[b]Homicídios: Análise científica confirma
Xana e Diogo mortos com a mesma arma[/b]
As cápsulas das balas que sexta-feira, num espaço de cinco horas, feriram de morte Alexandra Neno e o jovem Diogo Pereira – a primeira em Sacavém e o segundo em Oeiras – têm os mesmos vestígios, apurou o CM. “Defeitos de fabrico, pequenos detalhes mas pormenores únicos” que, sendo compatíveis nos dois casos, confirmam em quase “cem por cento” que foram disparadas pela mesma arma. É como uma impressão digital”, diz um perito em balística.
A Judiciária espera o relatório final à comparação entre as duas balas mas, com a fiabilidade do exame feito às cápsulas ao microscópio computorizado do Laboratório de Polícia Científica, já não restam dúvidas. Os investigadores procuram um único atirador, armado com uma pistola de calibre 6,35 mm.
O CM reconstituiu os passos do homicida e verificou que seria bastante fácil fugir do local do primeiro crime sem ser apanhado. A distância entre o local onde ‘Xana’ foi baleada, sentada no seu Mercedes SLK à porta de casa, e a estação de comboios de Sacavém não chega a 800 metros – o percurso pode ser feito em menos de dois minutos. Até num, se o atirador saltar um pequeno muro que separa a Urbanização Real Forte e a linha do comboio. O caminho só é utilizado pelos utilizadores da estação e há períodos em que não pára nenhuma composição durante mais de dez minutos. O assassino poderia ter entrado numa carruagem sem ser visto por qualquer passageiro.
Da mesma forma, o nosso jornal constatou que seria fácil manter-se escondido entre a vegetação até que um comboio entrasse na estação e entrar na composição sem ser detectado pelas câmaras de videovigilância. Recorde-se que a estação de Sacavém está totalmente automatizada. Não existe um único funcionário nem a figura do chefe de estação.
A favor do atirador está também o facto de o percurso ter sido feito pela parte de fora da urbanização, que se caracteriza por estar virada para dentro. Construída em circular, é na praça central que se encontram os estabelecimentos comerciais e as áreas recreativas. Logo é nesse local que há moradores. Pelas 19h45, no caminho entre o local dos disparos e a estação, o CM só encontrou carros estacionados, um a ser estacionado e ninguém à vista.
O percurso foi feito várias vezes pela PJ, com um retrato- -robô. Sem resultados. Não houve uma pista credível sobre o rasto deste assassino. Resta saber se as câmaras dos comboios o captaram. O nosso jornal sabe que pelas 00h30, quando terá assassinado o jovem Diogo com a mesma pistola, surpreendido a assaltar um carro no Oeiras Parque, as câmaras estavam lá.
COMERCIANTES NÃO VIRAM RETRATO
Muitos dos comerciantes da Urbanização Real Forte negaram ao ‘CM’ terem sido confrontados com o retrato-robô do suspeito.
VIDA ÍNTIMA DO CASAL QUESTIONADA
“A PJ esteve em minha casa, mas só perguntou se havia discussões ou violência entre eles”, confessou uma vizinha de Alexandra e Fernando.
IDENTIFICAÇÃO POR FOTOGRAFIAS
Uma funcionária de uma clínica admitiu ter ido “à Gomes Freire ver fotografias de vários homens, mesmo não tendo visto nada”.
TESTEMUNHA IGNORADA
Francisco Soldador, um dos primeiros a chegar depois do disparo, também não foi confrontado pela PJ com o retrato-robô.
DESPISTE DO FERRARI SEM SINAIS DE CRIME
As primeiras perícias aos destroços do Ferrari e os exames ao corpo de Carlos Almeida continuam sem dar resposta ao sucedido. Não foram detectados vestígios de engenho explosivo, mas a investigação continua com outros exames.
O empresário Carlos Almeida foi ontem a enterrar num clima de consternação e envolvido em várias teorias sobre o despiste do Ferrari na A4, na madrugada de segunda-feira. “O Carlos era um automobilista muito experiente a habituado a conduzir carros muito potentes”, foi o que o CM ouviu dos amigos. Daí o sentimento de estranheza sobre as circunstâncias do acidente. As explicações avançam para o excesso de velocidade na recta da auto-estrada que terá provocado o despiste, embate na árvore e incêndio.
No funeral do proprietário do stand Finicar estiveram presentes vários outros proprietários de stands de automóveis localizados na mesma zona onde Carlos tinha o negócio. Carlos Almeida era uma das testemunhas do processo ‘Noite Branca’ e segundo uma mensagem de telemóvel que a mulher de Bruno ‘Pidá’ mostrou era um informador da PJ neste caso. ‘Pidá’, líder do grupo da Ribeira, está preso por envolvimento em vários crimes entre seguranças da noite.
FUNERAL DE CARLOS ALMEIDA
A família não se conforma com a morte em circuns-tâncias ainda por explicar. No funeral estiveram conhecidos da noite e dos ginásios do Porto.
PRECISÃO DAS FACADAS APONTA PARA SUICÍDIO DO SEGURANÇA
A Secção de Homicídios da Polícia Judiciária de Lisboa já não tem praticamente dúvidas. Segundo fonte policial, “a precisão dos golpes” de faca no corpo do segurança anteontem encontrado morto no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, aponta para o cenário de suicídio.
Emanuel Marques, segurança da empresa Charon, 35 anos, foi encontrado pelas 13h10 de terça-feira estendido no chão de um corredor de serviço do piso 2 do Colombo. Ao lado do corpo estava uma faca, utilizada para desferir os três golpes na zona baixa do tórax, muito perto da boca do estômago. A precisão das feridas que causaram a hemorragia fatal torna “quase impossível” o homicídio, adiantam ao CM fontes policiais – porque as agressões com arma branca, em cenário de homicídio, originam “golpes desordenados pela reacção de luta instintiva da vítima”. E o segurança tinha as três feridas quase no mesmo sítio.
Perde assim credibilidade o comunicado de um grupo denominado DGJ que, ao final da tarde de terça-feira, enviou um e-mail às redacções dos órgãos de Comunicação Social a reivindicar o homicídio do segurança, justificando-o como um “acto de vingança”. A PJ espera pela autópsia.
NOTAS
[b]TESTEMUNHAS PROCURA-SE
Dezenas de pessoas saíam do cinema no Oeiras Parque à hora do homicídio de Diogo. A PJ precisa de testemunhas.[/b]
VELÓRIO DE DIOGO
O corpo de Diogo Pereira será velado amanhã na Igreja de Nova Oeiras. O funeral é na sexta-feira, em hora a definir.
MORTE DE TRAVESTI
A investigação ao homicídio de um travesti, em Lisboa, “tem sofrido evoluções positivas”, adianta ao CM fonte da PJ.
1280 RECLUSOS FORAM LIBERTADOS
As cadeias portuguesas perderam 1280 reclusos no último ano – cerca de 10 por cento do total da população prisional – precisamente no mesmo período em que entraram em vigor as novas leis penais, que limitam a aplicação da prisão e dificultam as detenções.
É a maior diminuição de sempre, de acordo com os dados mais recentes dos Serviços Prisionais: a 31 de Janeiro do ano passado havia 12765 pessoas presas, enquanto que este ano, e na mesma data, a população prisional totalizava 11485 reclusos. Até agora, a maior queda na população prisional acontecera de 2003 para 2004, assistindo-se à saída das cadeias de 766 reclusos. Já em 2007, havia apenas menos 124 reclusos do que em 2006.
Numa altura em que se assiste a uma onda de criminalidade violenta, os números preocupam os magistrados, que não têm dúvidas em apontar o dedo à nova legislação, admitindo ainda uma relação entre as dificuldades criadas à investigação e o sentimento de impunidade gerado.
“Tudo isto cria uma sensação de impunidade, de inoperância para as autoridades e de insegurança para as pessoas”, disse ao CM António Martins, presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses, considerando que “a actual legislação penal é seguramente responsável por grande parte destes números”.
Também António Cluny, presidente do Sindicato dos Magistrados do Ministério Público admite que “todos estes fenómenos não podem deixar de ser associados” e alerta: “O Governo cumpriu os objectivos de diminuir os presos, mas importa perceber se esta diminuição corresponde à realidade da criminalidade”.
Segundo os dados a que o CM teve acesso, a diminuição da população prisional é mais significativa entre os presos preventivos, mas a queda é generalizada: entre homens e mulheres e em todas as principais cadeias.
Só no primeiro dia do novo Código de Processo Penal (CPP), a 15 de Setembro, foram libertados 115 reclusos, devido às novas regras da preventiva. O artigo 257 do CPP é um dos mais polémicos da nova lei, uma vez que determina que a detenção fora de flagrante delito só pode acontecer quando houver “fundadas razões” para acreditar que o visado não se apresentará espontaneamente às autoridades – já foi pedida a sua alteração.
ACTAS DA REFORMA DIVULGADAS
O gabinete de Rui Pereira garantiu ao ‘CM’ que até ao final do mês será concluída a revisão das actas do processo da reforma penal, para posterior publicação. Os documentos poderão ajudar a desvendar a paternidade de algumas normas polémicas.
PGR REJEITA UMA EQUIPA ESPECIAL PARA LISBOA
O procurador-geral da República rejeita a criação de uma equipa especial do Ministério Público para a investigação à recente vaga de homicídios na Grande Lisboa, ao contrário do que decidiu em relação ao Porto – quando nomeou a procuradora Helena Fazenda para coordenar os processos relativos aos crimes relacionados com a noite da Invicta. Pinto Monteiro, à entrada para a apresentação do programa ‘Portugal Seguro – Estratégia de Segurança para 2008’, disse ontem que “condições especiais, só em casos especiais. E em Lisboa são casos isolados, não se justifica porque não há uma ligação que aponte para rede estruturada”.
MINISTRO RUI PEREIRA REFORÇA PREVENÇÃO E COMBATE AO CRIME
O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, apresentou ontem 15 medidas de carácter imediato, 10 das quais são essenciais para a contenção da onda de criminalidade nas áreas metropolitanas de Lisboa e Porto. A principal decisão passa pelo reforço, já em 2009, da PSP e GNR com mil novos efectivos cada.
O Governo ‘descongela’ assim as entradas de novos elementos nas duas forças de segurança. Fonte ligada ao processo disse ao CM que os dois mil novos agentes vão entrar ao serviço, o mais tardar, em Setembro de 2009.
A formação na PSP e GNR vai igualmente sofrer mudanças. Sete novas carreiras de tiro foram prometidas por Rui Pereira até final deste ano, assim como a distribuição efectiva de 10 mil novas pistolas Glock. O investimento total previsto para 2008, será de 62,5 milhões de euros.
As unidades de reserva da PSP (Corpo de Intervenção), e GNR (Batalhão Operacional), vão ser um recurso para o reforço do patrulhamento nos bairros problemáticos, onde passarão a ser efectuadas operações com mais frequência.
A videovigilância urbana, segundo Rui Pereira, vai ser alargada. O programa começou por ser testado no Porto, esperando-se para breve a instalação noutros concelhos.
As carrinhas de transporte de explosivos e valores, alvos apetecíveis do crime, serão dotadas de tecnologia de geo-referenciação. O sistema, testado no programa da PSP ‘Táxi Seguro’, será alargado também na prevenção do crime de carjacking.
A prática ilícita da segurança privada deverá ter, por vontade do Governo, os dias contados, estando prevista a responsabilização criminal das empresas e pessoas que não cumprirem a lei.
MEDIDAS PELA SEGURANÇA
1- Reforço de efectivos: Entrada de dois mil agentes, mil para a PSP, e mil para GNR.
2- Formação policial: Mais carreiras de tiro, 9 mil armas, e cursos legislativos.
3- Patrulhas nos bairros: PSP e GNR reforçam patrulhas nos bairros mais críticos.
4- Mais videovigilância: Alargar a videovigilância às zonas que o pedirem.
5- Sinalizar viaturas de risco: Carrinhas de transporte de valores sinalizadas.
6- Investigação centralizada: Secretário-geral vai centralizar trabalho das polícias.
7- Punir segurança ilícita: Criminalizar o exercício ilícito da segurança privada.
8- Polícia Municipal: Polícias municipais serão dotadas de mais armas e coletes.
9- Estudar crime juvenil: Criar observatório de estudo da delinquência juvenil.
10- Contratos de segurança: Governo e câmaras assinam contratos locais de segurança.
DETALHES
115 SAÍRAM NUM DIA
No dia em que entrou em vigor o novo Código de Processo Penal, a 15 de Setembro, 115 reclusos foram imediatamente libertados.
ARTIGO 257 É POLÉMICO
As mulheres juristas já pediram a alteração do artigo 257 do Código de Processo Penal, por dificultar as detenções fora de flagrante delito.
GNR APOIA REFORÇO DE HOMENS
José Manageiro, presidente da Associação dos Profissionais da GNR, considerou “positiva” a estratégia de reforço de mil homens do efectivo da GNR.
PSP COM IDEIAS OPOSTAS
Paulo Rodrigues, da ASPP, mostrou-se ‘satisfeito’ com as medidas do Governo. Peixoto Rodrigues, da ASG, considerou-as uma “acto de desespero”.
PROTECÇÃO DE TESTEMUNHAS
O ministro da Justiça, Alberto Costa, apresentou ontem o alargamento da Lei de Protecção de Testemunhas a novos crimes, como a corrupção.
ESTADO AJUDA COLABORADORES
O Estado vai ajudar a pagar as dívidas que resultem da colaboração de testemunhas com a justiça, como a mudança de casa ou de emprego.
Henrique Machado / João C. Rodrigues / Tânia Laranjo / Ana Luísa Nascimento / Miguel Curado
Não tratem de apanhar esse bandido , não. :twisted: