Recebi ontem um simpático e-mail a informar-me que o meu novo número sócio tinha sido alterado no âmbito da renumeração que os estatutos obrigam de cinco em cinco anos.
As reacções a esta renumeração têm sido curiosas. Alguns desconfiam que o procedimento foi arbitrário, para permitir camuflar uma quebra catastrófica no número de filiados. Outros suspiram de alívio, porque afinal, esse declínio é menor do que o antecipado.
Acho que ambas as reacções são deslocadas. Para já, porque sem se conhecer ao certo os critérios da renumeração, é difícil perceber se uma dada queda – por exemplo, de três mil entre os sócios que, como eu, têm pouco menos de 20 anos de filiação - é grande ou pequena. Por uma questão de transparência, esses critérios deveriam ser públicos – sejam eles quais forem.
Mas o mais importante é que estas reacções estão a confundir uma renumeração com um censo. Ora uma renumeração não é mais do que uma actualização de ficheiros de acordo com algumas regras de aplicação automática – como o falecimento ou a desvinculação do sócio.
Por isso, não podia concordar mais com quem diz que não se deve “riscar” dos ficheiros sócios que deixaram de pagar quotas. Um número de sócio é apenas um número num ficheiro. Mas tem um valor simbólico - e económico. Se um sportinguista está disposto a pagar vinte anos de quotas atrasadas para recuperar um número, porque é que o clube não o há-de permitir? O sócio fica feliz renovando o seu vínculo ao clube e o clube obtém uma receita inesperada. É uma situação em que todos ganham.
Mas se se está a atribuir à renumeração do ficheiro objectivos que não são os seus, a verdade é que há uma razão para isso: a crónica falta de transparência com que o clube é gerido.
A verdade é que continuamos não ter informações sobre o número total de sócios no ficheiro actualizado ou sobre a dimensão dos atrasos nos pagamentos de quotas. E não há nenhuma boa razão para que não sejam divulgadas.
Estas informações são importantes, pois permitem ter uma noção da força do clube – social e económica – e da sua evolução. As suas flutuações e estagnações deviam ser objecto de acompanhamento e reflexão cuidadas, não apenas pela direcção como por todos os associados e por quem se preocupa com o Sporting Clube de Portugal. Saber quantos sócios o clube tem, quantos destes têm as quotas em dia e qual a dimensão dos atrasos no pagamentos das quotas, permite detectar tendências e problemas, elaborar planos de acção, estabelecer metas realistas de crescimento no número de associados e avaliar a eficácia das medidas nesta área.
Por isso, sugiro que seja publicada anualmente, ao mesmo tempo que os relatórios e contas, um documento onde se apresente não só o número total de sócios que constam no ficheiro a 31 de Dezembro (ou noutra data convencional qualquer) mas também a análise das situações de quotização à data da elaboração do relatório. Não é preciso muito. Um simples análise da sua distribuição por categorias – por exemplo: actualizadas, com menos de dois anos de atraso, entre dois e cinco e mais de cinco – é fácil de fazer. Mas a sua divulgação seria um passo de gigante no promover da transparência e na confiança – interna e externa – na governação do clube.