Já dei conta dos factos mais relevantes da edição do Jornal do Sporting de 3/08/88 no tópico que criei para a pré-temporada relativa a essa época. No entanto, a verdadeira pérola desse jornal é uma entrevista com o Violino Manuel Vasques. Como se trata de um dos mais ilustres Leões de sempre, merece a criação de um tópico à parte. Passo a transcrever as passagens que me parecem mais significativas:
"Sou um homem que amou o futebol, que ama o Sporting, tanto como aprendeu a amar a Vida! Quando entrava em campo, com a gloriosa camisola do Sporting, o meu pensamento era apenas este, aparentemente singelo e prosaico: o futebol é para ganhar!
(…) O meu sonho de jogar no Sporting vinha desde a infância. E era natural que assim fosse pois o meu tio, o Soeiro, fora, ele mesmo, um dos grandes jogadores «leoninos» dos anos 30/40. O Sporting estava assim, desde os verdes anos da minha infância, atravessado no meu futuro. (…) Vim ao mesmo tempo que o Travassos. E já encontrámos cá o Jesus Correia, o Peyroteu e o Albano. Se a memória não me falha vim para o Sporting (e vim para toda a minha vida de futebolista), a troco de dezasseis contos de reis e de um ordenado mensal de 600$00! Para a época pode considerar-se «dinheiro grande». Mas, dinheiro, que nada tem a ver com o que se movimenta hoje entre jogadores do nível que eu julgo ter alcançado.
(…) Poucas equipas nos resistiram, quando os Cinco Violinos estavam no apogeu. Lastimável, para nós, pode dizer-se que, no plano internacional, foi a não existência de provas da UEFA. (…) A equipa de futebol do Sporting era, no meu tempo, uma equipa de ataque, rápida, acutilante, agressiva, sempre com a baliza contrária como alvo, como mira, como objectivo primeiro e último. Bem sei que não existiam os ultra-sofisticados sistemas defensivos que tanto descaracterizam o futebol, roubando-lhe a sua beleza natural: o golo. E golos era o que a gente marcava para todos os gostos e paladares. (…) Confesso até que era um doidinho pelos golos. Acertar no alvo dava-me um prazer indescritível. Recordo-me, mesmo, que na época de 1951-52 fui o melhor marcador do Campeonato nacional, com 29 golos, em pouco mais de vinte jogos. Só que, por esses tempos não existiam nem títulos nem galardões para o «rei dos marcadores». Fui um «Bola de prata»… platónico!
(…) O Sporting fez sempre parte da minha vida, do sonho comum de centenas de milhar de portugueses espalhados do Minho ao Algarve, da Europa à África, às Américas, à Ásia, à Oceânia… Um Sporting universalista, grande entre os maiores! É assim que eu sempre vi e vivi o Sporting, independentemente do maior ou menor brilho das suas equipas de futebol, que, nos últimos anos, até andaram muito aquém do que seria desejável! (…) Deixei o futebol em 1959, com um ordenado de 1600$00 mensais, além de uns «prémios de jogo» (tabelados nos cem escudos). Fui internacional 31 vezes.
(…) Já é tempo de o Sporting reconquistar a hegemonia do futebol português! Oxalá os sportinguistas recuperem as alegrias da vitória.”