Manuel acordou cedo nesse dia. Combinou encontrar-se com o novo advogado, Manuel Rodrigues, na estrada de Valongo dos Azeites. Queria provar-lhe que quando ali passa o seu identificador apita, e que isso não significa que se esteja a aproximar da mulher, mas apenas a passar na estrada que fica a menos de 400 metros da casa onde ela vivia. O advogado deu-lhe boleia, verificaram o aparelho, que nesse dia não apitou, e seguiram para São João da Pesqueira, a 12 quilómetros, onde Manuel iria ser ouvido pela juíza. “Ele queria que ela lhe retirasse a pulseira e acabasse com os apitos lá do aparelho dele”, contou Norberto Santos, dono do restaurante “O Sobreiro” e grande amigo de Manuel “Palito”. Chegaram a São João da Pesqueira, seguiram para tribunal, mas a juíza faltou. O advogado levou-o de volta a Valongo, onde Manuel pegou no carro e seguiu para casa. Terá sido nessa altura que pegou na caçadeira e a guardou na mala do carro. Como não tinha o que comer, foi almoçar ao restaurante “Sobreiro”, do amigo Norberto Santos. “Chegou já tarde, deviam ser umas duas, duas e pouco”, conta o proprietário. “Eu e a minha mulher sentámo-nos à mesa e comemos com ele”. Pediu carapauzinhos fritos com feijão frade, bebeu dois copos de vinho e terminou com um carioca de limão. “Durante o almoço ele esteve sempre tranquilo. Queixou-se lá de a juíza ter faltado, mas nada de grade. Estava normal. Falámos do Benfica, que era o assunto preferido dele. É um benfiquista fanático”. Antes de sair, Manuel passou pelo balcão e despediu-se com um “até amanhã”, conta Norberto Santos. Já passava das quatro da tarde.
Manuel “Palito” entrou no carro, o Toyota Azul que chegou a dar ao filho, mas que lhe retirou quando o filho se chateou com ele, e seguiu para Valongo dos Azeites. Dirigiu-se à casa da tia da ex-mulher e quando estava quase a chegar o seu aparelho começou a tocar, tal como o de Maria, que o terá ignorado já que era coisa que acontecia com frequência. A pouco menos de 200 metros do local onde a ex-mulher estava, avistou o amigo Domingos Jesus. “Chamou-me e pagou-me 15 euros que me devia por eu ter andado a pôr herbicida nas terras dele. Depois seguiu”, conta o homem.
Um pouco mais à frente, voltou a parar o carro, pegou na caçadeira, e dirigiu-se a um anexo em frente à casa da tia de Maria Angelina, onde existe um forno. “Estavam lá a Maria, a filha Sónia, a mãe Maria Lina e tia Elisa. Tinham passado o dia a fazer bolinhos da Páscoa e iam pô-los no forno”, lembra Miquelina Canelas. “Ele nunca dizia que ia matar a mulher. Mas dizia que aquelas mulheres tinham dado cabo da vida dele, e que ele ia dar cabo da vida delas”, acrescenta António Canela.
Foi o que fez. A 17 de Abril de 2014, às 16h35, Manuel disparou cinco tiros. Matou duas pessoas, a sogra, Maria Lina, e a tia da ex-mulher, Elisa Barros, feriu outras duas, a ex-mulher e a filha. Nesse dia, deu cabo da vida delas, e da dele.