Posso dar um testemunho?
Passou-se no mês passado. Depois de pagar a minha Gamebox, fui até ao Pavilhão ver os preços e os horários da natação para bebés para o meu crianço de 6 meses. Cheguei ao balcão da secretária e atendeu-me uma senhora. Às tantas perguntei-lhe se, sendo eu sócio, a criança não tinha direito a um desconto. Ela olhou para mim com “Então e a criança, ainda não é sócia?!”. Fiquei um bocado atrapalhado e lá balbuciei qualquer coisa sobre falta de tempo e de uma foto tipo passe. Com um misto de severidade e pena, ela abanou a cabeça e sentenciou “Isso não são desculpas!” e pôs-se a falar-me da filha e da neta inscritas assim que nasceram. Só vos digo: fiquei tão envergonhado que só lá voltei dois dias depois com o papelito que atribuía o número 93700 e qualquer coisa ao meu bebézão.
Isto para dizer que se devia explorar mais o lado emocional e moral da ligação ao clube na publicidade. Não estou a dizer que não seja importante a história das “vantagens e descontos”, apenas que se pode apostar em várias cavalos. Eu, por exemplo, sinto que ser sócio é uma obrigação moral, cuja falta só se justifica em caso de dificuldades financeiras extremas. Por isso, as palavras da senhora da secretaria foram mais eficazes para mim do que mil campanhas. E penso que não sou o único a reagir assim.
E não é verdade que isso não possa ser passado para a publicidade. Estou a lembrar-me, por exemplo, do anúncio do Atletico de Madrid (possivelmente dos melhores do mundo nesta área) da época passada, que apelava exactamente a este sentimento. Filma um homem que vai visitar a campa do pai e se põe a confessar como já não aguenta mais apoiar o Atlético nem tem coragem para passar o amor ao clube ao filho. “Que lo dejo, padre! Que lo dejo!” A “resposta” do pai vem seca, através da árvore que está ao pé da campa: um bela estalada, como que a dizer: “Deixa-te de m*rdas e cumpre a tua obrigação!”. Simples, mas genial.
http://www.youtube.com/watch?v=_5NSO521hTA&feature=related
Por outro lado, também me irritam os “pseudo-vips” e não acho que seja obrigatório recorrer a eles. Os anúncios do Atletico são sempre sobre tipos comuns - um tipo que vai no trânsito com o filho, um soldado na Guerra Civil, um imigrante. O único spot personalizado que fizeram até agora foi com o sócio nº1 do clube. Era um anúncio em que o velhote ia dizendo “Aos 63 anos deixei de fumar. Aos 70 deixei o anis. Com esforço, fui deixando o vinho, o sal, o café, as apostas e as cartas. Mas atraiçoar o Atletico…!”
http://www.youtube.com/watch?v=3EtqkDLgC-E&feature=related
OK, dir-me-ão: “ah e tal, o Sporting é maior que o Atlético”. Talvez; mas experimentem ir ver um jogo do Atletico em casa para a Liga. Boa sorte! É que a quase totalidade dos 50000 lugares do Vicente Calderón estão vendidos como bilhetes de época.