Parece-me que a privatização dos ctt tem mais a ver com a necessidade de salvar as mãos (ao país) vendendo, para o efeito, os anéis.
O objectivo principal tem a ver com a redução do endividamento público, para onde tem legalmente de ser canalizado as receitas das privatizações.
Também não vejo qualquer problema nisso, a seriedade da empresa manter-se-á, na função que desempenha (distribuição de correspondência/documentos), como a PT privatizada manteve a seriedade nas telecomunicações. Depois se não o fizer há sempre a possibilidade de aparecerem concorrentes no mercado que substituam, total ou parcialmente, uma eventual empresa menos séria.
Eu, por convicção, até vou mais longe, com a privatização a empresa abrirá horizontes, até possivelmente externos, para que possa crescer e assim gerar mais riqueza e impostos para o país. Aconteceu com a PT e EDP que cresceram exponencialmente no Brasil e África. Antes, enquanto emp. públicas estavam limitadas por mera inação ao mercado interno.
andar a oferecer monopólios, que dão milhões de euros de lucro, aos amigos é perfeitamente razoável! é para salvar o país, como já antes aconteceu com a venda da REN, EDP e afins. Quando a seguir mudarem sede fiscal para uma Holanda lá acenam com a cabeça e dizem dizem que “é o mercado” e que a culpa é do Estado gordo.
Isso não é o princípio da igualdade coisa nenhuma.
Igualdade é todos os que descontaram para a segurança social ao longo da sua carreira contribuição terem direito a reforma, isso sim é igualdade. O Estado compromete-se a atribuir reforma a quem desconta para tal durante a carreira e tem em conta a dimensão desse desconto na hora de contabilizar a reforma, mas nada obriga o Estado a respeitar as exactas diferenças de proporção ou de valores absolutos entre os descontos feitos por diferentes indivíduos.
Da mesma forma, o Estado compromete-se a prestar um serviço gratuito de cuidados de saúde (excl. taxas moderadoras) a todos os contribuintes, descontem eles muito ou pouco para a parcela da saúde. Isso é igualdade. Se levássemos à letra o exemplo que referes, então quem desconta mais deveria ter direito a exames complementares de diagnóstico bem como tratamentos mais caros e/ou em maior frequência que quem desconta menos… o que é uma aberração da interpretação do conceito de igualdade.
A venda da PT foi feita em 1996. Ora, nessa altura, o sector das comunicações era de vital importância, falhando, deixava isolada várias áreas do País. Isto para fazer o paralelo da importância que tinha a PT para a população, com a importância que tem os CTT para com a população, hoje, quando se debate a sua venda. O Estado vendeu a PT mas manteve uma Golden Share, que servia para que o serviço público não deixa-se de ser prestado, posteriormente, por imposição da UE, tiveram que se desfazer da mesma.
Ora, hoje passa-se algo parecido com os CTT. O Estado ao invés de manter uma Golden Share (proibido pela UE), irá manter 30% do capital dos CTT privatizado, deverá ser suficiente para manter os interesses do Estado intactos, isto é, o serviço público. Assim, creio que os CTT irão sofrer um processo de inovação e modernização, a qualidade do serviço prestado irá melhorar significativamente.
Compreendo perfeitamente a questão em torno dos CTT, mas na altura da venda da PT as mesmas se colocaram e, hoje, vemos que o serviço público não deixou de ser prestado.
O Estado, vergonhosamente, fica com 30% dos CTT, não para vigiar ou outra porcaria qualquer que um político eloquente venderia a um cidadão cândido como sendo uma iniciativa útil e necessária, mas para empregar alguns fantoches políticos - boys - e para perpetuar aquela que é a relação depravada entre o Estado e as empresas que adquirem empresas ao sector empresarial do Estado, garantindo, simultaneamente, lucros e uma relação de proximidade - imoral - com o regulador (Estado). Pura corrupção! E nesta fonte de quase infinitos euros se acomodam empresas e bancos como a EDP, a Portugal Telecom, o Banco Espírito do Santo, entre outras empresas privadas.
Um Estado simultaneamente operador (em minoria) e regulador. Excelente!
Um verdadeiro ultraje aos pergaminhos básicos do liberalismo económico: privatizar monopólios, em vez de os quebrar primeiro para impedir que uma situação de monopólio se eternize (ou então fomentar a criação de uma empresa rival), ao mesmo tempo que o poder supremo, o Estado, se mantém no interior da empresa.
Não vivemos, nas esferas maiores da economia, numa economia de mercado, vivemos numa economia corporativista.
Pior do que uma privatização mal conduzida, só uma privatização à portuguesa.
Estou a ver que a Extrema Direita tem vindo a crescer na Europa. Austria, Grécia e França estão em casos alarmantes… Quando se dá quase 10% de preferência à Aurora Dourada numas eleições democráticas… :whistle:
Mais uma vez, Chown, tenho que discordar da comparação. Em 96 já existiam outros operadores de comunicações no mercado, que actuavam, embora em regime sem fios, como operadores de pleno direito. Os CTT não têm concorrentes - embora existam empresas de entregas mas que não disputam o grosso do mercado dos CTT -, nem existem no mercado operadores com reconhecida capacidade para prestar o mesmo tipo de serviço.
E convenhamos, a PT ainda hoje presta um seviço deficiente. É, de certeza, mais comum ficares sem comunicações do que se extraviar uma carta.
O JB tem razão, quando diz que a venda se faz para salvar os dedos. Ou seja, para encaixar algum e mascarar um pouco as contas do Estado.
Os 30% são uma palhaçada, pois, como diz o Chev, é uma forma de artilhar um compadrio entre entidades privadas e os “bois” para os tachos.
Muito honestamente, acho que o país vai perder com esta operação, a longo prazo.
errado - a segurança social e a saúde são um direito constitucional, e as taxas moderadores dependem dos rendimentos. Se me disserem que eu tenho que descontar mais sem daí ter benefícios, passo a esconder o salário (em empresas privadas, não custa nada). E o sistema vai à vida.
As reformas são maiores porque os descontos são maiores. E isso que dizes que quem ganha mais poupa mais só seria verdade se quem ganhasse mais não pagasse muito mais impostos, tivesses descontos muito maiores, e tivesse que pagar tudo o que é quase à borla para quem vive do rendimento mínimo (casa, escola dos filhos, etc etc). Na prática, por ex. uma creche chapa 1 custa 30 ou 40 euros para quem ganhar 500 euros e 300 euros para quem ganhar 1500. Se tiveres dois filhos, o rendimento disponível real já se aproxima, até porque quem ganha 1500 paga mais imposto, desconta mais, e não tem casa da câmara portanto tem que pagar renda a preço de mercado.
Volto a dizer: a URSS e os países do ex bloco de leste são a prova provada que isso de serem “todos iguais” não funciona.
O nosso bem amado Fuhrer não permitiria uma coisa dessas extrema direita em Portugal? Não!
Estão mais preocupados em serem presos por casas de alterne com incitação à imigração ilegal de “operadoras” brasileiras…
Daqui a nada estás a dizer que podem fazer julgamentos sumários a quem se manifeste ou insulte o presidente da República!
Taxas moderadoras são taxas moderadoras, não reflectem nem pouco mais ou menos o preço de um serviço de saúde.
Lamento, mas nao ha como escapar, as reformas reflectem as diferenças salariais ao longo da carreira por uma questão de mera justiça, nao de igualdade, porque igualdade é ser igual e duas reformas diferentes nao são nunca iguais.
E essa dos impostos nao cola… Por que nao mudas de emprego para um de 500€ por mês já que aparentemente é melhor que um de 1500? Ah pois… É porque receber 1500 ainda é melhor que receber 500, dês tu as voltas que deres. E depois essa ideia de que as pessoas têm que chegar à reforma para receber tudo o que descontaram independentemente dos limites do aceitável é que é verdadeiramente ultrapassada… Se fosse a URSS a pioneira nesses limites ainda te concedia alguma razão, mas neste caso estamos a falar de países do topo da OCDE.
Basta ler a primeira ou segunda página e vêm logo os “ceilings” a aparecer (7.1x e 7,5x o ordenado mínimo respectivamente)… e as constituições destes países também defendem a “igualdade”. Se calhar é porque são URSSs disfarçadas ou algo do género ::).
Em que medida é que as tranquibérnias e promiscuidades que referiste - entre Estado e interesses do capital - preconizam exemplo de modelo económico corporativista?
Em primeiro lugar, e na óptica totalitária que o define, o Estado Corporativo jamais aceitaria privatizar qualquer sector ecomómico. Pelo contrário, a sua definição “volátil”, chamemos-lhe assim, do conceito de propriedade privada legitima o Estado (enquanto corporizador da Nação politicamente organizada), a nacionalizar seja que empresa for em função dos interesses colectivos.
No Coporativismo, sobretudo quando nos referimos ao modelo italiano, o Estado não regula a economia e tão pouco se presta ao papelão de manter quinhões em negociatas envolvendo o seu sector empresarial - Ao Estado cabe, não só harmonizar as relações entre Capital e Trabalho no seio das Coprorações por si patrocinadas, como dirigir toda a política económica nacional, na medida em que as Corporações se encontram representadas no seio do poder legislativo.
Curiosamente a faceta interventora estatal é tão mais pronunciada (e também ambigua) quando damos como exemplo o Estado Novo português. O nosso Corprativismo, embora inicialmente inspirado na Carta del Lavoro italiana, nunca se cumpriu plenamente - bastará referir que a Câmara Corporativa era apenas um bibelot com funções consultivas/reguladoras.
Não obstante, e contrariando as alarvidades amiude proferidas pelos esquerdalhos de plantão, o Regime Salazarista nunca se constituiu como «ditadura capiltalista», defendendo sim uma iniciativa privada amplamente condicionada pelo Estado, o qual determinava níveis de salários e avaliava decisões de investimento.
Além de um sector empresarial público forte, com destaque para as energias e para os transportes, o Estado nunca pretendeu transformar-se em «empresário», mas não se coibiu em tempo algum de interferir na economia e traçar-lhe estratégias e metas.
Preconizam, na medida em que o funcionamento de um e do outro são interligados com o intuito de ambos recolherem benefícios que em condições normais não seriam alcançáveis. Os lucros da empresa A são estabelecidos e protegidos por um quadro económico formulado e articulado pela autoridade económica do Estado, que se faz representar ora como accionista minoritário, ora como regulador.
Deficiente ou não, o modelo económico do Estado Novo, através do condicionamento que o regime impunha sobre todos os agentes económicos, enriquecia uns à custa dos outros. As famílias poderosas de hoje são produtos, a maior parte delas, da Lei do Condicionamento Industrial; sim, é verdade que algumas delas existiam ainda antes do Estado Novo.
Efectivamente, poucas empresas no Estado Novo eram públicas, daí a vaga de nacionalizações decretada após o 25 de Abril. Efectivamente, por outro lado, a sua existência devia-se às benesses - controlos de preços, inexistência de greves (do lock-out também), volume de negócios assegurado, ausência de concorrência - propiciadas pelo quadro económico vigente. Ou seja, uma empresa privada não é privada só porque os seus accionistas são privados. Quando uma empresa deve a sua existência e a sua prosperidade - como todas as grandes empresas durante o Estado Novo - ao Estado, ela não é privada, por mais que uns rujam nesse sentido. E daí a referência ao corporativismo, para mim apropriada. Há de facto uma ligação entre o Estado e umas quantas empresas privadas. Esta relação nefasta seria corroída se uma parte não pudesse beneficiar da amizade da outra.
"O Estado, não só harmoniza as relações entre Capital e Trabalho no seio das Corporações por si patrocinadas, como dirige toda a política económica nacional, na medida em que as Corporações se encontram representadas no poder legislativo."
A teoria, como bem sabemos, caminha longe da prática. O Trabalho perdeu quase sempre - existem amplas provas de confrontos entre deputados da União Nacional - estes verdadeiros corporativistas - e as muitas empresas beneficiadas pelo regime (tudo o que culminou na criação da Siderurgia Nacional, por exemplo, explica-o). O Capital, em boa verdade, resumiu-se a uma dúzia de poderosos; portanto, não foi nunca uma exemplo interessante. Ainda por cima, escolhidos a dedo pelo regime. Mas não perdeu o Trabalho como muitos de hoje julgam - não houve uma cretinização imposta pelo regime. Mas aqui confrontam-se perspectivas ideológicas antagónicas. Não valerá a pena prosseguir quando os fins que ambos vislumbramos não são remotamente idênticos. Poderemos concordar aqui ou ali, mas eu, por exemplo, abomino a ideia de o Estado assumir uma posição paternalista perante a sociedade (mas aceito sem problemas os muitos defeitos da Democracia e da economia de mercado: não encaro a Democracia como um modelo espectacular, pelo contrário, por vezes acredito que a resolução de determinados problemas é dificultada por ela - subscrevo as muitas críticas escritas por Salazar a seguir ao 28 de Maio sobre o sistema partidário, político, etc), e aceito também que determinadas realidades não podem ser resolvidas com soluções liberais. A harmonização das classes é, na verdade, uma ilusão. É uma ideia tão válida quanto a de que os mercados se regulam autonomamente. Não sobrevivem, cada uma delas, à realidade. Não podemos inferir que, por haver sido quebrada uma outra base de determinada formulação ideológica, ela não existiu ou não predomina. Sim, o Corporativismo do Estado Novo nunca assumiu a face que Salazar retratou nos anos 30 (Caetano cedo lhe identificou as brechas). Mas também o actual modelo de economia de mercado em que vivemos viola alguns dos seus pergaminhos mais elementares. Este actual governo é considerado “neoliberal” - contudo, carrega forte e feio nos impostos, entre outras violações que seriam impensáveis num sistema económico genuinamente liberal. Para alguns, ele é considerado Socialista.
Não há Estado mais mórbido que aquele que escolhe os seus ricos. Não há Estado mais mórbido que aquele que sacrifica a liberdade de muitos pelo bem-estar de poucos - e fá-lo para assegurar o bem-estar daqueles que ocupam o poder. No Fascismo, o Estado. No Comunismo, o Partido. Em ambos o Estado é fortíssimo e a iniciativa privada, verdadeiramente, pequeníssima.
O que a Esquerda (e a Direita salazarenta) diz sobre o Estado Novo, salvo algumas raras excepções, não interessa a ninguém.
Não tenho qualquer dúvida de que às vezes é imperativo centralizar para, mais tarde, ser possível descentralizar. Daí eu sempre me ter estimado um liberal mutante. :mrgreen: Absolutismos ideológicos aturdem-me.
Há, entre nós, um antagonismo ideológico de fundo - muito pouco sanável, creio - que leva a que tenhamos interpretações divergentes do fenómeno Corporativo no decurso da História. Tu, pelo que me é dado a interpretar das tuas palavras, declaras-te Liberal, crês nos Direitos naturais e inalianáveis do indvíduo decorrentes da tragédia de 1789 - tal como fizeste questão de referir no antepenúltimo paragráfo, exaltando a Liberdade que consideras sonegada pelo Fascismo - além da profissão de fé Individualista inerente a qualquer demoliberal que naturalmente se insurge contra o - e aqui citando-te - paternalismo Estatal.
Atenção que, ao referir o atrás mencionado, não faço juízos de valor sobre as tuas convicções - era o que faltava! Aliás, se estiver a incorrer nalguma falta à verdade, o erro é inteiramente meu - que não soube tirar conclusões correctas das tuas palavras.
Eu, pela parte que me toca, concebendo a Nação - e não o Estado - como supremo valor, nego terminantemente as Liberdades e Garantias Individuais tal como o demoliberalismo/constitucionalismo as estabelecem. Onde está a Nação não pode estar o Indivíduo, caso contrário este último, fazendo uso das suas Liberdades alcanduradas ao zénite, poderia no limite negar a própria Nação e negar-se a si próprio. O Homem é Livre no seio da Nação, partindo do seu conceito orgâncio - que naturalmente minimiza e desacredita a quimera jacobina de que «todos os homens nascem livres e iguais».
Nesse sentido, o cidadão deve exerger os seus direitos, sobretudo os com carácter representativo, no seio da sua Família, do seu Munícipio, da sua Corporação, da sua Associação cultural ou Académica - as células que organicamente compõem a Nação, necessariamente emanadas da nossa Tradição enquanto Povo; tudo, claro está, numa lógica colectivista e não atomizadora do ser humano. Há portanto uma dimensão autónoma conferida ao indivíduo, até no domínio da propriedade e da sua iniciativa, embora nas esferas onde a sua actuação faz sentido e é producente. No demais, exige-se do Português - refiro o Português a mero título de exermplo - um esforço transcendente e colectivo no sentido se fundir com a Nação. Ou, numa perspectiva menos fascizante e mais de matriz contra-revolucionária clássica, que, em prol da acima referida organicidade, se submeta à Autoridade da comunidade política corporizadora da Nação, a quem competem perrogativas de actuação directa no campo social e económico.
Assim, quando tu questionas os «controlos de preços, inexistência de greves (do lock-out também), volume de negócios assegurado, ausência de concorrência - propiciadas pelo quadro económico vigente», analisando-os negativamente, segundo a perspectiva do mais salutar Liberalismo económico, eu só posso rebater com aquilo em acredito; e aquilo em que acredito está resumidamente explícito em tudo o que acabei de rabiscar umas linhas acima.
Partindo desta longa e fastidiosa premissa, bastante reveladora convenhamos, permitir-me-ei tecer alguns pequenos apontamentos acerca do teu escrito. Não julgues que entrarei em grandes e profundas elocubrações sobre economia, algo que me é inteiramente alheio - sobretudo por se tratar de um campo onde não me sinto de todo à vontade, tal o meu desconhecimento teórico; e eu faço quase sempre de prezar a pouco praticada máxima de «quando não souberes, cala-te e tenta aprender».
Tu deste sempre o exemplo do Corporativismo Português, mas nota que eu nem sempre aludi ao caso nacional. Iniciei até por me referir ao exemplo mais paradigmático e fidedigno de Corporativismo - o «Corporativismo de Estado» italiano, aquele que nega a tua concepção de um Estado e de estrutura corporativainterligados com o intuito de ambos recolherem benefícios que em condições normais não seriam alcançáveis. Ora, não havendo nada fora do Estado, sendo o Estado o poder Absoluto, como poderá exisitir conluio de interesses?! O aparelho corporativo é, isso sim, um conceito matricial definidor do Estado - residindo no seio do Estado - a quem cabe definir os destinos económicos nacionais através daquilo que efectivamente legisla.
Na base, os seus representantes nacionais derivam de um sistema electivo em moldes de absoluta equidade entre trabalho e capital.
Não se pretende, como tu depreendeste do que escrevi, uma harmonização entre classes. Há que balizar o domínio social do económico e eu sublinhei uma «harmonização entre trabalho e capital»: A Corporação agrupa as pessoas pela profissão que exercem independentemente da sua posição hierárquica.
Eis-nos chegados ao grosso do teu post, o respeitante ao Corporativismo indígena, sobre o qual explanas pecadilhos sem fim. Bom, eu não me tenho por intelectualmente desonesto e não rebato factos dos quais também sou conhecedor. Agora, tu interpreta-los sob um prima que eu, pelo menos em parte, não corroboro. Até porque - valha-me ao menos isso - é fácil apontar incongruências no Corporativismo do Estado Novo, na medida em que este nunca se cumpriu na sua faceta de Estado - até porque o regime não era totalitário - e tão pouco adoptou o cariz associativo teorizado pelo Integralismo Lusitano. Pura e simplesmente, Salazar meteu o Corporativismo na gaveta, porque dele não necessitava para conferir ao Estado um papel de interventor económico; do Corporativismo Salazar apenas queria o nome pomposo de «República Corporativa» e a possibilidade de trazer debaixo de olho o operariado urbano - a coisa era tão tosca, tão residual, tão desprezada e obscurecida pelo poder central que o marreco do Cunhal conseguiu miná-la toda por dentro através de células comunistas.
É certo que o Estado se escudou numa Oligarquia restrita e monopolista, mas o presidente do conselho nunca lhes vergou a cerviz ou nunca lhes alienou a Nação em prol daquilo que considerava essencial - equílibrio orçamental, evitar inflação e crises na balança de pagamentos.
Concordo plenamente em como existiram, pelo menos, 7 grandes grupos empresariais ligados ao poder e que dele beneficiaram. Isso foi parte importante, mas não foi o todo! Destaco o equilibrio, nalguns casos «malabarista» é certo, existente entre grandes e pequenos empresários - a quem nunca foi castrada a iniciativa - no contexto de um mercado que não era de livre oferta e procura (Adriano Moreira menciona que não se tratava de uma «economia de competência»), sendo ao invés amplamente regido pelo Estado que, aceitando a iniciativa privada, fez questão de salvaguardar a produção nacional através de pautas aduaneiras muito restritivas e de uma fiscalidade pouco onerosa, entre outras medidas.
Investimento público regrado em áreas estratégicas (é certo que acabaram por originar assimetrias no país), sectores como energia ou transportes inteiramente nacionais, iniciativa privada condcionada pelo Estado, abertura ao capital estrangeiro condicionado pelo Estado («não quero o meu país colonizado ao capital americano», palavras de Salazar), resultaram num crescimento económico progressivo, em muitos casos acima da média dos países da Europa Ocidental, e com correspondência material no nível de vida dos portugueses, como se atesta pelo progressivo aumento do PIB per capita.
Ps: Não posso deixar passar em claro a alfinetada à «Direita Salazarenta». Pelos dias que correm, no nosso país, escasseiam ou não existem de todo verdadeiros doutrinadores de qualidade no campo Nacionalista - ainda há poucas semanas morreu um dos últimos, António José de Brito. Face a tal cenário, não nos resta outra alternativa que não seja ir beber aos antigos Mestres…
A Direita Salazarenta é a Direita que se professa contra Salazar, que não perde oportunidade de o criticar, mas adepta do seu paradigma, do seu histórico, um paradoxo ao qual já estamos habituados. Não há pior gajo, porque nas sombras se urdem os planos mais tresloucados, que aquele que esconde, por razões de pudor, a sua ideologia. A Direita Salazarenta não pode ser mesclada com a Direita Salazarista.
Fica o resto para amanhã. Ou melhor, para hoje.
Nada a dizer sobre os parágrafos 1, 2 e 3. Eu associo-me a uma ideologia (embora já tenha admitido que gosto de pescar em outros lagos), tu associas-te a outra. Desta encruzilhada não sairemos nunca.
Sim, sei que o António José de Brito pereceu há pouco tempo. Li as panegíricos - e, não que tal me ornamente a imagem, já tinha visto alguns vídeos de entrevistas dele - que os locais da net amigos do seu pensamento - nonas, Armada Integral - lhe destinaram. Pode ser que um dia alguém se dê ao trabalho de (re)publicar as muitas obras que aquela mente singular produziu.
500 é exagero. Digamos 800. É melhor 1500 que 800, mas a diferença em termos económicos está muito reduzida - a diferença maior acaba por ser que a atividade que paga 1500 em geral é mais interessante e recompensadora em termos pessoais que a que paga 800.
“Igualdade” só quer fizer “igual para todos” na União Soviética ou nos tais países de “topo” que conseguem alinhar por cima (ou por um “baixo” tão alto tão alto que ninguém se importa). O princípio da igualdade quer dizer que a trabalho igual, salário igual - e portanto, a trabalho diferente, salário diferente, e a descontos diferentes, reformas diferentes.
Rui Rio deixa hoje a Câmara do Porto, onde passou os últimos 12 anos. Foi o presidente mais longevo no município desde a era em que o Porto liberal e radical impôs o liberalismo ao país. Não deixará para a posteridade uma aura de revolução e de modernidade. Não deixará ideias, nem projectos. Não deixará obras emblemáticas e perenes como o Metro, não deixará um lastro cosmopolita como o do Porto Capital Europeia da Cultura, não deixará a cidade inscrita na lista do Património Mundial como o socialista Fernando Gomes, que governou a Câmara nos anos 90. Mas se não deixa obra, Rio também não deixou dívida. O que não é coisa pouca nos dias que correm.
Se há algum sinal político que é obrigatório exaltar no dia em que Rui Rio deixa os paços do concelho é essa visão premonitória da catástrofe da dívida e do défice. Não foi um acaso. O reconhecimento da urgência de uma dieta financeira após década e meia de excesso aconteceu logo na sua primeira campanha eleitoral. Rio constatou o problema, mas esse mérito também o teve Durão Barroso ou a sua ministra das Finanças, Manuela Ferreira Leite. Mas enquanto uns se lamuriavam sobre o país de tanga, Rui Rio atacou de frente o problema. Congelou investimentos, cortou drasticamente nos apoios, reorganizou de alto a baixo os serviços municipais, combateu implacavelmente o laxismo nos serviços. Hoje, a Câmara do Porto é um exemplo para o país. Se esse exemplo tivesse sido repetido em tempo certo, certamente não estaríamos a discutir a iminência de um segundo resgate.
É esta aura de sobriedade e de rigor que concedem a Rui Rio a imagem de homem providencial. Os portugueses estão fartos de políticos palavrosos, de vendedores de ilusões, de traficantes de interesses, de homens públicos que tremem à primeira ameaça e cedem à segunda pressão. Rio não é, de todo, assim. O que é uma vantagem. Mas, por falta de tempero, é também o seu principal defeito. Na gestão de um município, mesmo com a dimensão do Porto, esse defeito que torna a obstinação em cegueira, a convicção em arrogância, e assertividade em despotismo é facilmente diluível. No governo de um país, muito dificilmente o será. O rigor e a inflexibilidade com que geriu as contas e puniu os desmandos na Câmara perderam parte do seu sentido e valor com a sua incapacidade de aceitar o debate e a divergência, com a sua impúdica propensão para se fazer promover em dezenas de fotografias no boletim municipal, com o seu injustificável aval aos ataques, por vezes fulanizados, a críticos e opositores nos painéis publicitários da Câmara.
Hoje já poucos se lembram dos dias em que Rui Rio queria erradicar os arrumadores de automóveis - missão que inapelavelmente falhou; dos tempos em que dizia querer tratar dos pobres para evitar que os pobres e excluídos tratassem de “nós”; da política de terra queimada que decretou em relação a todas as heranças dos seus antecessores, fossem boas ou más: da Porto Capital da Cultura, do Plano de Pormenor das Antas, das negociações para a construção do Parque da Cidade; da sua deliberada e ostensiva guerra a todos os sectores da Cultura, muitas vezes em clara retaliação aos que desde o primeiro momento vituperaram o seu primarismo argumentativo sobre as artes; de todas as direcções de todos os jornais, sujeitas a pressões que chegaram a tentativas de impor aos accionistas a sua demissão; da condenação do sistema judicial que se arrogava o direito de interpretar as leis de forma diferente da sua.
Com o tempo, Rui Rio tornou-se mais aberto, mais plural, deixou de se limitar pelas fronteiras da Circunvalação, começou a falar ao país vendo que o país estava disposto a ouvi-lo. O seu terceiro mandato foi muito melhor que o segundo e o segundo muito melhor que o primeiro. No processo de aprendizagem das vitórias sobre Fernando Gomes, sobre Francisco Assis e sobre Elisa Ferreira ganhou segurança e confiança. Deixou de ser um autarca tão acossado, perseguido pelos jornalistas, pelos juízes, por Pinto da Costa e pelos perigosos actores culturais. Ganhou confiança, pôde descer à rua. Até o seu chefe de gabinete, um ex-director do Comércio do Porto, meio cardeal Richelieu, meio Rasputin, foi melhorando com o tempo.
Rio deixa ao fim de 12 anos a casa arrumada, as contas em dia e um enorme vazio entre a autarquia e uma grande maioria dos portuenses. Deixa os bairros municipais limpos e compostos, mas o Bolhão decrépito. Deixa as indemnizações pela sua megalomania no Parque da Cidade pagas, mas jamais conseguirá explicar o fracasso na gestão do Teatro Rivoli, que Filipe Lá Féria usou e descartou a seu bel-prazer. O Porto que se modernizou, o Porto da Universidade, de Serralves, da Casa da Música, das Galerias de Paris, do Palácio da Bolsa ou do Estádio do Dragão fez-se nas suas costas ou contra ele. A cidade moderna e aberta ao mundo, o Porto culto, irreverente e cosmopolita jamais se reviu no seu conceito de “cidade de carneirinhos” que na década de 1990 Fernando Gomes tanto combateu.
Rui Rio sai e à sua espera está provavelmente uma carreira mais alta na política. A cidade que agora deixa tem sem dúvida muito que lhe agradecer. A vitória de Rui Moreira exprime, em parte, um tributo dos portuenses à sua gestão. Mas presente-se também no ar uma brisa de frescura. Uma janela aberta. Doze anos de governação defensiva, sem imaginação e sem brilho, sem pelouro da Cultura e sem um discurso de ousadia e modernidade são muitos anos. Rio sai com um relatório e contas brilhante e exemplar. Sai também sob o clima de uma apagada e vil tristeza que o impedem de inscrever o seu nome entre as glórias do poder municipal portuense. Bendita lei da limitação dos mandatos.
Não consigo deixar de concordar com alguns dos aspectos em que o artigo é mais contundente nas críticas, mas acho o resultado final dos mandatos de Rio bem mais meritório do que é dado a entender.
Há um grande mérito, inquestionável, no trabalho de Rui Rio, reconstruir a casa a partir do chão e não do telhado. É a base para a casa ficar segura e a partir daqui usá-la com segurança.
Ao saneamento financeiro juntou o redimensionamento da força laboral, que permitirá a governabilidade do município sem problemas.
Outros foram por caminhos antagónicos, p.ex. Lisboa…