O QUARTO JOGADOR

Inicio aqui a publicação de alguns capítulos de uma minha novela do velho faroeste.
Espero que gostem.

O QUARTO JOGADOR

Capítulo 1

Numa das mesas do saloon, juntaram-se para uma partidinha de poker quatro mânfios recém-chegados.
Meia-hora depois, Godofredo Ananias jogava o seu destino naquela cartada. Só tinha um trunfo e tinha que o jogar. O pior era tirá-lo da manga. George Bate-Sacas e Pete Sombrero estavam de olho nos seus movimentos. Godofredo tentou aproveitar-se do facto de Pete Sombrero ter as lentes de contacto embaciadas e de George Bate-Sacas ter a vista relativamente colada ao mamilo esquerdo de Lucy “Oh God”, a corista, para sacar o trunfo da manga. Infelizmente Jack Massacre, o quarto jogador, viu esse delicado movimento e, emocionado pela franqueza de Godofredo, cravou-lhe um 45 (leia-se calibre) exactamente sob o maxilar inferior direito. Godofredo pareceu não apreciar este gesto de ternura, pois, automaticamente, caiu no chão e não falou com mais ninguém durante o resto da noite.
O pianista, excitado, absorveu uma garrafa de creolina que por engano tinha um rótulo de Chivas Regal. O efeito foi deveras curioso, pois o pianista, depois de recitar versos de Homero em jugoslavo, assumiu uma côr platinada e rolou sobre o teclado afirmando a pés juntos que era a Marylin Monroe.

Capítulo 2

Fez-se silêncio no saloon Boi Bravo. Judas O Cruel tinha feito uma entrada fenomenal. Em voo, depois de ter sido presenteado com um soberbo coice do seu cavalo. Godofredo Ananias continuava prostrado no relvado. O pianista, recomposto, voltou a passar as mãos pelo teclado. Judas levantou-se e dirigiu-se à mesa de jogo. Sentou-se na posição de Godofredo, sob o olhar penetrante de Jack Massacre e George Bate-Sacas… Pete Sombrero não olhou, pois continuava com as lentes de contacto embaciadas. Lucy “Oh God” tenta seduzir Pete Sombrero tirando um seio para fora e titilando o mamilo com o dedo. Pete recupera os seus poderes visuais e ao ver Lucy principia a espumar da boca emitindo pequenos grunhidos em tirolês.
Jack Massacre pede um whisky duplo a Luke Bottles, o dono do bar. Subitamente o candelabro solta-se do tecto, vindo a cravar-se nos ombros de George Bate-Sacas. Judas esboçou um sorriso e o pianista caíu como uma folha morta (apenas diferindo no ruído), asfixiado pelo cheiro de refogado que o canino esquerdo de Judas emanava.

Capítulo 3

As portas abriram-se subitamente. A figura feroz de Bill Bode-Que-Foge-Não-Vai-Longe surgiu e todo o mundo tremeu. Escala 7 de Richter. Lucy “Oh God” subiu para o seu quarto na cave. Jack Massacre pediu outro whisky duplo ainda antes que Luke Bottles lhe trouxesse o que tinha pedido anteriormente.
Bill Bode-Que-Foge-Não-Vai-Longe ficou de pé junto do balcão e pediu uma Cuba Libre. Luck Bottles, furioso por se ter acabado o rum, perguntou-lhe se não quereria antes uma omeleta. Bill disse que não e acabou por comprar um pacote de “Trident” de toucinho. Foi neste preciso momento que entrou Bisonte Vesgo, chefe da tribo dos Apaches Gargarejantes, com duas flechas no pescoço. Os seus movimentos descontrolados não passaram despercebidos a Judas O Cruel, que prontamente lhe pegou fogo à roupa. Bisonte Vesgo, nitidamente aborrecido, pediu um copo de água. Luke Bottles recusou-se a servir índios e Bill Bode-Que-Foge-Não-Vai-Longe sobe para a cave. Lucy encontrava-se nua do pescoço para cima e Bill, excitado, engole o “abat-jour” e tenta acender uma garrafa de whisky que tinha um rótulo de creolina.

Capítulo 4

Lucy “Oh God” ouve um ruído no armário e pede a Bill para verificar. Bill abre a porta do armário e é mordido por sanguessugas esfaimadas, enquanto Jack Massacre, o quarto jogador, que estava também dentro do armário, lhe dispara para os dedos dos pés. Bill Bode-Que-Foge-Não-Vai-Longe consegue arrastar-se até à rua onde, exactamente nesse momento, passava a cavalo a tribo inteira dos Apaches Gargarejantes. Bill tentou escapar, mas Pete Sombrero empurrou-o para debaixo dos cavalos. Por puro acaso Pete prendeu a manga da sua camisa no coldre de Bill e foi também deliciar-se com a simpatia dos cascos. O pianista recompôs-se e estava a tocar Beethoven, quando Judas O Cruel, completamente nú, salta por cima do balcão, lançando-se em voo planante contra o espelho, tentando atacar a sua própria imagem. Luke Bottles, receoso que ele partisse o espelho, aplicou-lhe um pujante pontapé no estômago e, embrulhando-o em papel vegetal, passou-o pela máquina de cortar fiambre.
Repentinamente ouviu-se um ruído no exterior e entrou o temível pistoleiro Sid Esgana-A-Mãe-E-Mais-Que-Venham. Bisonte Vesgo, que acabara de beijar a poeira, olhou para Sid e disse:
- Foi ele!

Capítulo 5

Toda a gente se virou para Sid Esgana-A-Mãe-E-Mais-Que-Venham. Com uma calma extrema ele enfiou a sua bota esquerda no interior da boca de Bisonte Vesgo que, prontamente, lhe dilacerou o membro inferior direito que, curiosamente, se encontrava dentro daquela. Sid pediu um copo de leite. Judas O Cruel, que se encontrava cortado em fatias finas, riu-se do pedido de Sid e de imediato Luke Bottles disparou à queima-roupa sobre Teófilo, o gato que morrera há quinze dias. Sid sorveu o copo de leite enquanto ia esfacelando Bisonte Vesgo com um martelo pneumático. O índio limitava-se a pedir cromos da bola. Jack Massacre sorria feito estúpido e Lucy, que havia descido da cave, tentava beijar o pianista. Infelizmente para o pianista ela beijou-o sem tirar o charuto da boca. Jack Massacre sorria feito esperto. Luke Bottles saiu de trás do balcão e disparou sobre o retrato do seu avô, ao mesmo tempo que balbuciava algo sobre o seu avô não lhe ter comprado um chupa-chupa quando ele era pequeno. O retrato do avô cuspiu na cara do neto e seguiu-se uma cena de pancadaria entre o gato Teófilo e o retrato do avô.

Capítulo 6

Jack Massacre contorceu-se na cadeira. A cadeira caiu.
Entraram no saloon os irmãos Chartell: Roy, John, Ben, Jimmy e Thomas Chartell.

Sid Esgana-A-Mãe-E-Mais-Que-Venham passa a mão pelo coldre e descobre que lho fanaram. Lucy “Oh God” sorri com o Colt 45 de Sid nas mãos. Sid, num momento de rara generosidade, convida-a para beber e manda vir dois copos de água.

Roy Chartell tropeça no tapete e vai cair perto do pianista que, com uma rapidez incrível, lhe crava dois garfos ferrugentos, treze adagas marroquinas e seis saca-rolhas na orelha esquerda.
Ben Chartell ao ver isto lança-se sobre o pianista e, de joelhos, pede-lhe que toque Chopin. O pianista, que detesta Chopin, fica furioso e corta a corda que segurava a coleção de bigornas de Luke Bottles, vindo estas a despenhar-se sobre o colo de Thomas Chartell que, não se aguentando à bronca, perfura o soalho e vai cair na cave, no quarto de Lucy “Oh God”, sendo de pronto engolido, ou antes, tragado por um pequeno Rottweiller de 193 quilos. Jack Massacre sorri.

Sid senta-se na mesa de jogo com John e Jimmy Chartell. Falta o quarto jogador. Jack Massacre senta-se e o jogo principia. John Chartell faz “bluff” e Sid faz “plof”, pois Jack Massacre esmurra-lhe o aparelho facial.

Capítulo 7

No exterior do saloon, pára uma carroça funerária e dela descem os irmãos Vulture, Rick e Sal, de fato e cartola negros, como convém ao negócio.
Entram no saloon e, munidos de duas pás, deslocam os cadáveres de Godofredo Ananias, George Bate-Sacas, Judas O Cruel e Roy Chartell, que se encontravam amontoados em frente à porta da casa de banho, e atiram-nos para cima da carroça.
Na rua apanham os pedaços espalhados de Bill Bode-Que-Foge-Não-Vai-Longe e Pete Sombrero e lançam-nos também para a carroça.
Voltam a entrar no saloon e disputam um último pedaço de Thomas Chartell ao Rottweiller. O animal, perante tão tenebrosas figuras, acaba por ceder.
Rick e Sal Vulture partem como chegaram: em silêncio.

Entretanto, o jogo de póquer continua animado. Sid, John, Jimmy e Jack apenas lamentam a falta de gelo para mergulharem nos seus scotch.
Ao fundo do saloon, no palco, iniciavam o seu número Zilda e as Meninas Barbudas.
Tudo parecia agora calmo… mas as coisas iriam mudar, pois a centenas de quilómetros dali…

Capítulo 8

O pó refinado da estrada rugia furiosamente sob as botas cardadas de John Zipper. Comprara-as num rodeo, dois anos atrás em Pecos.

Zipper encontrava-se a centenas de quilómetros de Nowhere e o facto de ter perdido o seu cavalo a jogar canasta com os apaches não ajudava muito. Solitário, caminhava sob o sol escaldante.

Não bebia um gole de água há semanas. Ainda tinha dezassete garrafas de whisky, mas a falta de gelo deturpava-lhe os sentidos de uma forma arrepiante. Devido à acidez do whisky, a sua língua tornara-se seca e dura e tendia a enrolar-se rapidamente na direcção do esófago, o que levava John Zipper a assumir esgares e contrações dos lábios jamais vistos no mundo ocidental.

Subitamente, um facto que pode e deve ser considerado como um milagre do Senhor, acontece: John encontra uma fresca laguna de água potável.

Rapidamente Zipper coloca duas garrafas de whisky a refrescar na água cristalina e, duas horas mais tarde, parte, esquecendo por momentos a ideia do gelo.

Treze garrafas depois John Zipper chega a Nowhere e entra no saloon Boi Bravo para beber qualquer coisinha.
Devido a uma inexplicável seca que assolou a região nos últimos 279 anos, vê-se obrigado, mais uma vez, a beber whisky sem gelo, o que lhe perturba a traqueia e o leva a emitir leves grunhidos em mandarim com sotaque do Alaska, o que pode parecer anormal, e, no entanto, é!

Capítulo 9

No saloon, saem da casa de banho, onde haviam estado presos por não conseguirem abrir a porta devido ao amontoado de cadáveres no exterior, Bud Blossom, Fred Flan, Greg Gregory, Gregory Greg e Fancy Pick.
Todos os olham condescendentemente, com um sorriso no canto dos lábios.

No palco, Zilda e as Meninas Barbudas dançavam sob os acordes de Ted Fingers, o pianista.

O ambiente estava tenso demais, demais mesmo, mesmo tenso.

De repente, sem aviso, o barman vai à casa de banho e todos começam a disparar contra todos. Acertam em tudo, excepto nas garrafas, que são consideradas sagradas.
Mal o barman sai da casa de banho, todos voltam às suas primitivas posições como se nada se houvesse passado.

Luck Bottles, o barman, nota um ligeiro cheiro a pólvora e choca com uma mesa, pois o fumo era tanto que era impossível distinguir um cargueiro a um metro de distância.

Por estranho que pareça, ouve-se um apito de barco ao longe. Duas gaivotas esvoaçam sobre a cidade, sendo rapidamente perseguidas por um enorme bando de dois abutres esfaimados. Depois de um looping acrobático, os dois abutres descontrolam-se e vão-se estatelar num terreno baldio onde são prontamente devorados por uma família de emigrantes etíopes. As gaivotas riem-se desalmadamente e partem em busca de um futuro melhor.

Entretanto, no saloon, tudo está na mesma, à excepção de Zilda e as Meninas Barbudas, que haviam terminado a sua actuação.

Em breve, novos capítulos…

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Não sei bem do que se trata mas vou acompanhar.

:think: :shifty:

:eh: :think: :eh: :hand: :eh: :shifty:

Momento “WTF!?” do dia. :think: :eh: :shifty:

Pensava que era o quarto jogador a ser contratado pelo Sporting… :think:

1 Curtiu

:arrow:

:think:

Oh Judas, estão aqui a dizer que não escovas os dentes. :mrgreen:

Onde é que se vende disso que andas a fumar?

:rotfl: :rotfl: :rotfl:

E a unica reacçao possivel tanto aos comentarios como à historia em si… Acho que as “Trident” de toucinho ainda vao dar que falar no resto da historia, e uma peça fulcral para resolver o misterio. Isto tou a espera da entrada do grande Pedro-pedra-rocha-calhau que vai arremaçar um pedragulho à Lucy “oh god” enquanto o Luke Bottles e o Bisonte Vesgo andam a porrada la em baixo

E fazem desconto com cartão de sócio do SPORTING?

WTF?

Caros,

Fiquei deveras impressionado com os comentários…
Tal como disse no primeiro post, isto são capítulos de uma “novela” (humorística obviamente) que escrevi há uns tempos…

Mas se o “WTF” foi assim tão grande, peço desculpa de a ter colocado aqui no fórum…
A intenção era apenas a de colocar uns textos que pensei poderem divertir o pessoal… big mistake…

Não repetirei o erro.

Desculpem qualquer coisa…

Agradeço que os moderadores apaguem o tópico.

Olha eu gostei bastante… e obviamente estou à espera do resto. :great:

Exacto eu ri-me imenso apesar de achar isto tudo muito estranho! Tambem estou a espera dos proximos :great:

Blitz, espero que não tenhas ficado ofendido, mas quando referi que era “WTF!?” nem era no sentido pejorativo. Era do tipo: cómico mas estranho. :mrgreen:

Espero que não tenhas desistido de meter o resto. :great:

Também sou mais um que aguarda o desenvolvimento deste western.

E se dizes que a novela já está escrita, então não te demores a postar os capítulos seguintes. Se possível, todos os dias à mesma hora, e a hora da novela passará a ser sagrada. :great:

Bem, parece que foi tudo um mal-entendido da minha parte então…
A intenção da “novela” é ser mesmo estranha… é um humor (salvaguardadas as devidas distâncias) tipo Boris Vian… para quem não conhece, aconselho seriamente… especialmente o livro “O Outono em Pequim”.

A “novela” está escrita, mas infelizmente só escrevi 9 capítulos…

Deixei mais dois (o 4 e o 5) no post inicial, para não se perder o fio à meada… se tal é possível… :lol:

Abraço!

Eu estou pra ver é quem é que vai sair desta história vivo. :lol:

;D

Vou continuar a acompanhar :beer: