Nota prévia: Este artigo não pretende melindrar ou atingir ninguém nem balcanizar adeptos, muito menos medir sportinguismos. Trata-se apenas da minha visão pessoal do que é, para mim e exclusivamente para mim, o ser, sentir e viver Sporting. Como sócio e adepto do Sporting Clube.
Todos nós aqui presentes já ouvimos milhentas vezes aquele velho e gasto chavão do "somos diferentes", do sentirmo-nos à parte do comum adepto de outros clubes, de nos sentirmos noutra dimensão no que toca à paixão por um clube e arrisco dizer que todos, mas todos mesmo, já um dia nos orgulhámos de o dizer a alguém ou até para nós próprios. Todos somos exigentes à nossa maneira, todos temos padrões, metas, marcas ou linhas limite referente àquilo que achamos prejudicial ou benéfico para com o dia a dia do Sporting.
Analisemos então aquelas que são para mim as quatro vertentes mais importantes de um sócio do Sporting: Desportiva, Financeira, Patrimonial e Associativa.
Começando pelo princípio…
Desportiva
Quando nos sentamos em frente ao computador e navegamos pelo fórum, nas mais variadas e distintas secções o denominador comum relativamente à insatisfação passa, invariavelmente, pelos resultados desportivos do clube. E aqui vou cingir-me apenas ao Futebol. É inegável e diria até expectável a penosa e sôfrega época que estamos a realizar este ano desportivo em todas as competições em que nos inserimos, não existe ninguém que esteja satisfeito com o progresso da equipa e dos jogadores até ao momento e todos aqui, bem lá no fundo, receiam e de que maneira a segunda volta do campeonato.
Ora, a queda do Sporting começa onde acaba a nossa exigência como sócios e adeptos. De activos, preponderantes, informados e decisivos passamos para resignados, conformados, amorfos e preguiçosos, nunca estas quatro designações fizeram tanto sentido como nos dias de hoje. Mas deixando o parlapié de lado e indo ao que de facto interessa.
Não podemos, nunca, jamais em tempo algum permitir ou pior, tornar um hábito a compreensão de derrotas e empates no José Alvalade com uns borra-botas quaisqueres, este é o ponto fulcral, porque quando se cria o hábito da mediania e da desculpa do azar é o começo do baixar os braços, é o princípio do fim da vossa identidade Sportinguista. Tudo isto é bem mais fácil se formos exigentes com nós próprios acima de tudo mas mesmo que não o sejamos, a paixão que temos pelo Sporting tinha de e devia de nos elevar os níveis de exigência para com o rumo do clube. Não podemos perder com matraquilhos do Rio Ave nem com carpinteiros da Mata Real em casa, somos o Sporting! O Sporting! O sair de Alvalade cabisbaixo, entrar no carro e ouvir os comentários ao jogo na rádio, mandar duas ou três c********* e prometer incessantemente que não se volta lá mais, não adianta de nada.. Porque nesse momento estão a aceitar, de livre vontade, que o Sporting fique entregue ao deus dará. E quando digo deus dará estou a falar, obviamente, das sucessivas direcções que o têm conseguido desmantelar.
Não podemos, como sócios do melhor clube Português, permitir que duas, três ou quatro vitórias seguidas nos mude o discurso, nos mude e molde a forma de pensar, de agir e de escrever sobre o Sporting. Não podemos dizer mal do Vercauteren e duas semanas depois tecer loas ao Jesualdo, somos o Sporting, todo o sucesso é pouco! Imaginem que de hoje para amanhã ficamos sem estádio, passamos a jogar num pelado, com uma bancada para 1000 pessoas e um peão do lado oposto, com uma equipa de coxos e marrecos a receber trinta contos por mês e uma sande de torresmos no final de cada treino, mesmo perante essas circunstâncias a camisola listada seria a mesma, o leão ao peito seria o mesmo, a insígnia SCP continuaria a estar lá logo, teriamos que exigir a vitória e apenas a vitória!
Causa-me náuseas o tipico adepto de ocasião, que diz mal quando perde e bem quando ganha, que numa semana o Jeffrén não devia sair para o PSG mas que na outra a seguir se fosse emprestado ao Arrentela não se perdia nada. Isso não é ter exigência, não é ser Sportinguista, não é nada. É ser apenas alguém que julga gostar de um desporto que não entende, que vê com palas apenas um campo de futebol e onze jogadores de cada lado, ignorando completamente o resto.
Não nos podemos conformar com Venturas, Joãozinhos ou pernetas semelhantes, não podemos pedir jogadores emprestados ao Beira-Mar nem fazer negociatas obscuras e prejudiciais com um dos nossos maiores rivais, oferecer capitães, desbaratar a formação e vender os que ainda sabiam que uma bola apenas tem dois lados ao preço do quilo de berbigão no Zimbabwe. Não podemos, como grande e centenário clube que somos, permitir que gozem com a nossa cara, que nos achincalhem, que nos gozem na rua e no trabalho quer sejam familiares ou amigos, não podemos! E a única forma de nos sentirmos bem não é a ripostar, a mandar a jarda de volta, mas sim a combater a amorfidade e a resignação que se apoderaram das bancadas de Alvalade! É urgente fazer ver, a novos ou velhos, homem ou mulher, que o Sporting tem mais de cem anos de vida, não existe apenas a partir dos 10 anos de idade de cada pessoa.
Financeira
Eu sei que muitos vão saltar esta parte, é chato e tal, falar de números e de zeros à esquerda ou à direita, de relatórios, activos e passivos, Assembleias Gerais e ordens de trabalho. É maçador ler do que não se percebe, ouvir falar o que não se compreende. Mas e que tal, digo eu, começar a ter um bocado de interesse? Começar a tentar compreender os porquês, os prós e contras, os números e sobretudo a dimensão que tudo isto tem no Sporting actual.
Passámos de 30 milhões de passivo em 1995 para cerca de 400 em 2013. Assustador. Assombroso. Cava-se empréstimos obrigacionistas em cima uns dos outros, paga-se fortunas a certos funcionários, contrata-se empresas externas pagas a peso de ouro, admite-se secretários dos secretários dos secretários... No fundo, pensa-se que o dinheiro é um iô-iô, vai e volta, mas o pior é que temos visto por mais de 15 anos que vai e nunca chega a voltar. É impensável num clube com milhões de adeptos por todo o mundo, uma direcção aumentar o passivo em 100 milhões de euros em apenas ano e meio e continuar-se a dar o benefício da dúvida ou pior, a cair-se incessantemente na ínfame afirmação de que a culpa é dos antecessores e não destes orgãos sociais que hoje por lá gravitam.
Como é que podemos admitir que se venda um capitão por 750 mil euros? Como é que podemos permitir que um presidente contrate um camião de estrangeiros, uns bons e outros que duvido que conseguissem uma captação no Oriental, pagos a peso de ouro, venha depois dizer que descobriu que o ADN do clube é a formação? Como??! Não podemos permitir que se minta aos sócios, não podemos admitir que se mudem as paredes do acesso ao balneário para girassóis por muito irónico que seja, não podemos permitir que se pague mais de 100 mil euros por mês ao jogador mais caro da história do clube para depois o emprestar, não podemos admitir que se torre uma carrada de dinheiro em câmeras HD que vão servir para identificar e posteriormente prender adeptos do Sporting, quando nos foi prometido um estádio verde e sem fosso.
Não temos exigência, já não queremos saber. Falam, estrabucham, fazem trinta por uma linha mas depois quantos aparecem nas Assembleias Gerais? Quantos vão votar? Quantos?! É vergonhoso e ultrajante que um clube como este tenha AG's com 300 sócios e menos, é humilhante, devia encher a nossa cara de vergonha. Lutar pelo Sporting, ser exigente, não é agitar cachecóis, não é agitar bandeiras nem entoar cânticos, não é ser Juve Leo, Torcida ou Directivo, ser um Sportinguista lutador e exigente é conhecer os números, perceber a gravidade dos mesmos e agir em conformidade para tentar mudar o rumo do clube.
Escondemos o nosso Sportinguismo atrás de uma falsa moralidade. Só os outros é que têm de ir a AG's, só os outros é que têm de lutar e de fazer X ou Y, "façam vocês que são daí", "vão lá vocês, não sejam cobardes", quando muita gente daqui já fez mais pelo Sporting em duas ou três Assembleias Gerais do que muitos a vida inteira. Ser adepto do Sporting é sentarmo-nos em frente à televisão quando há jogo? Não! Ser sócio e adepto do Sporting é ter consciência, ter noção do que é bom ou mau, certo ou errado, benéfico ou prejudicial. Uma pessoa que se diz Sportinguista e depois não se interessa pela saúde financeira do clube, para mim, apenas é Sportinguista da boca para fora. E não passa de um amorfo situacionista!
Haverá mais inconformidade moral do que criticar, dizer que se está mal, que se tem de mudar e depois não mexer um mindelo para tal? Haverá honra na vitória moral quando a grande vitória foi conseguida pelos outros irmãos?
Patrimonial
Devem-se estar a perguntar do que raio é que vou falar sobre esta vertente, já que de património qualquer dia apenas devemos ter o parque de estacionamento onde ficava o antigo estádio.. Mas não, vou falar do estádio e do pavilhão (embora o estádio já seja pertença da ala Situacionista(s)-maçónica).
Vocês identificam-se com o estádio? É uma pergunta directa que vos faço. Entram em Alvalade e sentem-se em casa? Se sim, pois eu não. Tenho calafrios quando vejo aqueles azulejos e quase que me dá uma coisa má quando chego às bancadas e me deparo com aquele cenário inenarrável de umas cadeiras de circo e de um fosso que mais parece um reptilário em obras. Não consigo sentir-me cómodo nem mesmo em dias de jogo grande com as bancadas cheias, naquele estádio, não consigo identificar-me com aquilo embora saiba que faz parte do meu Sporting. É nosso direito e dever exigir que a nossa casa seja um prolongamento da nossa paixão pelo clube, não podemos ser coniventes com o desmantelamento dos nossos símbolos, identidades e afinidades. Quem se lembra de como era o velho Alvalade pode confirmar que em dias de jogo, mesmo contra prisioneiros do Bessa ou pandeiretas de Braga, o espirito e a carga símbólica que aqueles arredores do estádio transmitiam eram engrandecedores do clube, transmitiam confiança e segurança. Ali estávamos no nosso covil. Agora temos uma toca enfeitada e a céu aberto.
Outra questão importante, obviamente, é o ecletismo. Creio que pelo menos neste espaço poucos são aqueles que não gostam ou não acompanham as nossas modalidades, pelo menos as principais. Pois o não termos um pavilhão condizente com a nossa grandeza é uma afronta ao clube português que tem mais medalhas olímpicas e que levou o primeiro atleta luso aos Jogos Olímpicos. É de uma vergonha total termos de andar sucessivamente com a casa às costas, a montar tabelas de hóquei, a treinar e jogar em Loures, no Casal Vistoso ou em pavilhões de escolas secundárias. Como é que podemos chegar ao ponto de permitir que não tenhamos o nosso pavilhão onde podemos ir passar fins de semana a ver as nossas modalidades jogarem, a acompanhar o Andebol, o Futsal, o Hóquei em Patins, o Basquetebol... Entristece-me. Mas revolta-me ainda mais que os responsáveis máximos por esta desonra sem fim passem impunes e meio que esquecidos nos dias de hoje. Muitos já se esqueceram, outros nunca souberam que a pessoa responsável por hoje não termos um pavilhão para as modalidades, a pessoa que não nos quis dar um pavilhão, chama-se Luis (ou Luiz para os sócios) Filipe Fernandes David Godinho Lopes.
É de um esforço sobre-humano que se peça a atletas e pais que se desloquem de um lado para o outro com a trouxa às costas para poderem praticar desporto e representarem o Sporting. Inconcebível. O acordo de 20 anos feito com a câmara de Odivelas é de um prejuízo incalculável para o clube. Quem acha que iremos ter o nosso pavilhão dentro de 2 ou 3 anos ou é alucinado ou simplesmente está alheado da realidade, pois eu digo e afirmo que nem daqui a 10 anos o iremos ter!
Associativa
Por fim, o nosso papel como sócios. E aqui, desculpem-me os adeptos quer aqueles que não têm condições de se tornarem sócios, quer aqueles que vivem do outro lado do mundo, quer outros que por preguiça e desinteresse ainda não se associaram, e outros que mais, mas vou dirigir-me directamente para os sócios que frequentam este espaço.
É nosso dever como parte da nossa família honrar a história do nosso clube e promovê-lo a todos os níveis, é nossa obrigação estarmos presentes, termos voz activa, sermos interventivos e interessados até onde a nossa vida pessoal nos permite. Porque assumimos uma obrigação para com o clube e para com o nosso íntimo, é como que se tratasse de um casamento, iremos amá-lo na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, todos os dias da nossa vida.
Não vou cair no cliché de abordar a actualidade directiva do clube porque senão ainda nem a meio da página ia (e isto já vai longo, eu sei), mas vou apenas referir de que neste momento chave e decisivo na vida e sobretudo na sobrevivência do Sporting, temos de ser todos exigentes, conscientes e dizermos presente assim que formos chamados para decidir o destino do clube. Todos. Os do norte, os do sul, os de Lisboa e das ilhas, todos. Todos os sócios do Sporting devem comprometer-se a ser parte activa do presente e do futuro do mesmo, porque só assim faz sentido, porque só assim podemos sentir a nossa missão cumprida, porque assim é que tem de ser! Não permitamos que nos tratem como meros clientes, não permitam que quando contactam serviços do clube estes vos tratem com indiferença, distância e arrogância, não sejam acomodados ao ponto de não querer dar um murro na mesa por parecer mal ou dar nas vistas.
O Sporting somos nós. O futuro do Sporting está nas nossas mãos. A Assembleia-Geral está ao virar da esquina e nada será como dantes seja qual for o seu desfecho, mas desengane-se quem pensa que será canja a destituição da direcção. Se Godinho Lopes se submeter mesmo a sufrágio numa AG com ponto único vai ser duro derrotá-lo, a intoxicação nos jornais e televisões serão constantes, os enganos e as mentiras que partirão do próprio Sporting serão demonstrativas do desespero daquelas pessoas.
Peço-vos para que mantenham a calma e sobretudo a cabeça no lugar, não vão para a AG a pensar que a vitória está no bolso, todos temos presentes na memória, sobretudo muitos que como eu permaneçeram em Alvalade noite dentro, o que se passou nas últimas eleições e penso que ninguém quererá que aquilo se repita. Em suma, não levem navalhas para batalhas de armas de fogo.
A exigência tem que fazer parte do vosso dia a dia enquanto apaixonados pelo Sporting, às vezes dar dois passos atrás para poder dar três em frente é bem melhor do que cinco para o lado, se tivermos que cair para os levantarmos de novo, mais fortes e coesos, assim o faremos sem temor algum. Eu, tomarei sempre em conta aquilo que me fez ser do Sporting, aquilo que aprendi a amar e a ver como não Grande, mas Enorme.
O Sporting é muito mais do que um clube, é uma forma de estar na vida.
Sejamos exigentes, sempre, pelo Sporting e para o Sporting
MARCHING THE RANKS OF HONOUR
É ESTE O MEU CLUBE
[youtube=650,535]- YouTube
Assenzaforzata @ 2013