Vamos lá ver: o momento é de reflexão interna. O momento é o de reflectir sobre os erros e corrigir deficiências. O momento é o de ajustar comportamentos à realidade dos factos. O momento é o de iniciar o caminho de reconquista da maior perca que tivemos neste inicio de temporada: a confiança dos jogadores e dos adeptos.
A realidade nua e crua é a de que o Sporting “aceita” participar numa competição viciada, onde todos os elementos favorecem o mais directo rival. Todos estão cientes de que, à mínima dificuldade que se atravesse no caminho do carnide, o colinho / voucher ou a mala aparecem e dão logo uma ajuda preciosa. Todos também estão conscientes de que, se o Sporting se colocar a jeito (tal como aconteceu em Guimarães), os homens do apito não perdoam, inclinando o campo contra a nossa equipa. Perante um cenário destes e tendo em conta a vergonha do que se passou no campeonato anterior, o Sporting inicia esta temporada com um trauma: o de que a equipa não pode, em nenhuma circunstancia, perder pontos.
A explicação é simples: o campeonato anterior deu a entender que jogar o melhor futebol não chega. Deu também a entender que, assim que os lampiões chegam ao topo, são invencíveis (e não será, certamente, por causa do seu potencial). Logo, nesta época o Sporting tem uma dupla pressão: tentar ganhar o campeonato contra um rival que tem a vida facilitada em 80% dos jogos. Isto faz de cada perca de pontos do Sporting uma tragédia. A equipa sente isso e está a vacilar em momentos importantes das partidas.
A impressão que se transmite para a bancada é a de que nunca se sabe se o jogo já está ganho. Isso revela, acima de tudo, falta de estaleca a nível psicológico de grande parte da equipa. Esse é, sem duvida, o aspecto mais relevante a melhorar. Um exemplo claro é a nossa defesa: os atletas que são agora acusados de pernetas e incapazes foram os mesmos que nos deram uma defesa de betão em grande parte da época passada. O que mudou? Parece evidente que, uma das explicações, estará na pressão adicional de serem campeões numa competição viciada, onde falhar não é opção. Os jogadores sabem disso e os adeptos também.
Por isso, todo e qualquer desaire da equipa do Sporting assume proporções apocalípticas. Todos sentimos que cada ponto perdido é quase impossível de recuperar. É este o preço a pagar quando se compete em condições desiguais. É este também o maior desafio que o corpo técnico tem de superar. A equipa tem de recuperar a confiança no seu potencial e esquecer o que se passa à sua volta. Esse será o factor essencial para que, nos próximos jogos, os adeptos possam voltar a acreditar na equipa.
Neste aspecto, a massa adepta também terá de dar uma resposta positiva nos tempos que se seguem. Bem sei, será difícil estar numa partida e viver com a duvida do “Será que dois a zero é suficiente?” ou “O adversário reduziu para três a um, será que a equipa vai abanar?”. Mesmo que os adeptos sintam essa insegurança, o pior que podem fazer é transmiti-la para o terreno de jogo. Se por um lado terá de ser a equipa a reconquistar a confiança dos adeptos também não podem ser estes a colocar obstáculos a que esse processo se conclua com sucesso.
O Sporting tem o treinador, a equipa e o presidente certos. É altura de nos virarmos para dentro, continuando a batalhar nos bastidores para a tão necessária limpeza do futebol português. Da mesma forma que é urgente desmistificar a noção de que os lampiões são inderrubáveis também convém ter a consciência de que ninguém leva a sério fanfarrões desbocados. Por fim, mais importante do que recuperar na classificação é a recuperação do capital de confiança que este inicio de época abalou. Se tal acontecer, tudo o resto virá por acréscimo.