Morreu Medina Carreira

Henrique Medina Carreira morreu esta segunda-feira, 3 de Julho, aos 85 anos, vítima de doença prolongada. Nascido em Bissau, capital da Guiné, a 14 de Janeiro de 1931, filho de António Barbosa Carreira, historiador, e de Carmen Medina Carreira.

Este advogado e consultor fiscal tornou-se uma personalidade conhecida do grande público pela sua presença assídua na televisão, onde comentava assuntos da actualidade económica.

Nos últimos anos era a referência do programa “Olhos nos Olhos” emitido pela TVI 24. Casou duas vezes e deixa uma filha, Paula, do primeiro casamento.

Medina Carreira passou duas vezes pelo Governo. A primeira logo em 1975, no VI Governo provisório, cujo primeiro-ministro era Pinheiro de Azevedo. Ocupou o cargo de subsecretário de Estado do Orçamento, sendo ministro Francisco Salgado Zenha.

Entre Junho de 1976 e Janeiro de 1978, Medina Carreira voltou o Governo, neste caso o primeiro constitucional para liderar a pasta das Finanças. O Executivo era chefiado por Mário Soares.

“O Governo foi talvez o sítio em que conheci gente mais sofisticada e mais hipócrita. As pessoas raramente dizem o que pensam”, afirmou Medina Carreira numa entrevista concedida à revista Sábado em Outubro de 2016.

Nessa entrevista revelou ainda que perdeu dinheiro quando foi para o Governo, mas não se queixava disso. “Não tenho extravagâncias, tenho sapatos com 25 anos e moro perto de um centro comercial onde há um italiano que é a minha ‘cantina’. Há dias estive no Porto e levaram-me a uma pousada bestial, daquelas onde se escolhe e quando o prato chega nem sabe bem o que é”.

Foi militante do PS, partido do qual saiu precisamente em 1978, por discordar da política económica que havia sido adoptada. Em 2006 apoiou a candidatura de Cavaco Silva à Presidência da República.

Em termos académicos, Henrique Medina Carreira passou pelo Instituto Militar dos Pupilos do Exército, de onde saiu com um bacharelato em Engenharia Mecânica. A seguir entrou na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa onde se licenciou em Direito, em 1962.

Também estudou Economia no Instituto Superior de Ciências Económicas e Financeiras, mas não concluiu o curso.

Enquanto comentador de assuntos económicos, Medina Carreira manteve sempre um discurso crítico relativamente à evolução das finanças públicas e ao aumento do endividamento e da despesa pública. Em Janeiro deste ano, numa emissão de “Olhos nos Olhos” fez mais uma das suas demolidoras críticas aos políticos nacionais: “Portugal é uma caso de falência democrática”, afirmou.

Um trombone chato, um tipo doce

Ao Expresso, numa entrevista publicada em 2009, rejeitou o rótulo de pessimista que muitos lhe atribuíram, a tal ponto que se transformou numa imagem de marca.

“Não sou pessimista. Chamam-me assim porque, para me responderem, tinham de ir trabalhar, estudar os números, raciocinar. Limitam-se a chamarem-me pessimista e dão repercussão a essa ideia. É a coisa mais estúpida deste mundo e é a fórmula cómoda de tentar anular o meu pensamento. Enquanto não vir gente capaz de tomar conta deste país, sou incómodo. Quando olho para os partidos, para estes dirigentes, não posso ser outra coisa. Os factos mostram que somos a pior economia da Europa e dos países mais endividados. Até hoje, não consegui arranjar uma pessoa para discutir comigo num programa na televisão”, afirmou.

Na mesma conversa, quis também desmistificar a sua imagem de homem duro. “Tenho este trombone assim chato, mas no fundo sou um tipo muito doce, muito afectivo, muito terno… Choro menos que Jorge Sampaio, mas choro com mais facilidade do que gostaria”, explicou ao Expresso.

Profissionalmente, a sua carreira fez-se na advocacia, consultoria de empresas e ensino universitário, tendo dado aulas no Instituto Superior de Gestão, Instituto Universitário de Lisboa e Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais.

Publicou vários livros, o último dos quais em 2012, “Olhos nos olhos: uma reflexão abrangente, realista e construtiva sobre o futuro dos portugueses”, escrito em parceria com Judite de Sousa, com quem começou por fazer o programa televisivo “Olhos nos Olhos”.

Sic. Jornal de Negócios

Morreu uma das pessoas mais lúcidas de Portugal.

Mais lúcidas de Portugal? No teu entendimento, só se for.

Para mim morreu uma pessoa ao qual o provérbio “olha para que o digo e não olhes para o que eu faço” se aplica que nem 1 luva.

O país é feito de pessoas e são essas que devem contar. Noutros tempos, era Salazar o presidente do Conselho, e todos os anos a economia crescia, reservas de ouro como nunca, balança comercial equilibrada.

E depois o povo era analfabeto, trabalhava de sol a sol e nem salário mínimo havia. Era 1 autentica pobreza franciscana.

Claramente não conheces as opiniões dele.

Grande Senhor. RIP.

Morreu um dos poucos homens livres que fala no espaço público português.
Que descanse em paz.

Faleceu um dos que representavam a liberdade intelectual no espaço de debate. Gostava de o ouvir. Podia discordar do homem, mas sempre eloquente e fiel ao seu discurso. Fazem-nos falta este tipo de debate, onde há uma troca de ideias sem complexos e sem amarras políticas.

Que descanse em paz.

Algures no Largo do Rato alguém suspirou. De Sócrates tenho a certeza que abriu uma garrafa.

Morreu um dos últimos livre-pensantes da política portuguesa, que não se compadecia com amiguinhos ou jotinhas.

Um Senhor.

Conheço e não me revia.

Em todo o caso, paz à sua alma.

Morreu um dos melhores comentadores portugueses. Descanse em paz grande Senhor Medina Carreira! As minhas condolências aos familiares deste grande senhor.

P.S: Alguns comentários que vejo na Internet dobre a morte deste senhor dão-me vómitos. Podiam não gostar das ideias deste senhor, mas deviam respeitá-las pois vivemos em democracia. Portugal, infelizmente, é perito em formar idiotas sem classe e respeito, tanto de esquerda como de direita.

Foi meu professor no ISCTE, e foi sem dúvida o melhor professor que tive durante o meu percurso académico.

Só o conhecia como comentador. Nem vejo muita televisão mas sempre gostei de ouvir as opiniões dele, mesmo quando não concordava totalmente com ele. Era das poucas pessoas pelas quais era capaz de ligar a televisão.

É verdade que por vezes era um pouco simplista e tornava-se repetitivo. E gostava muito de apontar os problemas e não dar soluções (embora enquanto comentador não fosse esse o seu trabalho). Mas o que ele dizia não deixava de ser verdade.

Era um dos poucos economista/comentadores para o qual 2+2 continuava a ser 4, independentemente de todas as engenharias e politicas financeiras que se foram inventando. A visão dele sobre a economia portuguesa era assustadora mas como se viu tornou-se bem real. Fazem falta algumas pessoas desta. Pessoas sem merdas que dizem as coisas sem rodeios. Não fossem as suas explicações e aqueles gráficos mal amanhados e imprimidos à ultima da hora, não percebia nada do que se passava com o país nos tempos mais fortes da críse.

Paz à sua alma. :frowning:

Paz à sua alma…

Que descanse em paz.

R.I.P. :frowning:

Como li algures: dos poucos que sabiam fazer contas no (do) País.

Juntando ao estar-se a borrifar para o que pensavam do que dizia acertadamente sobre os mais variados temas, perdeu-se um grande homem.

Requiescat in pace.

Podia presentemente ocupar a PR alguém do calibre deste, mas o eleitorado português deu ao candidato em causa uns reveladores e avassaladores 0,84%.

Morreu dos poucos homens que respeito na política.

E com respeito não significa que concordava com ele.

Condolências à família.

Henrique Medina Carreira vai fazer falta ao país, mesmo àqueles que dele discordavam, porque era um homem livre e independente. E como fazem falta os Homens que dizem que o pensam, e sobretudo os que estudam antes de o fazer. E esse o maior legado que nos deixa, e uma responsabilidade.

“Não sou pessimista. Chamam-me assim porque, para me responderem, tinham de ir trabalhar, estudar os números, raciocinar. Limitam-se a chamarem-me pessimista e dão repercussão a essa ideia. É a coisa mais estúpida deste mundo e é a fórmula cómoda de tentar anular o meu pensamento”, afirmou numa entrevista ao Expresso, em 2009. E não era, ou era, na versão de Marcelo, ‘irritantemente pessimista’. O problema é que tinha razões para o ser e, por isso, mais do que pessimista, foi um homem com razão antes do tempo. Uma década antes do tempo. Infelizmente, esteve anos a falar sozinho.

(…)

Nunca aceitou o princípio de que o ‘respeitinho é muito bonito’, especialmente em relação aos que nos governam, à esquerda e à direita. Nunca aceitou as mordomias. Disse-nos às vezes o que não queríamos ouvir, com aquele ar rezingão que só agravava o tom da mensagem. Semana após semana, atirava-nos gráficos e quadros e dizia-nos que poderíamos optar por trabalhar pouco e apostar no sol e praia, mas acrescentava: depois não podemos é querer viver como os alemães e os suecos.

Medina Carreira partiu e haverá muitas lágrimas de crocodilos. Para esses, o melhor que se pode fazer, a melhor homenagem a quem sempre defendeu um país melhor para os nossos filhos e netos, para as próximas gerações, é mantermos o saudável princípio do ceticismo. Com números, com gráficos e quadros, tudo o que possa suportar a crítica fundada a uma certa forma de política que nos quer enganar.