As eleições de 1958 também pareciam estar a favor de Humberto Delgado e este acabou derrotado contra quase 80% de votos no eterno Padrinho, como lhe chama afectuosamente a Ruth Malosso.
Portugal não mudou, estamos em 2017 e ainda agora esses corruptos ganharam mais um campeonato como todos sabemos. Vivemos no mesmo país labrego de 2016, 2015, 2014, 1963, 1962, 1961… A única diferença é que agora é tudo mais sofisticado e temos mais pão e circo.
Com VAR ou sem VAR as pessoas continuam a ser as mesmas e o lampionismo está enraizado nesta sociedade mal-formada e corrupta como a Ndrangheta na Calábria, a Camorra em Nápoles ou a Cosa Nostra na Sicília.
Os lampiões só param de subverter o sistema quando são apertados a sério e só quem conseguiu isso, através de um esquema bem montado na única cidade capaz de competir com a capital, foi o Porto. E isto também só foi possível num período, pós-25 de Abril, em que o dinheiro se deslocou para Norte perante a instabilidade que se vivia a Sul.
LFV e o seu Círculo (estamos a falar de uma máfia a sério, não apenas de crime desportivo), recuperaram todo o poder de subversão vermelho de um Estado Novo pós-1958 que nunca deixou de existir, um sistema auto-gerido de viciação orgânica e velada onde ganhava e ganha sempre o Clube do Regime. Desde políticos, magistrados e jornalistas a todo o tipo de dirigentes passando por toda essa praga de chefias intermédias que infestam as instituições e acabando em toda uma legião vermelha de portugueses mal-formados que compõem o grosso da população mais fiel ao ideal subversivo lampiónico que à própria nação. Essa é a verdadeira Estrutura que estava apenas adormecida.
O Clube do Regime pode dar-se ao luxo de perder 5 pontos ou até 5 campeonatos para depois recuperarem 20 pontos ou 20 campeonatos. Basta um fora-de-jogo decisivo no José Alvalade ao mesmo tempo que se assinala um penalty crucial em Carnide, a vantagem esfuma-se em segundos. Ou podem até oferecer-nos um título para de seguida nos brindarem com mais um treta-campeonato. Um ano refractário para fazerem umas afinações no sistema e nos calarem durante uns tempos, como aconteceu entre 1958 e 1978, em que a Batota Instituída ganhou 15 campeonatos e ao Sporting calharam 4 migalhas criteriosamente intercaladas.
Enquanto Portugal for o que é, competir numa modalidade desportiva nacional em que o Clube do Regime esteja envolvido é como acharmos que podemos montar uma estratégia duradoura para bater a casa num jogo de casino. Todos sabemos de que cor têm sido, são e continuarão a ser a federação, a liga, os árbitros e toda a gente sinistra que move o futebol português e que gravita em torno dele desde as cúpulas do poder ao mais reles jardineiro que liga a rega no final de um jogo. Com cartilha ou sem cartilha, eles não precisam de receber ordens para subverter porque têm uma mentalidade colectiva que preenche a ausência de consciência individual elevada e que os obceca com o propósito único do poder total e hegemonia a qualquer custo, tradicionalmente a custo da integridade moral e consequente lealdade desportiva.
Desengane-se quem acha que algo está a mudar. Cada vez que as nossas equipas entram em campo estão sempre em território hostil. Até podemos estar a ganhar algumas batalhas mas esta é uma guerra que nunca teve nem tem fim à vista e não poderá haver um único momento de tréguas.