Então vejamos.
Segundo declarações recentes de Bettencourt, este seu 1º ano de mandato “serviu para se aperceber de algumas fragilidades no seio do clube”, que pelos vistos lhe passaram ao lado durante todos os anos que lá esteve como administrador da SAD e como vice-presidente do Conselho Directivo. Como a equipa técnica e directiva em que apostou se desfez em meio ano, foi obrigado a contratar um novo treinador e depois outro, assim como a nomear um novo director para o futebol. Pelo meio ainda houve oportunidade para se fazer a dança das cadeiras com Pedro Afra e Salema Garção em cargos reais e imaginários, numa lógica de “rentabilizar o modelo transversal e optimizar o funcionamento da estrutura através da criação de sinergias”, o que, traduzido do tecnocratimbecilês para o português, significa: colocar os incompetentes a coçar os tomates. Não se ganhou nenhum título e ficou-se em 4º lugar, coisa que já não se via desde. Do passivo, a única coisa que se sabe é que é astronómico e deve estar maior do que no ano passado, porque além de o projecto financeiro ter sido novamente adiado, não houve receitas extraordinárias e houve despesas extraordinárias como a da compra do Pongolle.
Portanto, pode considerar-se que este ano foi o ano zero e sendo assim, supõe-se que agora é que as coisas vão começar a sério e para o ano é que vai ser. Vamos ver então como é que vai ser. Num rasgo de extraordinária teimosia, Bettencourt quis mostrar que Paulo Bento era mesmo forever e vai daí contratou para treinador o Paulo Sérgio Bento Brito (deve ter sido esta a razão para a sua contratação, porque pela experiência, currículo e garantias que dá, não foi de certeza). Na baliza continuará Rui Patrício porque, não havendo outro e tendo este defendido um penalty no jogo de estreia e feito uma manchete do Rascord abraçado à Nossa Senhora de Fátima, fará esquecer o Vítor Damas. Nas laterais, Grimi, Pedro Silva, Abel, Caneira, Pereirinha e João Peneira fazem um-do-li-tá: quem ganha é titular; quem perde fica no banco ou joga do lado contrário. As opções para o centro da defesa estão reduzidas a Caneira (que já ninguém percebe o que está a fazer na equipa), Polga (que vai do 8 ao 80), Carriço (que ainda tem muito para aprender), Mexer (que ainda nem calçou) e Tonel. Está assim o centro da defesa, mas só se fala de reforços para o meio-campo, nomeadamente de Hugo Viana e Maniche, certamente para a equipa ter alguém a fazer o corredor lateral em velocidade de cruzeiro durante os 90 minutos. Por outro lado sairá Vukcevic, enquanto Izmailov ou sai e é vendido a preço de saldo depois das recentes rábulas, ou fica e não tem confiança na equipa médica. No ataque, Liedson já tem 32 anos e não caminha para novo mas em contrapartida contar-se-á com Pongolle, que para justificar cada um dos 6 milhões de euros que custou, começou por marcar um golo na própria baliza. Para trás ficaram Caicedo (que cedo caiu no banco de suplentes), Angulo (insuficiente porque o losango é uma figura geométrica que precisa de 4 Angulos) e Mexer (cujo destino mais provável é pôr-se a mexer dali para fora), dos quais só se aproveitará o que as suas contratações revelam da competência da gestão de Bettencourt no que diz respeito à avaliação de jogadores e à movimentação no mercado. Da escola de formação mais prestigiada do Mundo só restará uma vaidade oca e a reputação feita por jogadores que já não jogam no clube, enquanto nos que cá vão ficando a tendência global é para desvalorizar, quer por via das prestações medíocres da equipa, quer por via de se escolherem para treinadores, Bentos e Carvalhais que manifestamente não sabem rentabilizar o seu potencial: Carriço só desaprende com Polga; Pereirinha está numa lista de trocas com o Braga; Adrien é abafado pelo excesso de médios-centro na equipa; Veloso alterna épocas boas com épocas medíocres; Moutinho entrega-se ao papel de tapa-buracos no meio-campo e recebe como recompensa a não-convocação para o Mundial (um belo exemplo para as gerações vindouras); Djaló já só é uma referência para os fãs da Luciana Abreu, que esperam que ele marque um golo para o realizador focar os implantes da rapariga no camarote. As vendas das Gameboxes continuarão a descer, seguindo a tendência dos últimos 5 anos, desta vez agravada por a equipa vir de uma época em que nada conquistou, em que ficou em 4º lugar no Campeonato e em que o presidente andou a gozar com os sócios. As épicas campanhas europeias e os profícuos protocolos de cooperação com clubes belgas e angolanos continuarão a dar à marca Sporting uma projecção mundial só equiparável à dos Granitos Pimentel e do Bacalhau Pascoal.
Se acrescentarmos a tudo o que foi referido, o facto de neste Sporting nunca se conseguir nada no quadro temporal de uma época porque é sempre preciso mais um bocadinho de estabilidade ou continuidade e porque falta sempre mais um ajustezinho, mais um bocadinho de treino ou mais um bocadinho de sorte, então a expectativa para 2010/2011 só poderá ser uma: a de que a época (em que não se vai ganhar nada e só se vai afundar mais o espírito e as contas do clube) sirva para a constituição de uma alternativa que desperte e una os sócios na vontade de convocar eleições antecipadas para renovar a quase totalidade dos órgãos sociais e a mentalidade vigente.
Enquanto essa renovação não for feita, continuará tudo na mesma: o fóculporto continuará a ser liderado pelo Pinto da Costa e o Sporting continuará a ser liderado por um Puto da Costa. Os benfiquistas entrarão em êxtase com os golos do Gaitan e os sportinguistas entrarão em êxtase a tocar à gaita.