[center][size=14pt][b]Oceano. “O Patrício foi o nosso Pelé no Euro-2016”[/b][/size][/center]
A entrevista entrelaça os pontos de referência Tróia, Cuba, Monaco, San Sebastian, Barcelona e Erevan com nomes próprios de elevada distinção como Maradona, Klinsmann, Gullit, Figo, Futre e Batta
Imagine-se perto do Natal 2017, ali no dia 20 Dezembro. Agora imagine-se a comer um boca negra no Rabo d’Pêxe, ali no Saldanha. E agora imagine-se a falar de bola com o Oceano, ali na mesa encostada à janela. Oceano, o maior. Pacífico, sempre. Entre a história engatilhada na ponta da língua e as gargalhadas espontâneas, há um mar de histórias. EI-lo, o capitão do Sporting, o terceiro estrangeiro de sempre da Real Sociedad, o melhor marcador do Toulouse, o adjunto de Queiroz no Irão.
Abro as hostilidades com esta foto.
Ahahahahahahah. Que maravilha. Eu ali em baixo e o Neno de pé. Conheço-o desde os 12/13 anos. Ele jogava no Santo Antoniense e eu no Almada, era uma brincadeira pegada.
Isto era o quê?
Um torneio em Tróia, com a primeira seleção de iniciados da Associação de Futebol de Setúbal. O que é engraçado é que ele era um caga-tacos e eu também era um caga-tacos, éramos os dois mais pequeninos do grupo.
A sério?
Se calhar foi por isso que ficámos juntos desde então, naquela coisa da proteção, sabes?
Estou a ver.
O Neno sempre foi um palhaço, já desde esta idade. Ele dizia que eu era mais palhaço naquele naquele tempo, mas não, ele é que era. Sempre foi. E o grupo estava sempre à nossa volta, nós é que animávamos aquilo tudo. Ahahahah. Aquilo para nós era a Walt Disney. O guarda-redes mais alto era o Castelão ou Casarão, um bicho do caraças. Claro que o Neno era suplente, ahahahah. Escreve isso, escreve isso, pica o gajo. Ahahahahah.
Ele falou-me num penálti em Alvalade?
Estávamos a perder por 1-0 e demos a volta para 3-1. Faço dois golos, um deles de penálti. Antes da marcação, o Neno vem ter comigo e diz que me conhece de Tróia. Depois, arrisca: ‘tu, com esse pé de pato, vais marcar a bola aqui para este lado, não vais mudar, pois não?’
E tu?
‘Se já me conheces, sabes que não vou mudar’. Quando cheguei ao ponto do penálti, não mudei mesmo. Só que o Neno foi para o outro lado, ahahahahah. A meio caminho, já ele me dizia ‘sacana’ O Neno é giro, tenho uma grande relação com ele desde esses tempos de caga-tacos.
Jogavas no Almada, isso era que divisão?
Os seniores jogavam na 2.ª, depois foram para a 3.ª. Eu ainda estava nos juvenis, depois juniores. Aqui, chegámos a jogar na 1.ª divisão.
O quê, com Benfica, Sporting, Estoril, Belenenses?
Todos esses mais o Vitória. Foooogo, o Vitória, lá em Setúbal, tinha uma belíssima equipa. Havia um gajo fabuloso chamado Fernando Cruz. Era aquele ponta-de-lança que não existia em Portugal, todos o queriam.
Eras tu e mais quem no Almada?
Dos que jogaram na 1.ª divisão, eu, o Galo e o Horácio.
Imagino a vossa impaciência em chegar aos seniores?
Ahahahahah, a piada é essa.
Então?
Não queríamos nada disso.
Baaaah.
Batia-se tanto nos jogos do Almada da 3.ª divisão que nem queríamos chegar aos seniores. Só queríamos continuar nos juniores.
Ahahahahah.
Só que o campeonato de juniores acabou mais cedo que o esperado e o treinador dos seniores chamou-nos logo para a equipa no último mês e meio de competição, na 3.ª divisão.
Começa aí a tua aventura.
A minha e a do Galo mais a do Horácio. Subimos os três ao mesmo tempo e fomos logo titulares.
Ainda te lembras disso?
Tenho cada história desses tempos, há coisas que um gajo não esquece. No meu primeiro jogo, fomos jogar a Cuba, no Alentejo. Estavam 40-e-tal graus e fiz o golo da vitória.
É beeeem.
O remate é do Horácio, a bola bate na barra e até entra, só que o árbitro não o valida. Como estava a seguir a jogada, entrei em voo para dentro da baliza, foi bola, foi tudo. Agora sim, é golo sem margem para dúvida, ahahahah. Levanto-me todo contente, para o abraço com o Horácio, e um central deles vem direito a mim.
E?
Dá-me um pontapé nos testículos. Apaguei. Apaguei mesmo. E apaguei mal. Só acordei no balneário cheio de gelo aqui [Oceano afasta a cadeira e aponta para baixo], com o massagista a trabalhar esta zona. Ahahahahah.
Ahahahahah.
Ri-te ri-te, se soubesses o que sofri. Tive de fazer uma porrada de exames, porque o massagista estava preocupado. Dizia que os testículos tinham ficado assim e tal, dizia que eu até podia ficar ??. Agora imagina a minha reação, não é? Ouvir aquilo tudo e ainda era um miúdo.
E o agressor? E o árbitro?
Nada, nada. O árbitro disse que não viu nada porque “estava a olhar para o meio-campo”.
E tu, depois?
Só queria sair dali.
De onde?
Da 3.ª divisão. Disse a mim mesmo “não quero jogar mais a este nível”. Por isso, quando apareceu o Odivelas, da 2.ª divisão, nem pensei duas vezes. Além disso, ofereciam-me quatro vezes mais que o Almada. Tinha de dar esse passo.
Conhecias alguém no Odivelas?
Os treinadores eram o Lourenço e o Carvalho, duas figuras do Sporting e jogadores de Portugal no Mundial-66. Eram pessoas que já conhecia de nome e isso dava-te necessariamente outra força. O Odivelas foi melhor para mim, claro. Se bem que ir todos os dias de Almada para Odivelas era um martírio.
Viagens e isso?
Tudo. Ia de autocarro Odivelas-Entrecampos e, depois, apanhava o metro para o outro lado de Lisboa. Claro, era atacado, assaltado, roubado e sei lá o que mais. Ahahahah, que histórias. No metro, em Entrecampos, estava tipo sardinha em lata, nem metia os pés no chão. São experiências engraçadas, fortalecem-te o espírito.
E para voltar a Almada?
Uyyyy, nem me digas nada, ahahahah. Havia barco, mas só até a uma determinada hora. Se falhasse o último, já só apannhava o das seis da manhã.
E como é que fazias?
Ficava com o Mafra.
Mafra?
O nosso capitão de equipa. Um bandido de primeira e muito boa gente. Pagava mais do bolso dele do que o próprio Odivelas.
A sério?
Ya, o gajo era sensacional. Entrava no balneário e dizia-nos ‘o clube oferece mil escudos, eu dou 1200 a cada um se a gente ganhar este jogo’.
Craque, estou a ver.
Ele tinha aqueles cartões da lotaria dos bairros de Lisboa que se chamavam mafras e a alcunha ficou. O Mafra ganhava dinheiro com isso e, na altura, tinha três Mercedes, um deles era o SL descapotável.
Isso devia ser uma novidade.
Era uma coisa do outro mundo. De vez em quando, convidava-me ‘miúdo, queres ir jantar?’.
E tu?
‘Não, sr. Mafra, a minha mãe disse que eu tinha horas para estar em casa.’
E o Mafra?
‘Não, não, miúdo, anda lá jantar e depois deixo-te em casa’.
E?
Chegava a casa às cinco/seis da manhã. Um dia, disse-lhe ‘oh sr. Mafra, gosto muito de si, mas não dá para continuar’. É que aquilo era quase todos os dias, ahahahahah.
O que feito dele?
Está bem, tem um stand de automóveis no outro lado do rio e ainda me dou com ele. O Mafra desenrasca-se, tem olho para o negócio. Ainda nem se falava de Valverde, na Verdizela, e ele já tinha comprado duas vivendas. Depois vendeu-as e comprou outra. É assim, o Mafra. Grande, grande homem.
O campo do Odivelas era pelado ou…?
Pelado, pelado à séria. Ahahahah. Na 2.ª divisão, zona sul, só Marítimo, Belenenses, Farense e mais um ou outro é que tinham relvado. De resto, pelados. E o nosso era cá um quintal, ahahahah. Que tempos. Tínhamos uma jogada ensaiada, nos pontapés de baliza: o guarda-redes chutava lá para a frente, nós íamos em bando para o meio-campo contrário e a ideia era passar a bola ao Sebastião, que tinha cá um pontapé. Ainda fizemos um golinho ou outro assim.
Também só jogaste um ano no Odivelas, não foi?
Fui logo para o Nacional.
Porquê a Madeira?
O treinador era o Pedro Gomes e ele viu-me a jogar pelo Odivelas. Quis contratar-me e fui.
Que tal?
Vê bem, às vezes era extremo-esquerdo.
Maravilha.
Fisicamente, estava mais forte que nunca. No primeiro estágio de pré-época do Nacional, o Pedro Gomes puxou tanto por nós que lhe cheguei a dizer ‘mister, com estes treinos posso estar sem fazer nada nos próximos dez anos’.
Era duro?
Foi o mais duro que apanhei. Aquilo era uma coisa. Nós tínhamos crosses nos Barreiros e havia um exercício do caraças.
Então?
Estávamos todos a correr na pista de tartan à volta do relvado dos Barreiros e ele, de repente, dizia Oceano.
Sim?
Tinha de correr mais depressa que todos os outros e dar-lhes uma volta de avanço.
Quêêêê?
Era o melhor gajo a fazer aquilo, só que demorava três voltas a apanhá-los.
Só três? Porra.
Pois, eles continuavam a correr, a puxar uns pelos outros, e eu, sozinho, tinha de apanhá-los. Era tramado. Agora imagina a quantidade de voltas que dávamos àquela pista.
Não imagino, impossível, ahahahah.
Os gajos do União e do Marítimo treinavam nos Barreiros, como nós. Aquilo era uma confusão do caraças, eles chegavam depois e saíam antes. Às vezes, iam para a bancada e gozavam connosco. Ahahahah. Mas digo-te, os primeiros jogos até correram bem e houve um que acabou 8-1 para nós [ao Esperança de Lagos]. Nesse dia, choveu até dizer chega. Os gajos do União e do Marítimo, os que gozavam connosco, é que ficaram impressionados. ‘Fogo, já viram como vocês voam?”. E realmente voávamos, só que depois tivemos uma quebra.
Ya, é sempre assim.
Espalhámo-nos ao comprido a partir de Janeiro. Foi aí que o Pedro Gomes decidiu jogar.
Quando dizes jogar, estás a dizer jogar mesmo?
Ya, eu joguei com o Pedro Gomes. A primeira vez que ele decide entrar no 11 é em Lagos. Havia lá no Esperança um defesa-esquerdo muita velho, com 39 ou 40 anos, mas, pá, o Pedro Gomes já tinha 46 ou 47 ou 48. Epá, vamos para Lagos, dentro da cabina, e começamos a ouvir a equipa: ‘número 1 não sei quem, número 2 disto, número 3 disto, número 4 nanana, número 5 não sei o quê, número 6 Oceano, número 7 eu, número 8 não sei quê”. Aquele ‘eu’ passou despercebido, como se ele estivesse a dizer o Miguel.
E depois?
Ele acaba de dizer o onze e nós todos ‘eu’? Ahahahahah. Isto é mesmo só rir.
E o Pedro Gomes?
‘Sim, isto pode ser uma surpresa para vocês, mas estou inscrito como jogador e hoje vou jogar. Considerem-me como um companheiro vosso mais velho.’
Que tal correu?
Perdemos, 2-1. Só que há coisas engraçadas para contar. Quer dizer, não são bonitas, mas são engraçadas.
É contar e pronto.
Havia gajos da equipa que não gostavam dele e avisaram-no. ‘Ò mister, a gente enerva-se lá dentro e chamamos nomes’.
E o Pedro Gomes?
‘Vocês podem mandar-me para todo o lado, podem chamar-me cabeçudo e isso tudo.’
Imagino a farra.
O que é que os gajos fizeram? Chamaram-lhe tudo. Ainda por cima, o primeiro golo do Esperança foi culpa dele, ahahahah.
E de resto, o jogo dele?
Queria marcar tudo; cantos, livres, lançamentos. Ahahahah. Na jornada seguinte, jogámos em casa e aí levei uma entrada duríssima na canela. Levei para aí uns 15 pontos na perna e a sorte foi que o piton parou no osso, senão partia-me a perna. Coseram-me aquilo e fiquei de molho. Só que era o campeonato, não é?
Non-stop.
Pois. No jogo da semana seguinte, íamos ao Restelo e eles insistiram para que eu jogasse. Era um jogo importante para a subida e tal.
E tu?
Fui a jogo, com reticências. O médico disse-me ‘vais jogar, mas, se alguém te tocar, vai haver sangue como nunca’. A uns 15 minutos do fim, há um gajo que me entra à perna, toca na ferida e era sangue comò caraças. Tive de sair e quem é que entra?
Nããããão.
Pedro Gomes, ahahahah. Com o número 16. Então, o Jimmy Melia, treinador inglês do Belenenses, diz isto no final do jogo. ‘O número 16 mais parecia um camião do leite.’
Ai é aí que começa a expressão, não fazia a mínima ideia.
Estás a ver, o Pedro Gomes já fortinho, com 40-e-muitos-anos. Foi o seu último jogo da carreira. Ele que ganhou a Taça das Taças pelo Sporting em 1964 e estava ali a jogar comigo em 1984. Ahahahah. Quando digo que joguei com o Pedro Gomes, as pessoas todas riem-se e dizem ‘és um mentiroso do caraças’. Nada disso e marco sempre uma aposta, ahahahah.
Grande história. E o Nacional, sobe nesse ano?
Ficámos em quarto ou assim e não subimos.
Como é que aparece o Sporting nessa história?
O Pedro Gomes disse-me ‘epá, deixa o Sr. Rocha ganhar as eleições e ir buscar o John Toshack; provavelmente, vou para adjunto e gostava que fosses para o Sporting’.
E tu?
Pensei ‘agora vou para o Sporting ’tá bem ’tá’.
E não é que foste?
Há toda uma história.
Booooa.
O Nacional estava há três meses sem pagar o ordenado e insistiam na minha renovação. Só lhes disse ‘okay, só renovo com a condição de que paguem tudo o que me devem por inteiro’. E os gajos pagaram. Beeem, nessa altura, senti-me multimilionário. Quer dizer, não era nada de especial, o salário em si, mas três de uma vez era uma sensação libertadora. Ainda por cima, vivia sozinho e não tinha vícios nenhuns. Não fumava nem bebia: o dinheiro chegava e sobrava. Agora, havia jogadores titulares que não era assim. O que fazíamos, então? Comíamos no restaurante do nosso apart-hotel e dizíamos ‘mandem a conta para o Nacional’. E também havia um restaurante no centro do Funchal em que fazíamos o mesmo. O que interessa é que a situação se resolveu para o meu lado e aquando da minha renovação, inclui uma cláusula no contrato a advertir os gajos do Nacional que tinham de me deixar sair se houvesse interesse de um grande,
Veio o Sporting.
Ainda começo a época com o Rui Mâncio e, às tantas, recebo um telefonema do Pedro Gomes “É pá, o Toshack queria que viesses aqui este fim-de-semana para treinares com ele à sexta, sábado e domingo. Já falei com a direção do Nacional’.
Foste.
Disse que não.
Hein?
Já viste a minha idade? Só tinha 21 anos. E já tinha tido uma experiência um bocadinho traumatizante no Sporting, aos 16.
Porquê?
Cheguei lá e estavam cinquenta mil miúdos. Cinquenta mil, não estou a exagerar. Quando chegou a minha vez de ir jogar, só foi um minuto ou dois. Logicamente, não dá para ver nada, fui-me embora e disse a mim mesmo ‘nunca mais vou passar por isto; se o Sporting quiser, que me venha buscar, agora à experiência é que não’.
Mai’nada. E agora, como se resolve o impasse?
A minha mãe falou comigo.
Olha que bem.
‘Filho, não perdes nada, porque sabes batalhar como ninguém e ainda tens contrato com o Nacional’. Ah é verdade, faltava dizer que fui jogar para o Nacional em vez de ir para a universidade.
Ias seguir o quê?
Engenharia. Quando era mais miúdo, nos tempos de Almada e Odivelas, tinha de ter boas notas para jogar futebol. Era a condição dos meus pais, senão os gajos tiravam-me do futebol. Tiravam mesmo. E mesmo nesta época do Nacional, em que já sou maior de idade e tenho um ordenado à minha disposição, os meus pais insistiam; ‘vais para lá, tudo bem, é um ano à experiência; se não correr bem, entras na universidade’. A minha mãe estava sempre a dizer-me ‘não te esqueças da universidade, está sempre pendente’.
Engraçado. Então e o Sporting?
Pronto é isso, a minha mãe disse-me ‘ò filho, se tens contrato com o Nacional, qual é a pior coisa que te pode acontecer no Sporting? É não ficares? Não, o pior é ficares a pensar no que teria acontecido se não fosses’. Pronto, liguei ao Pedro Gomes e lá fui fazer os treinos. No primeiro de todos, dei uma porrada no Jordão ahahahahah e eu só dizia ‘desculpe Sr. Jordão, desculpe”. Hoje, o Jordão é o padrinho da minha filha mais velha. Ahahahah. Ele protegeu-me no Sporting e disse-lhe “sr. Jordão, ainda não sou casado nem tenho filhos, mas você vai ser o padrinho da minha filha’.
E foi mesmo.
Uns anos depois, nasceu a Carina e o Jordão foi o padrinho, ahahahah.
Que espetáculo.
Bom, aquele fim-de-semana no Sporting passou e o Toshack disse-me ‘epá, já não vais mais para a Madeira’. Assinei três anos pelo Sporting.
Um contrato melhor ainda?
Na altura, ganhava 65 ou 69 contos por mês no Nacional e o Sporting ofereceu-me 100 contos no primeiro ano, 150 no segundo e 200 no terceiro.
Era bom?
Cem contos era dinheeeeeeeiro.
Vivias onde?
Miraflores. Quem levava aos treinos era o Gabriel, que tinha um dois cavalos que eu adorava. Depois passei a viver na Quinta do Lambert, perto do estádio. Numa terceira fase, o Rosário, que é hoje adjunto do Fernando Santos na seleção, sugeriu-me ir viver para Caneças, um sítio tranquilo e perto de Lisboa. Foi quando comprei casa, por dois mil e duzentos contos.
Entraste logo na equipa do Sporting?
Fui suplente no primeiro e depois fiquei a titular. Fiz uns 29 jogos nessa época.
É a época europeia do Auxerre e Dínamo Minsk?
Exacto. Com o Auxerre, fui central e marquei o meu primeiro golo pelo Sporting. Ganhámos cá 2-0 e estávamos a perder lá por 2-0. No prolongamento, faço o 2-1.
Como?
É um dos maiores golos da minha vida, porque estávamos ali no prolongamento a aguentar o 2-0 e o Toshack diz-me para subir na altura de um canto. Quando chego à área, a bola vem ter comigo e atiro de primeira. Foi um g’anda golo pá. Ainda me lembro da página d’A Bola: ‘Oceano congelou os franceses’.
Com o Dínamo Minsk, a mesma coisa: 2-0 em Alvalade, 2-0 em Minsk.
Perdemos nos penáltis, nem me fales. Estava um gelo, -14 graus. E tivemos um azar tremendo com a lesão do Lito. Ele entrou a meio da segunda parte e, na primeira jogada, sofreu uma rotura muscular. Jogámos com dez e foi aguentar até chegar aos penáltis. Aí deu para o outro lado.
Quem era o guarda-redes do Sporting, Damas?
Damas, o jovem Damas.
Jovem?
Só tinha 42 anos. Se apanhei o Pedro Gomes, não ia estranhar o Damas ahahahahah.
Que balneário esse, com Jordão, Manuel Fernandes.
Oliveira, Jordão e Manuel Fernandes, que trio de luxo. Só que o Toshack começou a encostar o Oliveira. Mas havia mais: Jaime Pacheco, Sousa, Gabriel.
Xiiii, o Gabriel. É agora taxista no Porto.
É? Nem sabia.
Já o apanhei uma vez, da Foz até à Campanhã.
Epá tenho que estar com ele, foi a pessoa com quem me dei melhor .
Pois, o homem do dois cavalos.
Ahahahah. Vivíamos no mesmo prédio. Não é Gabriel, é sr. Gabriel. Eu só perdia a vergonha durante o treino, mas depois também dizia ‘epá, isto foi demais, tem que me desculpar Sr. Jordão’ ahahahahaha.
Falaste no Toshack, era porreiro?
O Toshack adorava-me. Foi o treinador com quem tive mais discussões mas era o gajo de quem mais gostava. Tive mesmo discussões de nos agarrarmos um ao outro, era para bater. Lembro-me de um episódio no meu segundo ano da Real Sociedad em que cheguei a acordo com o Barcelona.
Uyyyyyyyy.
Só que a Real não me deixou sair. Primeiro porque me faltava um ano de contrato, depois abriram a boca e pediram o preço do Pelé ao Barcelona.
E o Barcelona?
O presidente Núñez disse-me ‘ò Oceano, gostava muito que viesses para aqui, mas não posso pagar este valor por um jogador com 31 anos; se conseguires convencê-los a baixar esse valor’.
Barça de Cruijff, certo?
Reuni-me com ele e tudo.