Ora bem, esta é uma daquelas questões políticas que eu considero extremamente pertinentes e que, infelizmente, não é, nem irá ser futuramente, debatida em Portugal. Como sempre, os assuntos de grande relevância para o futuro do nosso país são deixadas no fundo do poço, preferindo-se dar atenção ao que é acessório e dispensável.
Eu não vos vou maçar com um resumo da época em que vivemos. Todos somos bombardeados com isso diariamente e, como tal, creio que há um esclarecimento geral sobre a situação actual de Portugal. Mas há mais para além da troika, FMI, BCE, PSD, PS, CDS e restante parafernália. Senão vejamos:
A 1 de Janeiro de 2002, Portugal trocou a sua antiga moeda, o escudo, pelo Euro. Os benefícios foram muitos - não sendo eu um expert em matéria económico-financeira, fui e sou a favor da adesão, pois caso contrário teríamos ficado numa situação grave não só a nível financeiro, como a nível geopolítico, já que nós pertencemos à União Europeia, entrando em desvantagem para com os países unificados. O Euro tornou-se rapidamente uma moeda robusta, sendo hoje, salvo erro, a segunda currency mais importante a nível mundial. Com isso, Portugal colocou-se no topo da esfera global.
Do lado oposto, perdeu-se a hipótese de desvalorizar a moeda, algo que seria importante na conjectura actual - e um instrumento que foi utilizado nas outras duas intervenções do FMI em Portugal.
Mas o importante aqui é reflectir sobre isto: para além da união monetária, o que existe, de facto, nesta UE? Pouco ou nada. A nível político, as diferenças são tão abissais, que até já fazemos vídeos para os finlandeses em protesto e mandamos uns manguitos à Angela Merkel. Sentimos claramente que, juntamente com a Grécia, Espanha e Irlanda, somos os países dominados, perante nações que tentam salvar a pele aos credores, instituições bancárias que em grande parte se situam em França, Reino Unido ou Alemanha.
Portanto, até que ponto será isto, na realidade, uma União? A título de exemplo:
Se existe uma moeda única, por que motivo não se criou uma instituição que atribui um rating a toda a União Europeia? Não seria uma forma de evitar toda esta crise sistémica? Sim, porque não se pense que esta crise é exclusiva dos PIGS. Isto é transversal a todo o continente europeu. Se esse organismo fosse criado, a Europa tornar-se-ia mais estável e menos permeável aos ataques das tais agências, por exemplo.
Mas, obviamente, há uma grande força política que se opõe a esta verdadeira União. Seja por nacionalismos, ou por interesses financeiros diversos, será árduo unificar verdadeiramente a Europa. E essa unificação, acabará, a meu ver, por ser a única solução para enfrentar esta crise. É que se nós pensamos que o problema fica resolvido com esta receita do FMI… Não fica. Pois esses países apenas aumentarão a sua dívida, o seu desemprego, a sua instabilidade social e a sua pobreza.
Expulsar um país da União Europeia também não parece viável. Imagine-se se Portugal fosse obrigado a voltar ao escudo. A nossa dívida teria de ser toda cambiada para a moeda antiga, aumentando-a exponencialmente, e os credores acabariam por ficar numa situação desfavorável, pois Portugal entraria em bancarrota e não cumpriria as suas obrigações. Mais: se a UE expulsa um país, qualquer que ele seja, dará um passo para a destruição de toda a associação, colocando a Europa, pela primeira vez na História, numa posição no fundo do pelotão mundial.
Também podemos levar isto para a questão do sufrágio. Sabemos que, independentemente do partido que vença as eleições de 5 de Junho, e partindo do pressuposto óbvio que será PS/PSD + CDS, o memorando da troika será cumprido. Ou seja, acaba por não haver diferenças substanciais e o voto nesses partidos está a ser colocado nas mãos de gente que não aparece. Há uma inferência na soberania nacional por parte do exterior, o que põe em causa um dos pilares fundamentais de sustento da democracia.
Se isto já acontece, porque não colocar tudo às claras e passamos a eleger os nossos representantes directamente para um Conselho Europeu? Não estou a falar nas Eleições Europeias, pois essas não tem, praticamente, qualquer importância. Estou a falar de Legislativas a nível europeu, transferindo o poder nacional para a esfera continental.
É óbvio que isto necessitaria de uma agilização brutal a todos os níveis, mas tornaria o próprio processo democrático mais honesto e colocaria a Europa novamente no topo económico-financeiro, pois actuaria como um todo. E necessitaria também que isto não vertesse para uma espécie de URSS, onde a maioria das províncias eram desprezada e deixada na pobreza.
Em suma, deveríamos agilizar a Europa de forma a que se tornasse uma versão 2.0 dos Estados Unidos da América. Continuaria a haver poder local (que é como quem diz, nacional), mas o poder central estaria colocado no parlamento europeu e não na nossa Assembleia.
Os obstáculos são vários e difíceis de ultrapassar, mas, a meu ver, e repetindo, parece-me ser a única escapatória para a crise. Caso contrário, iremos entrar numa downward spiral, que nos arrastará colectivamente para a pobreza.
A união que tanto se pede dentro de Portugal deve acontecer, isso, sim, na Europa. Não é altura para nacionalismos exacerbados e proteccionismos à antiga.
Que acham?