Gestão Desportiva e Scouting – Eixo Estratégico Fundamental para Qualquer Clube
Tenho falado sobre este tema deste que me inscrevi neste fórum há 9 anos.
Há muitos factores que podem afetar o sucesso ou insucesso de um clube mas, de entre aqueles que considero lícitos e limpos, nenhum se compara à importância estratégica brutal da gestão desportiva e da qualidade do scouting.
Um clube pode ter os melhores, os mais dedicados e os mais honestos gestores financeiros do mundo que, se falharem na estratégia de gestão desportiva e na qualidade do scouting, isso de nada lhes adiantará.
O peso desportivo e financeiro destes factores é de tal ordem que a diferença entre um bom e um mau trabalho pode representar, em poucos anos, diferenças financeiras de centenas de milhões de euros que depois têm um impacto decisivo na capacidade de investimento que se reflecte de forma muito directa na capacidade de lutar por títulos.
As direções do período roquetista falharam em quase tudo.
Mas a maior falha de todas foi nestas vertentes.
Se o SCP melhorou com Bruno de Carvalho, uma das principais razões que contribuiram para isto foi precisamente a significativa melhoria na gestão desportiva e a ligeira melhoria no scouting.
Falo em significativa melhoria na gestão desportiva porque começámos a ver plantéis a ser construídos com cabeça, tronco e membros. Com nexo.
Começámos finalmente a ter em consideração as vertentes física, técnica e mental.
Dantes, o SCP jogava com 11’s anões e onde a qualidade técnica também não abundava dentro de um contexto de depressão constante.
Atualmente, mesmo com todos os erros e limitações que ainda temos, temos apresentado plantéis muito mais equilibrados nestas 3 vertentes e o resultado disso tem sido a grande evolução que tivemos na percentagem de pontos feitos nos últimos campeonatos.
A outra grande mudança que operámos foi o muito maior cuidado financeiro que começámos a ter nas apostas de risco. É certo que temos falhado muitas contratações. Mas temos feito uma gestão no sentido de não perder muito dinheiro com elas, cuidado que dantes não acontecia.
Não posso, infelizmente, falar de uma grande evolução ao nível do scouting que continua aliás a ser o nosso grande calcanhar de Aquiles dado que continuamos a trazer camiões de contratações falhadas. Aí, a evolução tem sido mais modesta, embora real. Como exemplo desta evolução temos a grande mais-vaia feita com o Slimani (pena ter sido a única grande mais-valia).
Isto tudo para dizer que melhorámos mas…
Ainda não é suficiente!
Pior do que não ser suficiente, noto nos últimos meses, na nossa política, uma inflexão que considero perigosa.
Tivémos 3 anos de evolução sustentada da qualidade desportiva e do valor financeiro do nosso plantel.
Isso foi conseguido fazendo recurso ao aproveitamento dos nossos recursos. E quando falo em nossos recursos não estou a referir-me apenas à academia, estou a referir-me a JOGADORES DO E COMPROMETIDOS COM O SCP.
Aquilo a que estou a assistir nos últimos meses é verdadeiramente preocupante, diria mesmo, decepcionante.
Em Portugal, na minha opinião, um grande só terá sucesso se conseguir endereçar os seguintes objectivos (aparentemente contraditórios):
- Ter o plantél mais estável possível.
- Ter o conjunto mais alargado possível de jogadores com elevado valor de mercado.
Só endereçando estes 2 objectivos poderemos, por um lado, ter equipas rotinadas, com verdadeiro espírito de corpo, sentido de responsabilidade, enfim, aquilo a que também se chama de mística, e por outro, ter um backlog alargado de jogadores jackpots financeiros capazes de, com 1 ou 2 vendas por ano, ajudar a financiar elevados níveis de investimento para equipas de grande qualidade.
É que são essas que ganham títulos…
Cada vez que um clube vende um JM, um Lideloff ou um André Silva por 40ME, não tenham dúvidas, é como se ganhasse 1 ou 2 clássicos… É um importantíssimo jogo dentro do jogo que é a capacidade de investimento de cada clube.
Para se endereçar estes 2 objetivos, temos que agir sob as seguintes 2 referências:
1.
Não podemos gastar montras de visibilidade e de valorização essenciais para a sustentabilidade do nosso modelo em jogadores que nunca serão nossos a não ser em casos excecionalíssimos.
2.
A regras das contratações deve ser a aposta em jogadores jovens de categoria e alto potencial de valorização.
Não estou a dizer que não se pode contratar um ou outro jogador mais veterano.
Mas essa deve ser a excepção e não a regra.
Ora, o que é que o SCP começou a fazer?
Começou a apostar de forma demasiado desiquilibarada em jogadores demasiado veteranos. Esses, pela lógica, com o tempo, piorarão sempre o seu desempenho e acabarão por sair ou se reformar abrindo buracos no plantel sem darem nenhum retorno financeiro que permita a sua substituição. Fazem-nos voltar a uma espécie de estaca zero.
Pior e ainda mais preocupante do que isto é a aposta em jogadores emprestados sem que o SCP possa ficar com eles no final da época caso seja sua vontade.
Isso então posso mesmo considerar ruinoso…
Trata-se de ter jogadores pouco comprometidos que vão abrir buracos futuros no plantel ao mesmo tempo que vão impedindo a valorização desportiva e financeira de activos efectivamente do SCP. E o pior é que temos mesmo esses activos com capacidade para ser tão bons ou melhores do que eles…
Considero estes erros absolutamente gravíssimos!
A provável implicação concreta que a manutenção desta aposta terá será que, no final desta época, para além das prováveis saidas de Gélson e Adrien, ainda teremos a saída de Campbell e Markovic (vá lá que deste não estamos dependentes).
Isto a somar às lacunas que já temos no plantel, já me parece que estamos a falar de demasiados problemas para serem resolvidos apenas num mercado com o scouting altamente falível que temos.
Que quer ser campeão não se pode deixar chegar a este ponto…
Como resolvir isto?
Parar de contratar tantos jogadores para ser reformarem a seguir.
Isso não é uma política a pensar no presente e no futuro.
Essa política só pensa no presente. E se esse falha, ficamos sem presente e sem futuro.
2.
Investir mais em jogadores de categoria mas na fase ascendente das carreiras.
Se tiverem qualidade (aqui entra a qualidade do scouting), rendem no presente e renderão ainda mais no futuro quando saírem e forem vendidos por valores que permitirão a sua substituição com largo lucro.
São mais caros inicialmente mas fazendo uma análise global de valor saem MUITO mais baratos.
É preciso é ter scouting que consiga não falhar QUASE SEMPRE as apostas…
3.
Parar de valorizar jogadores que não são nossos. What’s the point?
Mandar já embora o Markovic e o Campbell (mesmo tendo estado razoável) e apostar na valorização à Gélson de Matheus e Iuri ou Podence para que, ao menos no próximo ano, tenham a hipótese de já estar preparados para entrar a matar.
Peço que o SCP volte à política sustentada que estava a seguir nos primeiros 3 anos.
Mantendo aquela política era inevitável, mais cedo ou mais tarde, sermos campeões
É que estávamos a crescer de ano para ano…
Para quê inventar?
É favor voltar ao rumo certo!