Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho
Pablo Neruda
Terminou a campanha eleitoral, e todos os que acompanharam de perto estas eleições devem suspirar de alívio porque mais uns dias e só faltava ao Canal Caça e Pesca organizar um debate com os candidatos. É o problema de haver 5 candidatos: ninguém quer ser o único a rejeitar a presença e aparecem sempre todos. Um claro contraste com as últimas eleições. Passamos do 8 para o 80 com a mesma facilidade com que o último candidato derrotado passou a partilhar das mesmas ideias que o vencedor.
Falava em conversa com alguns sportinguistas que me diziam ir votar no Godinho Lopes. O que me assustou mais foi essa decisão ter sido tomada com desconhecimento de causa. Sem saber, por exemplo, que Luís Duque tem um termo de identidade e residência por estar indiciado por corrupção no caso BPN e que não poderá, por isso, sair do país.
Provavelmente também não saberão que Godinho Lopes foi julgado no âmbito de um processo de corrupção na EXPO 98, e que, tendo sido absolvido, o colectivo da 5ª Vara Criminal de Lisboa não deixou de vincar que as dúvidas subsistiram, nomeadamente em relação à conduta de Godinho Lopes e Januário Rodrigues.
Ironicamente, esta é a lista que se auto-intitula como “de honra” e “credível”, seguindo a lógica de raciocínio que virou moda recentemente de que estes são valores que se apregoam. Mas não são. A honra e a credibilidade são valores reconhecidos pelos outros, fruto da nossa conduta.
Mas olhemos para o futuro. Amanhã temos, pela primeira vez em muitos anos, a oportunidade de escolher caminhos verdadeiramente diferentes para o clube. E nenhuma das candidaturas é perfeita, o que significa que nenhum dos caminhos – nem mesmo o melhor – estará isento de erros ou más decisões. Os erros vão ser cometidos. As más decisões também. E nós, como sempre, cá estaremos para fazer o balanço entre estas e as boas decisões tomadas.
Como decidir?
Rejeito completamente as campanhas sujas que se centram em atacar o bom nome das pessoas e não na validade e qualidade das suas ideias. Acho, portanto, que quem alimentou as notícias cirúrgicas que foram saindo na (pseudo-)imprensa merece ser castigado nestas eleições. Se honrar é ganhar desonrar deverá ser perder.
Julgo que é claro que os sportinguistas querem mudança. Querem uma liderança que, com os pés bem assentes na terra, seja capaz de entusiasmar, de perceber que o futebol é uma paixão e que sem ela estaremos condenados ao cinzento, por mais engenharias financeiras que se façam. Não é com uma bomba de gasolina (que já nos pertence) que vamos mudar. A escolha de quem quer mudar (para melhor) não pode recair numa candidatura que, pior que renegar o seu próprio passado, não assume os seus erros. Aquilo que distingue os bons dos razoáveis e dos fracos não é o facto de os primeiros não errarem. É a rapidez com que se apercebem disso e capacidade que têm de corrigir os erros. Por isso, pior que não vislumbrar ideias novas na lista de Godinho Lopes, o que me assusta é a incapacidade que os seus membros (começando por ele) têm para ver os erros que foram cometidos. Não é a gravidade com que erraram – nos planos do estádio que se paga a si próprio e gera receitas, nas vedetas contratadas sem retorno desportivo e enorme prejuízo. Não, não é isso. É estarem convencidos que não erraram!
Dias Ferreira e Bruno de Carvalho são, para mim, as opções mais válidas. O que o primeiro tem em experiência o último tem em irreverência. O que o primeiro apresentou em paixão o segundo compensou em coerência com o plano que traçou. Uma das candidaturas tem um director desportivo que, ignorando as dificuldades de expressão, tem um vasto conhecimento do futebol europeu; a outra conduziu a sua candidatura de forma exemplar, traçando um plano e cumprindo sempre o que prometeu apresentar.
A minha escolha assenta em 2 factores:
-
Por melhor qualidade que tenham os nomes do treinador e dos jogadores de Dias Ferreira, tenho a sensação de que as coisas estão a ser feitas com mais paixão do que racionalidade. Haverá mesmo suporte financeiro para essa equipa?
-
Estratégia. Se o nosso desejo é mudar, deveremos votar no candidato mais bem colocado para derrotar a estagnação. O nosso voto tem de ser útil.
Amanhã votarei Bruno de Carvalho. Convicto de que na sua lista existe competência para sustentar um projecto diferente. Competente. Melhor que o actual. É certo que tudo correrá como queremos? Não. É incerto. É preciso coragem para arriscar.
Amanhã votamos o futuro. Amanhã podemos sair do cinzento. Amanhã podemos perseguir o sol que desejamos. Amanhã podemos ir atrás de um sonho. Vamos?
[youtube=425,350]Beatles- Here Comes The Sun (with lyrics) - YouTube