Procurando a tal entrevista do Custódio no CM, encontrei este artigoo do jagunço Rui Santos.
Nu & Cru
Rico Benfica
Se o Benfica fosse o vigésimo clube mais rico do Mundo, não teria Marco Ferreira no plantel.
- Depois de ter entrado para o Guinness e ter alardeado o facto, Luís Filipe Vieira, na qualidade de presidente do Benfica, não ia perder o ensejo de agradecer aos associados e aos patrocinadores a entrada no ‘top 20’ da Football Money League, cuja análise – com a assinatura da Deloitte, Sport Business Group – é realizada através da avaliação das receitas conseguidas no dia-a-dia das operações financeiras dos clubes de futebol. Os autores do estudo sublinham que só contam para o ranking as receitas (o dinheiro que entra). Não contam as despesas ou a avaliação dos passivos. O que significa que esta ‘proeza’ não estará ao nível daquela que ficou registada no ‘Livro de Recordes’ mas fica lá bem perto.
Filipe Vieira, no seu bom velho estilo, lá veio fazer a propaganda à eficácia das estratégias empresariais do Benfica. Como estas questões são difusas para o comum adepto de bancada, apreste-se então a passar a imagem de que o Benfica é o vigésimo clube mais rico do Mundo. Não é. Primeiro, porque não é essa a avaliação que a Deloitte se propõe fazer. Segundo, porque uma avaliação dessas teria de incluir os respectivos passivos.
Estes estudos são muito interessantes mas o perigo está nas interpretações. E, neste domínio, como se sabe, é muito fácil vender gato por lebre.
Aliás, concluir que o Benfica é o vigésimo clube mais rico do Mundo é uma falácia ou, pelo menos, um excesso de linguagem. Linguagem comercial que interessa porventura a todos.
O aspecto positivo é que, segundo este estudo, o Benfica teve a capacidade de gerar, numa época em que alcançou os quartos-de-final na Liga dos Campeões, 85,1 milhões de euros, mais 34% em relação a 2004/05 (63,4 milhões).
Se a Champions permitiu um encaixe de 16,4 milhões é fácil fazer contas: fora do âmbito da Liga Milionária, o Benfica conseguiu receitas na ordem dos 5,3 milhões de euros. É muito? É pouco? É o possível para um clube que fez um grande esforço de captação de sócios numa conjuntura frágil e pobre.
Em síntese, este estudo revela o que já sabemos há muito: a importância de não apenas participar na Champions como ir o mais longe possível na dita competição.
Sabem por que razão o Benfica não é o vigésimo clube mais rico do Mundo? Porque, se o fosse:
– O novo Estádio já estaria pago;
– O treinador não se chamaria Fernando Santos;
– O plantel não teria seguramente Marco Ferreira;
– O Departamento Médico do Benfica não deixaria que Rui Costa contraísse uma rotura muscular de dois centímetros;
– Os jogadores não manifestariam a permanente vontade de querer sair, aliás agora desconcertantemente reconhecida pelo treinador em conferência de imprensa;
– A SAD teria capacidade aquisitiva e não se ficava pelos empréstimos;
– O projecto de ‘fabricar’ jogadores para a equipa principal já teria saído do papel e dos processos de intenção;
– Não seria preciso utilizar a comunicação social de uma forma tão brutal para se afirmar, ruidosamente, aquilo que (não) se é.
Aliás, esta constante vontade de afirmar o Benfica – característica típica do ‘vieirismo’ – é um equívoco que resulta de uma política de comunicação que só pode resultar junto de estratos sociais e culturais muito pobres.
Não é preciso o presidente do Benfica dizer ‘todos os dias’ que o Benfica é o maior. Estão a ver o presidente do West Ham United ir para a televisão auto-elogiar-se porque o seu clube ficou em 19.º lugar no ranking da Football Money League? Neste aspecto, os nossos dirigentes têm muito a aprender e seria bom que deixassem o protagonismo para os treinadores e jogadores. Ai se estes pudessem falar… Ai se o futebol fosse uma democracia!..
Coloquemos, pois, as coisas como elas são: o Benfica tem alguma capacidade para gerar receitas (desde que esteja na Champions e não seja eliminado à primeira) mas não é o vigésimo clube mais rico do Mundo.
- Não tardou e era previsível que acontecesse: Filipe Soares Franco ‘ameaça’ bater com a porta, uma moda na Segunda Circular. A razão é boa: querer ver diminuído o passivo. Mas então não foi ele quem disse que, uma vez vendido o património não desportivo, o Sporting criaria as condições necessárias para ter uma equipa de futebol competitiva, à escala europeia? Não vendeu a sede, a clínica e a secretaria? Não vendeu o que queria? Em plena campanha eleitoral deixei bem claro o meu pensamento: não seria suficiente o Sporting vender o património não desportivo para fazer face ao endividamento bancário. Sempre disse que iria ser necessário vender alguma das jóias da coroa. Quantos dias ficam a faltar?
Rui Santos, Jornalista