Conheces aquele pessoal que, sempre que os encontras, garantem saber o segredo profundo da existência, que lhes chegou através de uma visão caleidoscópica transmitida pelo espírito de um antepassado de um alien com quem se cruzaram numa rave, e insistem em revelar-te com o ar mais sério do mundo, através de um discurso circular, interminável e desconexo para ti, porque tu obviamente… “não estás a ver”, e cujas virgulas são sucessivos charros king size, enrolados numa mortalha castanha (das que “não te fazem mal”) e feitos com uma “ganza altamente”, geneticamente modificada, porque a normal já não bate?
Se os conheces, sabes que a diferença entre esses momentos de iluminação celestial e o desempenho de coisas importantes (como terem que ir comprar pão à padaria, a pedido da mãe), é resolvido com mais tabaco na ganza, para não darem tanta “bandeira”.
É mais ou menos aquilo que se passa com a TVI24 e com os 3 artolas “iluminados” que escolheram para comentadores de futebol, num programa enjoativo que vai variando de nome, mas sempre “Mais” qualquer coisa, em referência ao tabaco adicional que metem para poderem falar em directo.
Vejamos os personagens:
O BANHADAS À BRAZ
O líder (há sempre um, geralmente unânime por motivos práticos - é o que conhece o dealer) é um lampião doente que vive numa luta tremenda contra si próprio, uma vez que tenta simular uma isenção que geralmente é traída logo à segunda frase que debita sobre qualquer assunto.
Se se estiver a falar do asfalto usado na construção de uma auto-estrada, ele descobre imediatamente que tem informações (as tais!) de que “pode” ser igual ao asfalto usado no Seixal, que a auto-estrada, apesar de ser entre Valência e Sevilha, seguindo em frente “pode” levar até à Luz, ou que os construtores “podem” ter sido formados no benfica.
É um verdadeiro filósofo do irreal, um guru da interpretação, um visionário do vermelho, uma espécie de definição léxica do conceito de “pode” ou mesmo, como dizem alguns, um “pode” com pernas e sapatos vermelhos.
Não é preciso alongarmo-nos muito, porque falamos de alguém sem remédio.
Segundo “informação que nos chegou”, alguns especialistas “parecem” concluir que o seu estado actual “pode” dever-se ao “facto” de ter sido amamentado a leite de erva e alimentado a saladas de cannabis, em toda a juventude.
O PEDRO SONSO
O líder é acompanhado por um sportinguense ressabiado e aziado, dono de uma falta de isenção peculiar: não é a favor de uma cor específica, mas sim contra qualquer tom de verde que não inclua croquettes.
É muito divertido, porque faz umas caras muito sérias e tenta falar com um tom grave e pausado, enquanto debita generalidades “cósmicas” e tão destrambelhadas e desconexas (algumas contradições chegam mesmo a ser infantis) como as dos outros.
É o protótipo daquele menino wannabe-benzoca que se junta sempre aos outros para fumar umas valentes, mas quando os vê fora do “spot” finge não os conhecer e é o primeiro a participar com a sua indignação em conversas sobre os malefícios da droga e a juventude perdida, coitados.
O GORDO-QUE-NUNCA-NOS-LEMBRAMOS-DO-NOME
Por fim, há um gordo imenso que, curiosamente, não é lampião (deve ser o único balofo-não-lampião de todas as TV’s).
Na verdade, não interessa muito de que clube é, porque a sua falta de isenção é mais peculiar ainda: é uma espécie de yes-man dos outros dois. Se um diz uma coisa, ele está de acordo. Se o outro diz o contrário, ele está de acordo também. Quando o próprio quer dizer alguma coisa, desmultiplica-se em desculpas com medo dos calduços que poderá levar de seguida e em ressalvas que lhe permitam depois concordar com o contrário do que afirmou. Um verdadeiro case-study!!!
Mantendo-nos na analogia (muito apropriada para abordar o caso, até por ser um conceito que começa por ‘anal’) este é o protótipo do gordo bonacheirão e algo panhonha, que acaba sempre por ser o bobo da corte e levar uns calduços a propósito de tudo e de nada, mas volta sempre por não resistir ao cheiro, mesmo que só lhe calhem, invariavelmente, as “pontas”.
Que os gordos panhonhas levam sempre calduços, toda a gente sabe. Tal como toda a gente sabe que é por isso que a esmagadora maioria deles se torna lampião: para terem refugio entre “os-que-são-mais”, tal como acontece com a generalidade dos incompetentes desta vida. O curioso aqui é este ter conseguido resistir a tornar-se adepto lampião. No entanto, por vias das dúvidas não só não os contradiz, como até alinha nas invenções delirantes, não vá ficar sem a “ponta”.
Como vês, é uma fauna interessante. Se um dia formos dominados e submetidos por alguma raça superior de aliens, dos tais que eles juram ter visto numa “trip” qualquer, estes tipos são dos principais candidatos a serem expostos nos jardins zoológicos de Andrómeda ou apresentados nos circos de Orion.
COMO SE “ENROLAM” AS REVELAÇÕES CÓSMICAS
Tal como faziam em jovens, nas horas difíceis, tentam meter mais tabaco.
Primeiro, dão-lhe forte e feio, para terem visões que lhes permitam aceder aos segredos cósmicos e ficarem com material suficiente para fazer o programa.
Quando se aproxima a hora do directo, metem mais tabaco, para tentarem não dar muita bandeira.
Mas, tal como a dona Odília da padaria, que já na altura cá andava há muitos anos, percebia logo o estado de quem estavam, quando lhe pediam “Erdam tbdrês pães, sblrdáchavôr”, também hoje os espectadores pelo menos desconfiam quando vêem 3 artolas cujo traço comum é o desfilar de coerências que não resistem à segunda frase. A não ser que sejam espectadores lampiões, para quem o discurso de alguém frito não é muito diferente do seu.
Eu sei que o caso é bem mais complexo e patológico, mas pelo menos tentei resumir.
Espero que tenhas ficado elucidado.
:great: