TRÊS JOVENS DO SPORTING SERÃO FUTEBOLISTAS DO CHELSEA NA PRÓXIMA TEMPORADA
Eles estão proibidos de jogar
É sexta-feira. A instalação sonora da Estação de Campanhã, no Porto, anuncia a chegada de mais um comboio proveniente de Lisboa. Adrien é um dos passageiros e à sua espera está a mãe, Annicke Silva, que depois o levará, de carro, até Arcos de Valdevez, onde residem.
Nos últimos três meses, é esta a rotina do jovem jogador do Sporting, que regressa à Academia do clube, em Alcochete, ao domingo. O fim-de-semana é passado em casa, na companhia dos pais, órfão do futebol e da sua equipa.
Adrien, capitão dos iniciados que o ano passado se sagraram campeões e titular indiscutível da selecção de Sub-16, está impedido de jogar pelo clube de Alvalade depois de ter visitado, mais do que uma vez, as instalações do Chelsea – e treinado, segundo a versão do Sporting. Com 16 anos completados em Março, Adrien pode ainda optar pela selecção francesa se desejar e ao mesmo tempo vai acumulando mágoas, a última das quais pelo facto de não ter recebido a taça referente ao título de iniciados, em Alvalade, no intervalo do Sporting-Rio Ave, esta época.
A exemplo do que acontece com Adrien, cujos pais foram emigrantes em França, também Ricardo Fernandes é interno e está impedido de jogar. De segunda a sexta-feira passa a vida entre a Academia e a escola, rumando depois a casa, em Leiria, para passar o fim-de-semana com os pais. Vítor Manuel, jogador do Sporting em finais da década de 70 e início de 80, recusa entrar em polémicas e prefere preservar o filho, resguardando-o de toda esta polémica.
“O mais importante, neste momento, é que o Ricardo (Fernandes) termine com sucesso mais um ano escolar. Esta não é a melhor altura para falar sobre este caso. Talvez lá mais para a frente.”
Receio
O silêncio impera de um lado e do outro da barricada. O máximo cuidado na abordagem do assunto também se percebe. O Sporting, que enviou dois faxes tendo o Chelsea como destinatário e apenas recebeu resposta a um, desvaloriza a questão financeira e parece mais preocupado com a ética ou a falta dela.
Ao mesmo tempo, recusa uma tomada de posição pública, alegando que o caso está entregue ao departamento jurídico. Mas, segundo uma fonte do clube de Alvalade, os leões “têm provas” de que os jovens “estiveram em Londres antes de Janeiro” e acusam os pais dos miúdos de promoverem a mentira. "Um dia chegavam atrasados devido ao nevoeiro, outras vezes devido ao trânsito. Tivemos empresários que nos ligaram, dando conta de que eles estavam em Londres e eles chegaram a ser filmados no aeroporto no dia em que regressavam depois de terem prestado provas no Chelsea”, garante fonte leonina que tem acompanhado o processo desde a primeira hora.
Paris
A história remonta a finais de Outubro de 2004 e tem como cenário os arredores de Paris. No Torneio Vale du Marne, competição para a qual Portugal costuma ser convidado todos os anos, emissários de vários clubes europeus, entre eles o Chelsea, fizeram-se representar.
As actuações dos três miúdos, todos eles titulares, encantaram os observadores e rapidamente a informação chegou aos pais, através de empresários.
Carlos Ferreira, pai de Fábio Ferreira, garante que logo nessa altura alertou o Sporting para o interesse suscitado pelo filho durante o torneio em terras gaulesas. “Um responsável do Sporting, cujo nome prefiro omitir, desvalorizou o caso com o argumento de era apenas uma conversa de empresários à qual não deveria prestar atenção.”
Grato ao clube que, na sua opinião, “melhor trabalha em Portugal ao nível da formação”, Carlos Ferreira defende que o Sporting cometeu um erro estratégico. “Há já algum tempo que vinha tentando alertar o clube para o risco que corria (ausência de acordo para a assinatura de um contrato de formação). Quando tinha disponibilidade, eles não tinham; quando tinham eles, não tinha eu. O Sporting cometeu um erro e agora custa-lhe a admitir isso mesmo”, ressalva o progenitor de Fábio, também ele jogador de futebol.
Carlos Dinis: «Tenho muita pena de não os convocar»
Carlos Dinis é o treinador da selecção de Sub-16 e, nessa qualidade, lamenta o facto de não poder convocar os miúdos, peças fundamentais na equipa pela qual é responsável. "Tenho muita pena de não os convocar, porque são jogadores de qualidade, com talento, qualquer um deles titular indiscutível da selecção. E não os convoco porque estão sem competição – e mesmo ao nível de treino não é o que era. Trata-se de uma situação litigiosa com a qual nada tenho a ver.
Transferência provoca guerra de empresários
A transferência dos três jovens do Sporting para o Chelsea ainda vai fazer correr muita tinta. O empresário Paulo Teixeira foi o primeiro a servir de intermediário entre o clube londrino e os pais dos jogadores mas neste momento apenas um deles admite a interferência do agente brasileiro.
“Tenho uma procuração dos pais dos jogadores para tratar do assunto”, garante Paulo Teixeira. Já Manuel Silva, pai de Adrien, não faz a mesma leitura. “Gosto que tudo seja tratado de uma forma correcta e a determinada altura apercebi-me de que Paulo Teixeira não estava a ter esse procedimento em relação ao Adrien. Por isso, o empresário que neste momento está envolvido na transferência é um francês, Teni Yerima (também representa Ricardo Fernandes, soube o nosso jornal). Mas também já lhe disse que gosto que tudo seja tratado com honestidade. De outra forma?”
Sporting irá receber uma indemnização
O regulamento da FIFA estipula que o clube formador tem direito a receber uma compensação financeira mas apenas quando o atleta assinar contrato profissional.
Segundo João Nogueira Rocha, árbitro do Tribunal Arbitral do Desporto, “a Circular 826 do regulamento prevê que o valor de compensação é, entre os 12 e os 15 anos, de 10 mil euros/época. A partir dos 16 anos, esse valor aumenta para 90 mil.”
Os jogadores estão no Sporting há três anos e completaram 16 anos há pouco tempo.