E assim começa novo processo eleitoral para a liderança do Sporting Clube de Portugal. Após semanas de escuridão, de sérias ameaças de extinção (que ainda pairam sobre as nossas cabeças), surge nova esperança para o Clube.
Dizem já algumas figuras queridas dos mass media que se quer agora ideias. Que urge agora concentrar o debate no(s) projecto(s), no futuro do Clube, nas respostas ao anunciado abismo. Raios parta, só se lembraram agora. Depois de dois anos e uma anterior campanha baseada no medo da escuridão, nos “salvadores da amada Pátria”, quer-se debater quem traz a lanterna. Depois de medir treinadores e jogadores (como habitual nestas coisas de eleições de clubes), de medir “experiência” e contactos, quer-se agora ideias. Acho bem!
Temo, no entanto, que mais cedo ou mais tarde venha o já conhecido discurso da escuridão. Medo do escuro, essa ferramenta usada à séculos (milénios, provavelmente desde o nascer da espécie humana) para forçar comportamentos humanos. Reforço negativo ou punição, principalmente em crianças mas também em adultos, seja como for, usada sempre como arma para induzir comportamentos. E tão bem costuma funcionar!
A verdade é que a espécie humana, na sua larga maioria, depende em demasia da sua visão. Assim, no escuro, o ser humano sente-se impotente, fragilizado. Os Maias tinham medo do escuro. Dependiam do sol, tanto que se sujeitavam a banhos de sangue na forma de sacrifícios humanos para obter essa dádiva. Algumas tribos nómadas temiam tanto a noite que viajavam durante o dia. A noite escondia terríveis demónios, sempre prontos a atacar. Os egípcios passavam as noites a rezar para que o sol encontrasse o caminho de volta. Quase todas as civilizações têm histórias semelhantes. Salvou-nos a luz eléctrica de tal martírio. Mas ainda hoje é usado o escuro para infligir medo. Usam-no algumas culturas, muito ocidentalizadas, nos castigos do quarto escuro (na versão mais solitária e infantil :mrgreen:), o fechar em armários sem luz, prática até recentemente muito em voga nas Américas.
Prática usada quando se faz crer a um sócio que “…ou votas em mim, ou não existe mais nada”. Só a escuridão e a morte do Clube. Ainda recentemente o nosso Presidente, agora demissionário, o fazia. Sem mim, nem salários, nem Clube, nem porra nenhuma, era mais ou menos o discurso!
Curiosamente, as lanternas eleitas das últimas eleições agravaram passivo, agravaram resultados desportivos no futebol, tornaram o dia-a-dia da tesouraria mais difícil. Os Galácticos, versão dirigente do Sporting, portadores das lanternas, únicos a conseguir dominar cada área de especialidade, únicos a conseguir fundos sem impacto negativo na governabilidade do Clube… arrastaram-nos ainda mais para a escuridão. Tal como outros galácticos, lá para os lados de Madrid, falharam no mais básico entendimento entre si, quanto mais na salvação do Clube. Deixam-nos uma suposta “reestruturação financeira”, também ela (até agora) muito obscura.
Queremos ideias, dizem eles. Eu também. Já há muito! Queremos projectos, dizem eles. Não estão sozinhos. Esperemos que desta vez alguns deles ouçam as ideias, já não fechados num clube exclusivo, dentro do próprio Clube. Há uns tempos atrás, comecei a escrever umas coisitas sobre esta ideia de escuridão. Sobre a fantástica argumentação presidencial, centralizando em si as únicas esperanças de salvação do Clube. Escrevia eu, muito primariamente, que se assim era, mais valia fechar as portas de uma vez. Faça-se uma festa, celebrando o passado do Clube e feche-se tudo de uma vez. Mais vale fechar tudo de uma vez (e bem sei quantas vezes me insurgi contra este pensamento em alguns), do que andar a martirizar, envergonhar, rebaixar mais este Clube. Ele está moribundo, dizem. Então salve-se a dignidade que os seus quase 107 anos lhe deram.
Mas eis que surge nova esperança. Porra, acertem de uma vez que isto já cansa. Senão… ver últimas linhas aqui acima.
O investimento.
Entretanto, já falou Ricciardi. Falou sobre investimento. Para voltar a planos antigos, muito pouco proveitosos para o Sporting. No fundo, defende nova diminuição de custos no futebol. Já dizia um senhor que cometer os mesmo erros, esperando resultados diferentes, é a maior prova de insanidade. Dizia o mesmo que duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Longe de mim defender que o Sr. Ricciardi é estúpido ou insano. Não é, senão não teria o sucesso que tem. Aliás, perto dele, estúpido serei eu. Apenas que ele não está recordado de tempos recentes e dos resultados obtidos.
Numa coisa dita por Godinho Lopes concordo eu: “o problema do Sporting não tem sido a falta de dinheiro, mas sim uma aplicação incorrecta das verbas disponíveis.”. Penso até que em tempos Ricciardi disse algo semelhante. Se me falha a memória, as minhas desculpas. Tinham razão! Não foi a falta de dinheiro que tramou Bettencourt. Foi a aplicação do mesmo. É possível que o SC Braga, de facto, gaste metade do orçamento do Sporting. Mas o SC Braga é um clube médio/pequeno, com resultados insuficientes para um grande. À sua dimensão, excelente trabalho. Mas compare agora o nosso orçamento com o dos rivais.
O problema do Sporting não era dinheiro, afinal sempre se pode aumentar a divida. O problema do Sporting é competência. Mais que reduzir custos, precisamos de competência. Afinal… Cometer um erro é humano, comete-lo duas vezes é estupidez. Claro que agora se junta um agravamento de tesouraria. Claro que até os rivais vão ter de reduzir custos. Mas reduzir custos não significa trazer uma tonelada de entulho para a equipa principal e largar nos ombros de 3 ou 4 jovens da Academia toda uma equipa e seus resultados.
Como disse Russelll, “Na vida nunca se deveria cometer duas vezes o mesmo erro. Há bastante por onde escolher.”
Aguardo ansiosamente pelo início do debate eleitoral. Com ideias e projectos.