Melhor do que o número do valor do passivo, o número dos golos do Liedson ou o número de jogos consecutivos feito pelo Moutinho, há um número que todo o Sportinguista sabe de cor desde há uns anos a esta parte: o setenta e cinco (75).
[ul][li]Foram cerca de 75% os votos obtidos por Soares Franco nas últimas eleições.[/li]
[li]É de 75%+1 a percentagem de votos necessária para alterar os estatutos.[/li]
[li]É de aproximadamente 75%, a percentagem de sócios que não têm as quotas em dia.[/li][/ul]
Que diabo…havendo cem valores diferentes que poderiam ser obtidos em cada um daqueles 3 aspectos, como é que o mesmo número aparece em todos? Será mera coincidência ou haverá algum fenómeno comum às três realidades, que as ligue entre si e explique a convergência de tal valor?
Deixarei para vós a resposta a esta pergunta e as devidas extrapolações para aquilo que nos interessa – o Sporting – após vos dar a conhecer o trabalho de Solomon Asch. Este senhor foi um Professor de Psicologia que viveu durante o século XX e que fez investigação no campo da Psicologia Social, o ramo da Psicologia que estuda o comportamento humano em contextos sociais. Os seus estudos mais famosos foram realizados nos anos 50 e ficaram conhecidos como os “Estudos do Conformismo”, sendo a experiência mais paradigmática a que se relata a seguir:
O Paradigma de Asch
1 – Inseria-se o indivíduo “cobaia” num grupo de 5-7 pessoas. Todas essas pessoas eram colaboradoras do investigador, mas o indivíduo não sabia e tomava-as como sendo cobaias tal como ele.
2 – Mostravam-se a esse grupo de pessoas pares de cartões em que o primeiro tinha uma linha desenhada, e o segundo tinha 3 linhas desenhadas mas de comprimentos diferentes:
Então pedia-se às pessoas, uma de cada vez, que dissessem em voz alta qual era a linha (a, b, c) do segundo cartão, que tinha o mesmo comprimento da linha do primeiro cartão, sendo que o indivíduo cobaia era o último ou penúltimo a ser questionado.
3 – Às pessoas que estavam a colaborar com o investigador, era pedido (sem a cobaia saber, claro) que durante as primeiras séries, dessem respostas sinceras e que a partir da terceira ou quarta série de cartões, começassem a dar uma resposta propositadamente errada, que devia ser imitada pelos colaboradores seguintes.
4 – O objectivo da experiência era então ver até que ponto é que as respostas do grupo influenciavam a resposta da cobaia. Será que a cobaia se mantinha fiel ao que via e dava a resposta certa, ou será que, vendo todos os outros participantes a dar a mesma resposta, respondia contra o seu julgamento e dava uma resposta errada? Por outras palavras, será que a influência do grupo é suficiente para um indivíduo se conformar com uma coisa que está claramente errada?
5 – Após se fazer esta experiência com 123 cobaias, verificou-se que de facto, uma parte dos indivíduos testados se conformava com a resposta do grupo e dava a mesma resposta que os restantes, mesmo quando esta era errada. E agora é que vem a parte gira: a percentagem de indivíduos que se conformava pelo menos uma vez era nem mais nem menos do que…75%.
Pois é: 75% das pessoas conformam-se com o julgamento da maioria. Julgam e decidem contra a sua própria percepção das coisas e deixam-se influenciar pelo julgamento dos outros mesmo quando esse julgamento é objectivamente errado. Apenas 25% das pessoas nunca se conformam, se mantêm fiéis à sua percepção e confiam no seu próprio julgamento mesmo que a maioria se manifeste de forma contrária.
Há coisas fantásticas não há?