HOTEL CHELSEA 10
por José Mourinho in Revista RECORD DEZ
Resposta a Peseiro
ESCREVO A MINHA crónica semanal no meu portátil, muitas das vezes em viagem, envio-a por e-mail para a RECORD DEZ, arquivo-a numa pasta com o nome da revista e obviamente não a leio já impressa porque não estou em Portugal. Confio nas pessoas e, naturalmente, estou certo de que não há alterações ao conteúdo do meu texto. Assim sendo, depois de me terem dito que o Zé Peseiro não gostou das minhas “críticas à pressão do Sporting”, fiquei boquiaberto. Fui ler o que enviei, li e reli, e peço que me digam onde está a crítica. Crítica ao Sporting e a Peseiro? Onde? Crítica à fobia dos que falam de pressão? Sim. Crítica aos que pensam que a pressão alta é infalível? Claro. Crítica aos que julgam que a pressão tem mais importância que a posse? Também. Mas onde está a crítica ao Sporting? O Zé não é parvo, por isso ou não leu e alguém o induziu em erro, ou leu, mas como qualquer treinador que não está feliz, não o fez tranquilamente e errou na sua análise. Se o tivesse feito depois de ganhar no Funchal, tudo seria mais rosa.
Não posso dizer que, das seis equipas portuguesas que vi na primeira jornada, aquela que mais gostei em termos de organização defensiva foi a Académica? Não posso dizer que, em determinadas equipas com determinadas características, a pressão alta não é a melhor? Não posso dizer que em Portugal se fala demais em pressão e que comentadores e treinadores exageram nesta terminologia? Critiquei a pressão do Sporting? Onde?
Relativamente a Ricardo, não disse que o jogador foi no Boavista muito melhor do que agora e, por isso, não estamos a falar de um mau jogador, mas sim de um jogador em mau momento? Defendi que fosse afastado ou defendi que um jogador neste estado emocional precisa de objectividade? Disse que devia deixar de jogar? Não! Disse que os seus dois treinadores deveriam, em conjunto, definir um plano de recuperação do jogador por decisão unânime, ou dando-lhe confiança ilimitada ou retirando-o do stress competitivo. É uma opinião de alguém que acredita que, nestes casos, o jogador precisa de tranquilidade e certezas, não de dúvidas e conflitos emocionais. Onde está a crítica?
Quanto à Udinese, fui eu quem disse que não tinha qualidade? Parece-me que foram o presidente do clube e o próprio Zé Peseiro que afirmaram a diferença de qualidade entre as duas equipas, comparando-a até com a do Belenenses. Ou estou enganado? Não referi eu que os jogadores do Sporting são melhores? Não escrevi, a título de alerta, que “não fossem gulosos”, que os italianos causam sempre perigo e se sentem confortáveis a serem dominados? Não desejei que o Sporting se juntasse ao Porto e ao Benfica, numa histórica tripla de portugueses na Champions League?
Foram interpretações totalmente equivocadas e que, apesar de não me preocuparem, lamento. Lamento-as não por mim, que a vida ao mais alto nível de exigência me ensinou que tenho de preocupar-me com o essencial e esquecer o acessório. Lamento-as pelo Zé, que me pareceu muito forte e determinado no início da época e se está a fragilizar com histórias de perseguições. Se confiar mais em si, se for igual a si próprio, se tiver um grupo forte e que acredite nele, se mostrar firmeza e se se “borrifar” para o que lê e ouve, seguramente vai ganhar mais vezes e chegar aos títulos. Quando isso acontecer, pode ter a certeza que ficarei feliz por ele, pelo Luís e pelo Eduardinho. A única coisa que lhe “invejo” é ele treinar todos ao dias ao sol!
E já agora aproveito para dizer que, com a eliminação do Sporting da "Champions ", a Taça UEFA ganhou um candidato à vitória final. Será um elogio ou uma crítica? E o que Jorge Barbosa e Litos escreveram na segunda-feira, fui eu quem lhes disse para escreverem? Fui eu quem disse que a equipa é coxa?