011/12, Vítor Pereira deu apenas oito minutos à formação (Kadu) e os dragões venceram o campeonato. Essa temporada foi igualmente aquela em que a formação foi mais desprezada pelos três grandes: além dos oito minutos do FC Porto, o Benfica contribuiu com 705 e o Sporting registou o pior resultado das últimas dez temporadas com 5597 minutos, que representaram 18,8% do total.
O Benfica é talvez o melhor exemplo para demonstrar que os resultados podem variar independentemente da aposta na formação, já que conquistaram o título na época em que mais minutos deram a jogadores da formação (2004/05 com 6631) e fizeram-no também na que menos oportunidades deram (102 minutos em 2009/10).
As percentagens são o melhor critério para perceber de que forma Sporting, Benfica e FC Porto têm vindo a apostar em jogadores da formação desde 2002. O Sporting andou entre os 50,1% da última época e os 14,5% de 2002/03 e regista a tendência global mais elevada. Nas doze temporadas desde a inauguração da academia, 32,6% dos minutos dos jogadores do Sporting foram jogados por elementos oriundos da formação.
Os números são muito mais elevados que os do FC Porto (11,3%) e Benfica (6,4%). Numa análise absoluta, os 121537 minutos da formação leonina representam quase o dobro dos 23863 do Benfica e dos 42074 do FC Porto juntos. Em títulos, nove para os dragões e três para as águias.
Infografia sobre total de jogadores da formação nos três grandes, percentagem de tempo jogado no campeonato e títulos
http://www.ionline.pt/artigos/desporto/sporting-heranca-forte-da-formacao/pag/-1
Excelente artigo. Sóbrio, abrangente e racional, vincando bem aquilo que todos sabemos.
Somos, desde à muitos anos, a referência nacional no que diz respeito à formação.
Esta peça deveria ser partilhada com todos os energúmenos que alvitram o contrário. Principalmente aqueles que fazem da comunicação a sua profissão.
Sporting deixou de apostar na formação, esse artigo é uma mentira… :whistle: :whistle:
Excelente artigo. :mais:
Este artigo só mostra a Grandeza da nossa formação. :mais: :mais:
Grande artigo! :great: