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Escrevo este post na sequência da abertura da estação de metro do Aeroporto, em Lisboa, que foi decorada com caricaturas de várias personalidades portuguesas, entre as quais figura o Eusébio. Pensei escrevê-lo no tópico «Lampionices», mas acabei por postá-lo aqui porque a mim, pessoalmente, a existência desse tópico não me agrada por aí além e também porque acho que este é um tema que vai para lá das simples picardias entre rivais. (Se a moderação for de outra opinião, sintam-se à vontade para o mover ou apagar.)
Falando do assunto em questão, acho que a decisão de incluir o Eusébio no lote de figuras representadas não foi a mais feliz - ou pelo menos não da forma como foi feita. É verdade que este jogador marcou uma era no desporto nacional, que foi durante muito tempo o futebolista português mais conceituado e que colocou o futebol deste país nas bocas do mundo. Mas não pode, na minha opinião, ser considerado o representante do país futebolístico - nem sequer da cidade, aliás. Desde logo porque, mais do que de Portugal, é uma figura indissociável do Benfica (como é indirectamente assumido pelo autor dos desenhos, o caricaturista António, que fez questão de representá-lo com a camisola do clube…) e porque felizmente existiu um outro jogador, Fernando Peyroteo, que, por sinal, também jogou num grande clube de Lisboa, foi o expoente máximo do futebol português durante muito tempo e pulverizou todos os recordes tanto do Eusébio como de qualquer outro jogador nacional e internacional, mantendo-se ainda hoje como o jogador com maior média de golos da História do futebol (!). - (http://pt.wikipedia.org/wiki/Anexo:Ranking_dos_maiores_artilheiros_de_futebol)
Isto não quer dizer que o Eusébio não mereça destaque. Claro que o merece, porque foi um excelente jogador e, até ao aparecimento do Figo e do Ronaldo, foi o jogador português mais conhecido lá fora (sem dúvida que por mérito próprio, mas também muito por culpa da imprensa e até do Sporting, que nunca deram o protagonismo devido aos Cinco Violinos e em particular ao Peyroteo…). Mas, devendo as caricaturas presentes nas paredes do Aeroporto de Lisboa representar todo o país, creio que devia ter sido seguida uma destas opções:
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ou se fazia representar o Eusébio e o Peyroteo, as duas figuras mais emblemáticas do futebol da capital e dos clubes mais reprsentativos da cidade;
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ou se omitia tanto o Eusébio como qualquer outro jogador, o que poderia ser considerado injusto mas que tratava por igual todos os portugueses, não deixando de fora uma lagra fatia daqueles que por várias razões não se revêem no Eusébio ou que se identificam mais com outro futebolista
O futebol é um tema que desperta paixões e provoca um grande interesse nas pessoas. Toca-nos acima de tudo não na razão, mas na emoção. É por isso que devia ter havido um maior cuidado na hora de deixar o Sporting de fora - sim, é verdade que o Carlos Lopes também está representado, mas é uma figura muito menos conhecida do público em geral e, apesar de ainda não ter visto essa caricatura, não acredito que envergue uma camisola do Sporting, tal como a caricatura do Eusébio veste a do Benfica…). Da mesma forma, tanto quanto sei também não foram representadas figuras políticas de relevo - precisamente porque a política também mexe muito com o nosso interior e a inclusão de um Mário Soares, de um Sá Carneiro ou de um Álvaro Cunhal iria sempre ser problemática porque nem todos se sentiriam representados.
Com o futebol passa-se o mesmo e, se no período Estado Novo o Eusébio era um dos sustentáculos socio-culturais do regime (juntamente com a Amália, também representada nas paredes da estação), actualmente penso que os portugueses se possam reservar ao direito de não idolatrar o Eusébio, de não o considerar o melhor jogador português de sempre (estatuto que, de resto, na minha opinião partilha com o Peyroteo, o Figo e o Ronaldo, com alguma vantagem para este último), de não se sentirem representados por ele ou até de o desprezar, uma vez que o seu respeito pelo Sporting também nunca foi uma realidade. (para os mais esquecidos: http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/notici…-diz-que-sporting-era-clube-dos-racistas, e a resposta de um ex-colega: http://expresso.sapo.pt/antigo-jogador-desmente-eusebio=f691384). Convém que os lisboetas e os portugueses não sucumbam a esta tentativa de pensamento único que nos querem impor (neste caso falo do panorama futebolístico, mas pode ser adaptado a outras áreas) e que mostrem desagrado pelo facto de uma instituição que tanto deu à cidade e ao país como o Sporting ter sido esquecida nesta obra - e, a meu ver, mesmo desrespeitada.
Como sportinguista e português que pensa pela sua própria cabeça, fico desagradado com este culto ao Eusébio - que foi, como já disse, um extraordinário jogador, mas não o único. Da mesma forma que fico revoltado com o desprezo com que o Sporting foi mais uma vez tratado. Esta vontade sôfrega de nos imporem um pensamento único sobre este tema serve, na minha opinião, para legitimar a propaganda gratuita ao Benfica - neste caso num espaço que irá ser frequentado pela grande maioria de estrangeiros que visitam o nosso país - e, também, como uma última e desesperada tentativa de «vender» a imagem do Eusébio como melhor jogador português de sempre, numa altura em que esse estatuto parece já não lhe pertencer. Ora, servindo esta estação de metro a capital do país, sendo ela das primeiras coisas que os estrangeiros vêem e tendo sido construída com o nosso dinheiro, julgo que temos o direito de ver o nosso clube e um dos nossos maiores símbolos - Fernando Peyroteo - serem recordados por todos os portugueses que por ali passarem, e admirados pelos estrangeiros que cheguem ao nosso país.