Ao ler as queixas de JEB sobre a “campanha” contra Bento lembrei-me do Quixote de Cervantes. Se Quixote via gigantes onde Sancho via moinhos, JEB vê campanhas onde o comum dos mortais só vê uma justificada falta de entusiasmo por parte dos adeptos leoninos.
O problema de JEB não são “campanhas”: é a realidade. E a realidade é que o Sporting joga horrivelmente mal e não é de agora. Ora se uma equipa joga sistematicamente mal, tem de haver uma razão - embora, claro, se possa esconder a cabeça na areia e entrar num delírio à Eduardo Barroso sobre como, se fecharmos os olhos e acreditarmos com muita força e contra todas as evidências, no final tudo há-de bater tudo certo e a nossa fé será recompensada.
As razões óbvias são os jogadores e/ou o treinador. Ora PB é “forever” e continua a gozar (inexplicavelmente) de uma imprensa muito favorável, ao ponto de a sua permanência inquestionada como treinador do Sporting ser altamente elogiada pela CS como algo de altamente inovador no contexto do futebol português e considerada mesmo já um traço identitário do clube.
Assim, a inimputabilidade de PB desequilibra o prato das responsabilidades para o lado dos jogadores. Mesmo querendo ser simpático para a Direcção do Sporting - e a esmagadora maioria da imprensa e dos comentadores é-o - é preciso escrever sobre os jogos e avançar com qualquer coisa que se pareça com uma explicação para que eles sejam tão maus, semana após semana. Assim, se a manutenção do treinador é uma jogada de génio, o Sporting só pode estar a jogar tão mal por falhas profundas dos seus jogadores - seja de qualidade, de quantidade, de carácter, de profissionalismo ou do que for. Daí à tese que todos os Verões regressa em força à CS, é um passo: não só não devemos exigir muito ao cozinheiro PB face os ovos que lhes dão, como devemos estar gratos pela omelete intragável que ele nos serve - pelo menos, não é a intoxicação alimentar anual que se vê para os lados da Luz, dizem-nos.
A consequência disto é que, por um lado, se exageram os defeitos do actual plantel do Sporting e, por outro, se evita olhar para o trabalho de PB em detalhe. Ora, após 4 anos, acho que já é possível fazer muito do que vale PB como treinador. Já nem falo dos resultados - que levam à eterna discussão sobre o copo meio cheio ou meio vazio - nem da rigidez táctica - porque é possível dizer que o sistema é bom e os jogadores é que não estão à altura dele. Falo do trabalho com os jogadores: o que é que PB trouxe de novo e melhor aos jogadores que tem treinado - alguns deles durante 3 e 4 épocas?
Ora, com amargura, constato que sob PB, os jogadores evoluem pouco ou nada. Os que são mesmo muito bons à partida - Moutinho, Liedson, Izmailov - aguentam-se quase sempre num patamar aceitável. Os outros que têm talento acima da média mas um temperamento menos convencional - Vukcevic ou Veloso - têm oscilações brutais. Os que exigiriam trabalho especial para corrigir defeitos e retirar-se o melhor deles - Postiga, Djaló, Abel - regridem a olhos vistos. As promessas - Pereirinha, Adrien - já só prometem ficar é eternamente adiadas . Os pesados - Rochemback, Silva - pesados ficam. Os veteranos - Polga, Caneira e até Tonel - parecem envelhecer prematuramente. Vai-se salvando o Carriço - mas é titular há menos de um ano, pelo que ainda é cedo para ver qualquer evolução.
Ou seja, esgotado o efeito “toque a reunir” de 2005-6 e 2006-7, PB pouco ou nada tem acrescentado ao “material” que teve à sua disposição. É duvidoso que desde então tenha tirado tudo o que podia dele - e mais duvidoso ainda que alguma vez o tenha levado a transcender-se. Por isso, quando vejo um jogo da selecção, não consigo deixar de me perguntar se um Moutinho ou um Veloso tivessem tido outro treinador para além de PB a trabalhá-los nos últimos 4 anos, não estariam hoje a pôr um Meireles no banco ou a devolver um Pepe ao centro da defesa.
Perante isto, gostava que JEB se preocupasse menos com campanhas imaginárias - até porque tem a imprensa e os comentadores quase todos do seu lado e sabe que os blogues e os foruns não lhe fazem sombra - e que pense mais nas razões para a falta de entusiasmo e de esperança dos adeptos. E que em vez de carregar sobre nós, moinhos, engulisse o orgulho e mudasse de treinador. Quanto mais depressa, melhor.