Ontem a porta 3, ou porta CGD, ou lá o que é, a porta que dá acesso a metade da Superior Sul e a metade da bancada nascente foi mais uma vez palco do já conhecido e habitual apertão. Eu pessoalmente demorei cerca de meia hora a entrar, meia hora em que os garbosos agentes da PSP lá foram deixando o pessoal passar às pinguinhas, gerando uma enorme confusão e levando todos os que traziam crianças (incluindo eu próprio) a pô-las às cavalitas para evitar tragédias, fazendo prodígios de equilibrismo para se manter em pé. Meia hora com os habituais cacetetes em riste, gritaria e arrogância policial (não empurrem se não ninguém entra e outros dichotes do género).
Não consegui, mais uma vez, entrar a tempo de ver o pontapé de saída, embora tenha chegado à porta do Estádio com uns bons 20 minutos de antecedência.
Apetece perguntar como é possível que tais coisas se passem 20 anos depois de Hillsborough. Alvalade XXI? A julgar por esta porta é mais Alvalade XIX. Como foi possível conceber um Estádio em que o acesso a um quarto dos lugares é feito por uma passagem estreitíssima? Como é que ainda não perceberam que a solução é deixar o pessoal ir até aos torniquetes e fazer-se as revistas só quando lá chegarem? Como é possível que sejam tratados assim os sócios e adeptos do clube? Como é possível tratar assim quem pagou bilhete?
O lema da campanha da “gamebox” 09/10 é “o teu lugar é aqui”. Para quem usa a porta 3, o verdadeiro lema é “o teu lugar é aqui. Agora tenta cá chegar…”.
Mais uma vez se verificou que quem se apresenta à porta de um Estádio deixa de ser cidadão e passa a ser um criminoso. E, para quem não costuma ler o Diário da República, deixo aqui o link para a Lei 39/2009, publicada hoje, dia 30 de Julho, que “estabelece o regime jurídico do combate à violência, ao racismo, à xenofobia e à intolerância nos espectáculos desportivos, de forma a possibilitar a realização dos mesmos com segurança” http://dre.pt/pdf1sdip/2009/07/14600/0487604886.pdf. Esta lei revoga outra de 2004, que por sua vez substituiu uma anterior que também pouco vigorou. Pelos vistos a violência nos espectáculos desportivos é uma das principais preocupações dos governos deste país.
Embora eu por princípio nunca “entoe” cânticos racistas ou xenófobos, nem tenha interesse na violência, não posso deixar de notar que a Lei impõe milhentos deveres aos adeptos e aos “grupos organizados de adeptos” (isto é, as claques, que por especial condescendência da Assembleia da República poderão continuar a usar megafones, tambores e o “artifício pirotécnico de utilização técnica fumígeno, usualmente denominado «pote de fumo»”). Cada vez mais o adepto é um suspeito, cada vez menos um cidadão.
Talvez assim consigam afastar o pessoal dos estádios de uma vez por todas, vai tudo para casa ver a Sport TV…