Lion73, por pontos:
O posicionamento:
Há dois problemas em ter extremos a jogar por fora: o primeiro é o de que o lateral é obrigado a atacar espaços interiores, ao invés de poder explorar os espaços na linha de fundo (que não estão assim vazios); o segundo é que acaba por ser uma tentativa de criar superioridade numérica em zonas pouco perigosas (zonas laterais), com a presença do extremo e lateral ali. O que por norma acontece é o médio ter de ir buscar a bola a esse espaço. O que não faz sentido algum (devia trabalhar para receber em zonas centrais, e não estar obrigado a ir buscar a bola no pé junto á linha lateral).
A contenção:
Há dois momentos nos jogos com Sá Pinto: o primeiro engloba os jogos com o Legia, fora, e o Paços de Ferreira, em casa, e depois a partida com o Légia em casa, e este jogo com o Setúbal. Sabes o que é que os separou? Os assobios da bancada… Nos primeiros, o Sá Pinto, a nível de posicionamentos, tentou colocar a equipa a atacar de forma apoiada e curta desde trás, progredindo colectivamente. Mais recentemente, subiu os médios, abriu os extremos (para não chocarem com os médios, agora mais subidos) e voltamos a ter os problemas de construção que tínhamos com DP.
Seria a primeira estratégia mais arriscada que esta mais recente, com os médios mais subidos? Curiosamente, talvez fosse. A equipa poderia ter perdas de bola em zonas recuadas, sendo que agora dificilmente as têm. Ou seja, baixar os jogadores mais ofensivos não foi estratégia de contenção (caso contrário, as grandes equipas nacionais e internacionais seriam de contenção, porque jogam com os jogadores juntos/próximos e jogam apoiado desde trás).
O problema é que houve um conjunto de atrasados mentais, que por certo sportinguistas não devem ser, que, na primeira semana de trabalho do treinador, e três dias depois de um jogo tremendamente desgastante (física e emocionalmente) na Polónia, além da equipa ter os jogadores nas zonas certas, além de exigirem que a equipa já não se sentisse desconfortável tendo a bola e que tivesse as suas peças nas zonas certas, exigiam também que houvesse fluidez, velocidade e dinâmicas bem oleadas! Numa combinação fantástica que nunca tínhamos visto este ano, mas que se exigia ao Sá Pinto na primeira semana…
O Ricardo Sá Pinto foi contratado para pôr em prática, na equipa sénior, as fantásticas ideias e dinâmicas de jogo que incutiu nos miúdos de 17 e 18 anos dos Juniores. O Domingos Paciência foi despedido por ter posto em prática ideias perfeitamente opostas, a nível de posicionamento dos jogadores (sobretudo) e de movimentos ofensivos. Posto isto, o que é que é mais arriscado: apostar nas ideias que o levaram onde está, ou nas ideias que levaram o DP ao desemprego? E quem é que já pôs em causa as boas ideias que ele estava a tentar implementar? Foi a estrutura nos gabinetes ou os assobiadores no estádio?
Quanto ao gosto pelo risco, conheço e sei o que queres dizer com isso. Ainda assim, foi pela forma como pôs a equipa de júniores a jogar - uma equipa que gostava de gerir a bola com critério, que gostava de combinações curtas, cujos principais movimentos não eram as iniciativas individuais dos seus jogadores e que controlava os jogos do início ao fim -, que foi contratado para o lugar. E foram essas ideias que levaram, por exemplo, o AVB a dizimar adversários no FCP. Faz sentido apostar no contrário?
Em relação ás oportunidades de golo, é uma coisa interessante que vem sendo muito discutida. Aparentemente, o SCP não criar oportunidades é péssimo. Eu acho que depende. O que vi no jogo fora contra o Légia, e no jogo em casa contra o Paços, deu-me confiança para o futuro. A equipa revelava-se pouco dinâmica, o que era natural, mas as alterações (que foram tremendas) garantiam-me boas ideias para um futuro com sucesso (e, sim, com oportunidades de golo). Como começámos a jogar depois dos assobios, é que não temos nem Presente nem Futuro.
A estrutura:
Primeiro, gostava de perceber o que é que o Domingos teve de fazer, no Clube, que o distraiu das suas principais competências, face aos rivais, claro. Como acho que não foi ele que fez os comunicados, como acho que não andou em discussões com os patrocinadores, como acho que não andou a planear a Gamebox e como acho que não andou pelas reuniões com candidatos da Liga e da Federação, a única coisa que lhe vi fazer, fora das suas competências de treinador, foi ter de criticar o árbitro e defender-se de críticas a si dirigidas.
Bom, se é pelo último aspecto, um profissional que seja incapaz de conviver com as críticas (qual o treinador, director ou jogador que nunca se viu atacado - e no caso de Domingos até era com alguma razão…-), não me interessa nem para lavar o chão. E se os problemas foram as arbitragens… é ver o que têm sido as acções dos treinadores adversários, nas últimas semanas, quanto a este aspecto.
Para mim, o problema nas críticas e nos elogios á estrutura é que raramente são apontados aspectos objectivos. Daí falar mais de futebol em si - porque eu tento-me centrar em posicionamentos, movimentos… coisas específicas que consigo avaliar.
Em termos de críticas e elogios objectivos, vejamos por exemplo o caso do Porto, que ganhou pela estrutura. É um chavão que se diz há séculos, acontença o que acontecer. Ainda assim, que matéria prima foi dada ao Vítor Pereira na posição de defesa-lateral direito para atacar o título? E na de avançado-centro? E os recados entre jogadores e treinador via Twitter? E os problemas entre ele e o CR que apareceram na imprensa? Quantos titulares da equipa-base só chegaram em Janeiro?
Em relação ao Jardim, a estrutura foi tão positivamente impactante no seu trabalho que o obrigou a jogar com o Quim, o Baiano, o Douglão, o Ewerton e o Elderson. Quantos destes jogadores têm qualidade? Quantos vinham do ano anterior? Qual foi o substituto do Baiano quando ele se lesionou? E quem é o substituto do Elderson? Quais foram os resultados de Domingos Paciência no Campeonato no ano anterior? Ter feito menos de 50 pontos com muito melhores jogadores foi mérito ou culpa da estrutura?
Para mim, a matéria-prima dada, a nível de jogadores, é o aspecto mais importante no trabalho da estrutura de futebol. Depois, há aspectos específicos que devem também ser tidos em conta. Agora, por favor, tendo em conta que vimos problemas a serem dados a conhecer na imprensa 2 minutos depois de acontecerem, que vimos plantéis com pouca qualidade e sem valor de mercado algum, que vimos presidentes de férias no Brasil… foi pela estrutura que esta época está a correr mal? Em que aspectos específicos?
Foi o discurso dos dirigentes e a falta de ambição (aparentemente, pela demissão feita, era superior á do treinador…) que fez com que estejamos neste momento a 11 pontos dos dirigentes ambiciosos e conquistadores da Liga Portuguesa, do SCB? E dos do Marítimo? E qual discurso, o discurso interno ou o discurso para fora?
E vendo um exemplo contrastante, vês o Rui Vitória, que está a 6 pontos do SCP, queixar-se por neste momento não ter direcção, queixar-se por ter entrado no decorrer da temporada, queixar-se por não ter escolhido os jogadores, queixar-se por ter adeptos a invadir o treino…? Isto é que são condições para trabalhar, dadas pela estrutura, que permitem ao treinador cumprir os objectivos do Clube?
Alvalade, nos últimos 15 anos, não tem sido muito mais fogueira de treinadores e jogadores que outros locais. É uma questão de fazer as contas. O problema é que, por norma, tem sido uma fogueira de maus treinadores e de maus jogadores (salvo os da formação, que ás vezes até são levados pela corrente).
Quanto ao ser um dejá vu, não sei de quando. Eu, de forma racional, não tinha expectativas algumas que tivéssemos sucesso desportivo e financeiro no ano transacto, no futebol profissional. Porque o plantel não tinha qualidade. Porque o plantel não tinha valor de mercado (média de idades…). Porque qualquer problema saía cá para fora e andava-se a falar em clics de sorte para dar a volta á situação. E porque, mesmo atendendo ás atenuantes, o PSérgio não era o treinador indicado.
Para mim, são duas temporadas muito diferentes, sim, no trabalho da estrutura. Na matéria-prima que deram á equipa técnica e na forma como fizeram os sportinguistas acreditar na equipa (não é deja vu, o ano passado não se viu nada próximo neste aspecto). Se quisermos acreditar que é por acaso, é uma opção. Se percebermos que o PB e o CC há anos teriam como jogador de qualidade máxima do plantel um André Martins (que é muito bom, mas que não tem sido aposta), e que andavam a ver o presidente de férias no Brasil e os assuntos do balneários relatados na imprensa no dia seguinte…
O que eu quero é que o Ricardo Sá Pinto implemente as ideias que incutiu na equipa de juniores. Mesmo que, nos primeiros tempos, a equipa revele dificuldades em adaptar-se a um nova realidade. Será arriscado? Talvez (pode levar com os assobiadores outra vez…). Mas é mais arriscado apostar em tudo o que, com Domingos, não resultou. Porque se não resultou, não foi por acaso.
E por aqui me fico, porque este é o tópico do Ricardo Sá Pinto, e estou para aqui a discutir coisas passadas e presentes que, no meu entender, não estão directamente relacionadas com o que de mais importante tentei focar: o fundamental que é voltar a tentar incutir na equipa os princípios que vinha tentando incutir mal chegou, e que infelizmente abandonou (por culpa da estrutura, que os pôs em causa, por certo).