A maior parte dos miúdos escolhe, de facto, o clube que ganha mais. Mas, apesar de querer que o Sporting ganhe tudo, não quero que a malta seja do Sporting porque o Sporting ganha. Quero que os miúdos aprendam a ser do Sporting como eu aprendi, e eu não me lembro de ver o Sporting a ganhar campeonato nenhum de futebol.
Sou do Sporting por aquilo que acho que o Sporting deve representar em termos de valores e de atitude perante a sociedade. O Sporting para mim não é só um clube de futebol, nem é só uma instituição desportiva e eclética, é um modo de estar perante uma sociedade cada vez mais podre e carente de valores que a meu ver são essenciais. E não estou a falar de valores como a “boa educação” ou o “saber perder”, isso são os valores dos cornos mansos que fazem a linha entre o “saber perder” e o “não se importar de perder” cada vez mais ténue.
Ainda ontem vi uma foto do merdas do Pedro Granger no Instagram, que não tinha nada a ver com bola, mas cuja descrição começava com uma parabenização da lampionagem por ser um justo vencedor, já que os pais lhe tinham dado boa educação e ensinado a saber perder. Foda-se, se é para isto, realmente prefiro que os miúdos nem queiram ser do Sporting. Gente que só é do Sporting para não ser do clube do povão não faz cá falta, tal como gente que é do Sporting para se aproveitar do mesmo.
O Sporting é uma maneira de ser. É uma posição de afronta a um país que faz de tudo para que o Sporting não seja nada e para que quando se conseguir levantar, caia outra vez. Só não vê isto quem não quer. Não é à toa que há uma crescente divisão entre os diferentes tipos de Sportinguista. Não vale a pena falar em união quando há valores tão diferentes que chocam, e isto não acontece só aqui, também acontece na política, também acontece na religião… São muitos os casos em que de um ideal inicial, se ramificam diferentes formas de estar e de pensar. E depois, se determinado lado começa a tentar levar a sua avante de forma rasteirinha e envolvida em suspeição, é normal que a coisa dê para o torto.
Não há gerações perdidas, vai sempre haver gente do Sporting, mais que não seja os filhos dos Sportinguistas. Nunca se importem em “perder” uma pessoa para o lado dos lampiões, porque se alguém vira lampião (ou tripeiro) é porque nunca poderia ser um Leão de verdade. Eu nunca ponderei isso, por exemplo. Suponho que vocês também não, portanto nem devia haver stress.
Apesar destas minhas convicções, também acho que não faz mal nenhum ter um Sporting mobilizador e que cative as pessoas a associarem-se, a andarem atrás do clube e a dar a cara por uma instituição onde se revejam. Até soa familiar, não é?
Mas para isto acontecer, quer queiram admitir, quer não, é preciso ter gente com carisma à frente do clube. E aqui nem é uma questão de BdC e Varandas, nem poderia ser, porque comparar o carisma de um com o de outro é o mesmo que comparar um leão com um gato que nem miar sabe. Podiam ter corrido com BdC e ter posto alguém que transmitisse ideais definidos e não palpites incoerentes, que fizesse as pessoas pensar que realmente havia uma alternativa viável a uma pessoa que podia já não estar a conseguir ser a melhor versão de si mesma. Mas não, optaram por isto.
Apesar de eu, pessoalmente, achar que quem nascer para ser do Sporting nunca vai passar para o lado de lá, se é importante para as massas cativar mais massas para o Sporting, então que se continue a trabalhar para fazer do Sporting um clube carismático, que represente valores que nos identifiquem e diferenciem dos demais.
Eu já pensei muitas vezes em desistir, mas, como disse, vejo o Sporting como uma forma de ser e estar. E pela minha forma de ser e estar, morro se for preciso.
O rugido dos verdadeiros leões nunca vai ser abafado e propagar-se-á certamente pelas gerações de verdadeiros Sportinguistas que ainda vão existir. Nunca duvidem disso. O Sporting é grande demais para alguma vez ser rebaixado.