Manda carta ao Diário e suicida-se a seguir na Lagoa das Sete Cidades…
Ontem, quando recebemos uma carta que tinha como remetente “Carlos Alberto de Freitas, Travessa da Piedade 66, Arrifes”, não suspeitamos que pudesse ser uma nota suicida. A carta tinha sido enviada pelo correio no dia 2 de Setembro e o palpite usual era que fosse uma carta de um leitor a dar-nos conta de alguma injustiça.
Não é todos os dias que recebemos cartas a anunciar um suicídio pelo que não existe propriamente um manual sobre o que fazer.
Quando a começamos a ler percebemos que podia ser a sério. Ligámos à PSP para confirmar se tinha conhecimento de algum suicídio envolvendo o remetente – esperando no íntimo que nada daquilo se concretizasse. Mas pouco depois tivemos a confirmação: era a mesma pessoa que há 3 dias fora encontrada sem vida na Lagoa das Sete Cidades.
Um dos dramas desta carta é que revela uma pessoa educada e empreendedora que vendo as suas condições económicas degradarem-se entrou numa situação de “bloqueio de vergonha” – algo que conhecemos bem na nossa terra.
Pelo que é narrado na carta, trata-se de uma pessoa natural da Madeira, que investiu em S. Miguel cerca de 60 mil euros numa loja de vinhos. O negócio não foi bem sucedido e depois de ir à falência foi trabalhar numa empresa que recentemente também anunciou falência.
Ao ter tentado acesso a uma prestação de desemprego, alega que lhe foi negada pelos serviços oficiais, o que terá sido a “gota de água”.
Vendo-se sem qualquer rendimento para sobreviver e sem qualquer outro apoio concreto, afirma que “perante esta situação, a juntar a muitas outras fragilidades de que padecia, senti-me com a necessidade de me eliminar”…
Obviamente que nós nos resta lamentar profundamente esta decisão. Os jornais servem muitas vezes exactamente para resolver problemas de injustiças que continuam acontecendo na nossa sociedade.
As pessoas envolvidas neste caso (que não mencionamos pelo seu nome de forma propositada) saberão melhor que nós da justiça das suas afirmações.
Mas como este caso demonstra em extremo, as pessoas não podem ser tratadas como se fossem números ou simples objectos. Cada um de nós tem as suas complexidades, defeitos e fraquezas. Não somos máquinas. Talvez um outro cuidado no tratamento deste caso pudesse ter evitado este trágico desfecho! E mesmo que se tivesse queixado ao Diário dos Açores, tendo em conta as nossas crescentes limitações, talvez não o tivessemos conseguido ajudar. Mas isto é algo que nunca saberemos.
Descansa em Paz, Carlos Alberto de Freitas, a Paz que não encontraste neste mundo!
In Diário dos Açores