SÓCIOS: O PARCEIRO VIP
Não entendo como ex-dirigentes continuam a ‘carregar’ sobre determinados sectores de Sócios e adeptos, desprezando a importância estratégica que os mesmos têm para o crescimento do negócio
José Ribeiro
Texto
1 de Junho 2020, 12:00

Sem surpresa, nos últimos dias voltaram a ouvir-se e ler-se ex-dirigentes do Sporting a ‘carregar’ sobre determinados grupos de Sócios e adeptos, fossem eles os chamados ‘Brunistas’, fossem eles as ‘Claques’ (e sim, são coisas bem distintas). Para o ex-Presidente Soares Franco, existe um grupo de ‘radicais’ ligados a Bruno de Carvalho que só pretende instalar a confusão no Clube; o ex-dirigente Carlos Barbosa da Cruz, mais explícito, vai ao ponto de ‘solicitar’ à Comissão Executiva da SAD que proíba a venda de ingressos para a ‘Curva Sul’ a elementos afetos aos Grupos Organizados, lutando assim por dar forma ao sonho do ex-administrador Miguel Cal, defensor da ‘higienização’ dessa bancada.
Para quem mete tudo no mesmo ‘saco’, explico o óbvio, o que qualquer Sócio ou adepto, habitual frequentador do Estádio e do Pavilhão (com lugar fora das zonas corporate) sabe: os ‘radicais Brunistas’ não se juntam num sector, na verdade estão um pouco por todas as bancadas (especialmente nas B e nas Superiores A) e por todo o Pavilhão (maioritariamente nas centrais). Já as Claques, por feliz decisão da Comissão Executiva da SAD liderada por Bruno de Carvalho, encontram-se exclusivamente na Curva Sul (Superior A Sul).
Os ‘radicais Brunistas’ pedem um Sporting exigente com os resultados em qualquer modalidade e não um que desculpe a ausência destes; pedem um Sporting que não se vergue às vontades dos poderes exteriores e não um que estabeleça acordos ou parcerias com os mesmos por receio de represálias; pedem um Sporting que respeite Sócios e adeptos como parceiros, e não que os olhe como meros clientes; pedem um Sporting que não tenha medo de crescer e não um que se revele conformista. Muitos defendem o ‘Brunismo’ como modelo e não querem sequer ouvir na possibilidade do ex-Presidente voltar a ocupar a cadeira. Já as Claques pedem uma única coisa e muito simples: que os deixem viver a paixão que têm pelo Sporting da forma que sabem, que é a apoiar as nossas equipas até perderem a voz, em vez de serem tratados como ‘escumalha’ ou ‘lixo’.
Uns e outros têm importância estratégica para fazer crescer o negócio e desprezá-los nunca será a decisão mais sábia, apenas a mais revanchista, egoísta e contrária aos interesses do Sporting Clube de Portugal. Explico porquê:
1 – OS SÓCIOS. Este conjunto de pessoas é o parceiro VIP de Clube e SAD e devia ser tratado como tal, nunca como mero cliente. O coletivo ‘Sócios’ representa ganhos financeiros anuais ‘garantidos’ de valor muito significativo. No Grupo Sporting (Clube e SAD), em 18/19, Sócios e adeptos foram responsáveis pela entrada direta de cerca de 23 milhões de euros nas contas, entre quotas, bilhética (não conto aqui com as verbas do corporate) e merchandising, isto representa cerca de 32 por cento das receitas totais (‘esquecendo’ a quantia recebida pelas inscrições nas modalidades)! Só a venda de Direitos TV é mais rentável, e mesmo assim, para já, por pequena diferença. Ora, se olharmos ao Relatório e Contas do primeiro semestre da SAD, relativo à época em curso, verificamos que as receitas obtidas através de Sócios e adeptos iriam ficar em linha com o verificado há um ano, mesmo tendo em conta a perda de bilhética registada no Clube (não houve etapa europeia de apuramento no futsal, nem houve final da Taça dos Campeões Europeus de hóquei em patins). Claro que por força da pandemia, os resultados vão cair muito, mas disso não pode ser responsabilizada a administração da SAD nem o Conselho Diretivo do Clube. Em todo o caso, o meu ponto é este: as receitas provenientes de Sócios e adeptos estão a estagnar ou até a baixar, quando o pretendido é que subam, dado existir aqui um potencial mínimo bem superior a 25 milhões. Por isso, no lugar de Frederico Varandas, se quiser colocar os interesses do Sporting acima de tudo, dispensava os conselhos destes ‘amigos’ que apresentam medidas para ostracizar sectores de Sócios e adeptos, o que inevitavelmente levará a uma progressiva diminuição de receitas.
2 – AS CLAQUES. Há Sócios que gostam de assistir ao jogo a partir de um local tranquilo, e há Sócios que necessitam fazer ouvir a sua paixão e por isso optam pela Curva Sul, seja na Torcida, no Directivo, na Juve Leo, na Brigada ou nas cadeiras que não são ocupadas pelos GOA. No nosso estádio há e tem de haver lugar para todos. Em vez de se patrocinar a saída das Claques da Curva Sul, devia, isso sim, dar-se continuidade ao projeto que estava em marcha junto da FPF, no sentido de obter junto da UEFA a autorização para retirar as cadeiras daquele sector, à semelhança do que fez o Borussia Dortmund, para conseguir ‘erguer’ o ‘muro amarelo’. Ganhava-se em ambiente, no aumento de assistências e, por consequência, em receitas. Quando falamos de Claques falamos igualmente de Sócios, pois no tempo de Bruno de Carvalho a venda da Gamebox passou a ser negada a adeptos. Por vezes excedem-se? Claro que sim. Por vezes prejudicam o Clube? Também. Mas no deve e haver o saldo positivo está do lado deles, dos que transformaram o Pavilhão João Rocha num caso único no país, dos que seguem a equipa até ao fim do Mundo, dos que só pedem que os deixem dar tudo no apoio às nossas equipas (e não me venham com a história de Alcochete, porque ninguém consegue controlar a totalidade de grupos tão vastos). Porque criticam o Presidente Frederico Varandas são ‘escumalha’? Não. São vozes discordantes. E era só o que faltava se em democracia não pudessem expressar o seu pensamento, não pudessem exercer o seu sentido crítico. Também o fizeram com Bruno de Carvalho. É bom sinal. Não se ‘vendem’ às lideranças do Clube, têm autonomia. Da mesma forma que Varandas pode dizer não ser contra as Claques, mas apenas contra as suas lideranças, as Claques também podem dizer que não são contra o Sporting, mas apenas contra a sua liderança! Ação gera reação. E isso pode fazer-nos esquecer que a porta das Claques serve de entrada para milhares de adeptos se tornarem Sócios? Pode fazer-nos esquecer que sem eles o estádio mais parece uma sala silenciosa de cinema? Ou que sem a voz deles a ouvir-se o FC Porto jogou em Alvalade no passado mês de janeiro como se estivesse no Dragão, durante quase toda a primeira parte? Alguns dos Sócios mais antigos são os maiores contestatários das Claques, mas já se deram ao trabalho de analisar a atual estrutura associativa do Clube? Faço um resumo: ao dia de hoje, os Sócios com mais de 25 anos de filiação (aqueles que vêm do século XX) são cerca de metade daqueles que se associaram apenas desde 2013 (estou a excluir os que não têm ainda direito a voto), e sim, é neste grupo que estão muitos dos chamados ‘radicais Brunistas’ e ‘escumalha’. Há, portanto, que saber gerir os conflitos com uma grande dose de bom senso, caso contrário o maior derrotado será sempre o Sporting Clube de Portugal.
3 – OS NÚCLEOS. Imagine-se que Frederico Varandas também dizia não ser contra alguns Núcleos mas apenas contra as suas lideranças. E seguindo a lógica que usou com as Claques, poderia fazê-lo. Porque existem inúmeros Presidentes de Núcleos que já criticaram e criticam de forma sistemática a ação dos atuais Órgãos Sociais. Claro que retalia da forma como entende, não comparecendo, por exemplo, aos seus aniversários. Mas não os hostiliza. E faz muito bem. Porque aqui reside outro dos pólos principais para a dinamização do negócio Sporting. De 2013 aos dias de hoje foram reativados inúmeros Núcleos. Foram instituídas cotas mínimas de associados em cada Núcleo, e na generalidade dos casos onde a percentagem de Sócios rondava os 25 por cento, hoje estará perto ou acima dos 50. E também aqui existem muitos ‘radicais Brunistas’ e ‘escumalha’. Mas, a bem do futuro do Sporting, quem lidera o Clube tem de ter estômago para lidar com a situação e tentar aumentar as receitas e o apoio gerado por esta teia que garante o sportinguismo em todas as regiões do país e em muitas cidades estrangeiras. E quem não tem estômago para defender os interesses do Sporting acima dos próprios, fica com um único caminho: o da rua.
P.S. Dizer apenas isto sobre a decisão do ‘processo Alcochete’: as juízas ‘leram’ os acontecimentos do ataque à Academia (quem, como, porquê) exatamente como o fiz… a 16 de maio de 2018. Na ocasião, na qualidade de assessor de imprensa do Sporting, expliquei, de forma repetida, a inúmeros jornalistas e comentadores esse mesmo ‘quem, como e porquê’. Nenhum acreditou que a resposta fosse tão óbvia e fácil. Queriam, desse por onde desse, uma ‘teoria de conspiração’. Temos pena…
Leonino