Desigualdade Na Sociedade Portuguesa E No Mundo

Resolvi abrir este topico devido a polémica que o livro The Spirit Level parece ter causado ultimamente, depois de ter sido aceite por políticos das mais variadas cores, como o actual Primeiro Ministro inglês David Cameron que citou o livro num discurso pré eleitoral, admitindo que o inspirou na elaboração da sua mais famosa ideia, com o nome de"big society". Outro leitor vindo directamente do coração do mainstream o antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros do governo trabalhista Jack Straw, que confessou ter lido o livro nas férias, tendo ficado bastante bem impressionado.

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Andares de luxo com uma piscina por piso em Paraisopolis, no Brasil[/center]

The Spirit Level foi escrito por dois naturais de North Yorkshire, Richard Wilkinson e Kate Pickett e tem como argumento principal o facto de que a desigualdade social é a raiz de problemas como a obesidade, crime violento, gravidez precoce de adolescentes,depressão e até mesmo taxa de mortalidade é afectada por este factor, afirmam os autores.

Como não podia deixar de ser, depois de um período inicial de aceitação do livro por parte de vários sectores do mainstream inglês, três think thanks de direita (obviamente opostos a vozes mais moderadas como David Cameron) começaram a atacar o livro, ao melhor estilo das culture wars norte americanas, sem produzir soluções, apenas tentando lançar a confusão, duvidando de estatísticas publicadas no livro e todos os outros golpes baixos a que todos estamos habituados.

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Criança moradora na favela de Paraisópolis toma banho em mina localizada dentro de bueiro, devido aos constante cortes no abastecimento de agua
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Parece-me (já que ainda não li o livro) que o mérito deste obra está no apresentar do caso que menos desigualdade irá beneficiar todos, tanto os mais ricos, como os mais pobres mas principalmente as gerações futuras e o pais em que vivemos também não ficaria igual, nem é difícil prever que mudaria para melhor. Duvido que o titulo de Brasil da Europa seja algo que ostentemos com orgulho, digo duvido porque hoje em dia orgulho parece estar reservado apenas para Campeonatos do Mundo de Futebol ou qualquer outro evento que inclua celebridades…Pao e Circo, como diziam os Romanos.

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C.I.A. The World Factbook
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Também não li o livro, mas quer-me parecer que um livro que faz afirmações destas sobre a relação entre desigualdade social e obesidade e gravidez na adolescência deve ser do mais fácil que há para destruir em termos de metodologia, caso os autores tenham tido a preocupação de a apresentar de modo transparente, o que duvido muito.

Desigualadade social e económica há-de haver sempre, porque há pessoas que nascem mais ricas e / ou mais inteligentes que outras (parece-me que estou a focar os dois factores principais). O sistema fiscal e a Segurança Social, assim como a Educação, têm um papel de atenuação das desigualdades sociais, e há sempre um equilíbrio difícil de atingir entre distribuir a riqueza e proporcionar incentivos para que os mais capazes continuem a gerar riqueza suficiente para ser distribuída. Quais são as sugestões que os autores apresentam para diminuir as desigualdades sociais, e com que fundamento?

Tal como tu, ainda não li o livro, por isso não te posso responder sobre quais as soluções apresentadas, apenas sobre o que diz o site dos autores em relação aos remédios para esta enfermidade e que irei colocar no final do post.

Nao me parece que apontar soluções tenha sido a intenção principal do livro, já que essas são sobejamente conhecidas mas sim demonstrar que quanto menos desigualdade, melhor o nível de vida no país, não me referindo apenas a parte económica mas também aos factores que são necessários para a configuração de algo como o HDI

Os dois escritores do Spirit Level são epidemiologist (desculpa escrever em inglês, mas não sei como se diz em português) portanto não sei se será fácil ou difícil, transparente ou não, mas tens razão num aspecto, já que os ataques dos think thanks de direita conservadora foram relacionados com a metodologia e estatísticas usadas.
Embora até possa estar a dizer uma grande asneira, já que como é evidente, não sou qualificado para fazer esse tipo de comentários. Aqui tens mais um resumo sobre algumas das criticas feitas ao livro, que parece ter assustado muito boa gente nos sectores mais conservadores.

Eis um pequeno excerto contido na wikipedia sobre o livro The Spirit Level:

The book details the “pernicious effects that inequality has on societies: eroding trust, increasing anxiety and illness, (and) encouraging excessive consumption.” Based on thirty years of research, it claims that for each of eleven different health and social problems: physical health, mental health, drug abuse, education, imprisonment, obesity, social mobility, trust and community life, violence, teenage pregnancies, and child well-being, outcomes are substantially worse in more unequal rich countries. Statistics are given for 23 of the top 50 rich countries and also for 50 states of the United States of America. The book contains extensive graphs and charts, also available online.

Caso queiras saber mais, aqui tens o site da Trust onde os autores tem publicado varias respostas as questões dos críticos/conservadores, que basicamente são aqueles que pensam não ter interesse em mudar as sociedades em que vivemos, esquecendo-se que os seus filhos puderam vir a sofrer dos mesmíssimos problemas originados pelo tipo de sociedade que defendem.

Parece-me que o livro tentou provar que quanto menos desigualdade houver, melhor é para todos, tanto para os ricos como obviamente para os pobres.

Vou passar o site da Equality Trust a pente fino e ver se será possível sacar alguns gráficos para este tópico.

Obrigado pela tua resposta.

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The Remedies / As Soluções

In brief:

There are two main ways of reducing income inequality

* smaller differences in pay before tax (like in Japan)
* redistribution through taxes and benefits (like in Sweden)

For a discussion of specific policy measures please see One Society a new campaign set up in association with The Equalty Trust to promote policies to close the income gap.

The theory in more detail:

[size=8pt][b]Looking at examples of more equal rich societies we can see that there are two fundamentally different paths to greater equality. One depends on redistributing income from rich to poor through taxes and benefits, while the other involves having smaller differences in incomes at source - before taxes and benefits - so there is less need for redistribution. Although the two methods could be contrasted as the big government and the small government methods of achieving greater equality, the two approaches can of course be combined.

There are examples of each approach internationally and among the different states of the USA. For example, Sweden gets its greater equality through redistribution, through taxes and benefits, and public services provided by a big state. In contrast, Japan has a greater equality of “market incomes”, before redistribution. Differences in Japanese earnings are smaller even before taxes and benefits. While Sweden has a large state and well developed public services, in Japan government social expenditure makes up an unusually small part (compared to other OECD countries) of its Gross National Income. The same contrast exists among US states - even between neighbouring states like Vermont and New Hampshire. Vermont takes the big government route and New Hampshire the small. But despite the contrast in how greater equality is achieved, Sweden, Japan, Vermont and New Hampshire all enjoy good health, lower rates of most social problems - i.e. all the benefits of greater equality.

What this means is that how societies become more equal is much less important than whether or not they do so. There is no shortage of policy options for governments wanting to make a society more equal. There are hundreds of different ways of doing so: indeed, with government expenditure (central and local) averaging close to 40 percent of Gross Domestic Product in developed countries, it is impossible for governments not to affect income distribution. Preventing excessively high incomes and concentrations of wealth at the top is as important as pulling up the incomes at the bottom, and the first clearly provides the means for the second.

As well as more progressive income and property taxes and more generous benefits, we also need policies to reduce differences in incomes before taxes and benefits. That means higher minimum wages, more generous pensions, running the national economy with low levels of unemployment, better education and retraining policies, increasing the bargaining power of trade unions. Good labour law, protection of union rights and minimum wages are amongst the factors contributing to greater equality of incomes in New Hampshire. One of the factors which made a difference in Japan was how companies were owned and run. Differences in incomes of directors and employees in Japanese companies used to be smaller partly because almost all directors were people who had been promoted from among those who had worked their way up the firm. Other differences in corporate governance made unions influential stakeholders and union leaders were sometimes given seats on the board. Patterns such as these led to different ethical standards: Ron Dore describes how it was not uncommon for directors of Japanese companies to take pay cuts themselves to avoid laying off junior employees.

Read more about the benefits of Economic Democracy.

Political Will

Political will is however a precondition for success for the adoption of any effective policies to reduce inequality - political will among public and politicians alike. That will only be forthcoming when people recognise how important greater equality is to the quality of social relations - and so to the real quality of life - for the vast majority of the population. We have shown (see The Evidence) that greater equality improves health and life expectancy and dramatically reduces the frequency of a wide range of social problems including violence, mental illness, drug addiction and obesity. Many people worry about what has gone wrong with modern societies without recognising how many of the problems originate in the effects of low social status and status competition which are exacerbated by greater inequality.

A major implication of the new research findings is that reducing inequality is no longer something which depends on the well-off adopting more altruistic attitudes to those in relative poverty: instead a more equal society benefits the vast majority of the population. A wider recognition of the way we all suffer the costs of inequality will lead to a growing desire for a more equal society. Our primary task is therefore to gain a widespread understanding the way inequality makes societies socially dysfunctional - right across the board.

We hope that political parties, trade unions, policy institutes and other groups will develop their own proposals for increasing equality. The best policies will depend both on the country and the timing. While we hope to gain a wider recognition of the ways in which inequality makes societies increasingly dysfunctional, we do not suggest that there is a ‘one policy fits all’ solution.
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Mais gráficos depois do salto

THE SPIRIT LEVEL (short film)

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:great: :clap:

  • redistribution through taxes and benefits (like in Sweden)

Foco este ponto. De facto, a Suécia, juntamente com outros países de sistemas sociais e económicos similares, é um exemplo a nível mundial. Comparando-o com Portugal, existe aqui um problema. A Suécia pode redistribuir rendimentos porque não tem dívida para pagar, não tem juros para liquidar, por exemplo, ao contrário de Portugal, que, tentando facilitar a compreensão de quem lê, é uma empresa falida, uma empresa cujas receitas estão penhoradas pelo Fisco (entidades, neste caso denominadas por Mercados Financeiros, que emprestaram dinheiro a Portugal). E porquê? Porque Portugal, infelizmente, perde dinheiro todos os anos por culpa própria: não cresce economicamente (só haverá distribuição de rendimentos com crescimento económico, ou estaremos a falar de roubo estatal, dessa forma empobrecendo gradualmente o cidadão) e não é eficiente (diria criminoso) no seu funcionamento. Li que, do ano passado para o actual, Portugal está a pagar mais 600 milhões de euros em juros. Só em juros! São 600 milhões a menos para o orçamento social. São 600 milhões de euros que poderiam ter sido aliviados na necessidade de receita fiscal.

Em relação à desigualdade de rendimentos, não considero as estatísticas acima demonstradas como as mais fidedignas para este tema, embora não as ignore, obviamente. Não me digam que consideram Portugal um país repleto de ricos e de sacanas que enriqueceram à custa do roubo e da ganância? Temos um sector financeiro (o impulsionador da riqueza mórbida dos EUA, por exemplo) virtualmente inexistente e temos poucas empresas de dimensão internacional (que pagam enormes salários, normalmente de componente variável e remunerado através de stock options). Portugal tem os seus sacanas, mas está longe de ser um paraíso para riqueza fácil e rápida. Sacanas existem em todo o lado. Não é um defeito do sistema capitalista, mas um defeito do Homem, que quer sempre mais.

Em relação a Portugal, digo o seguinte: a desigualdade advém principalmente da gradual pobreza das restantes classes (a média, acima das restantes), e não propriamente do facto de os ricos estarem a ficar mais poderosos. Não tenho números para a situação da classe média, mas posso aqui dizer-vos que os 25 mais ricos de Portugal, em comparação com 2007, o ano pique, estão 6 mil milhões de euros menos ricos. Importante referir que o Amorim, com uma fortuna avaliada em cerca de 1,2 mil milhões, nem 100 milhões de euros líquidos deve ter. É uma riqueza, digamos, virtual, pois está dependente de algo que eles não controlam: a bolsa. O Berardo é hoje um homem endividado (renegociou cerca de 500 milhões de euros da sua dívida) por uma razão simples: o BCP. Muitos outros terão enriquecido, mas eu foquei os casos mais conhecidos. O pessoal, eu incluído, está-se a cagar para o Berardo (nós ainda mais porque ele é lampião), mas só para desmistificar alguns chavões que são utilizados na sociedade.

Já defendi um IRS mais alto, por exemplo, mas rejeito tal ideia enquanto o Estado não se organizar. Não quero pagar mais impostos se estes forem utilizados para liquidar juros abomináveis, sustentar empresas públicas que afundam milhões de euros todos os dias ou para financiar um país que rejeita continuadamente a necessidade de se modernizar, continuando a defender a prática económica e social de há 30 anos, quando Portugal crescia económica e demograficamente.

Em relação ao estudo sobre a pobreza, darei importância a um novo indicador desenvolvido pela Universidade de Oxford, um indicador que é várias vezes mais útil e importante do que os actuais: o Multidimensional Poverty Index. Este indicador é mais completo do que os restantes porque contextualiza o significado de ser pobre consoante o país estudado. Exemplo: No Paquistão, um dos problemas é a falta de qualidade nos acabamentos habitacionais, forçando as pessoas a viver em espaços de péssima qualidade; na Ásia, o factor sanitário assume maior dimensão. Portanto, são considerados os factores mais importantes das populações alvo.

[url]http://www.ophi.org.uk/policy/multidimensional-poverty-index/[/url]

Sobre combate directo à pobreza, a táctica utilizada pelo governo Brasileiro é ideal: incentivos para os pobres, não dando de mão beijada dinheiro/subsídios. Denomina-se por Bolsa Familiar. Tem sido este o programa que legitima Lula da Silva como um dos políticos mais queridos das classes mais pobres. Dar dinheiro sem pedir (pedir é de facto uma obrigação do requerente, do pobre, portanto) não funciona. Como tudo, a economia, tanto para o rico como para o pobre, rege-se por incentivos.

Concluindo, o importante para mim, ainda mais do que saber o rendimento do mais pobre e compará-lo com o do mais rico, é saber e compreender a robustez da classe média. Como foi formada? É sólida? Em que escalão de rendimentos se situa? Queremos uma classe média mais numerosa e mais rica. Em Portugal, está à vista de todos, pagam-se impostos que não produzem retorno real, pelo contrário.

Bom tópico, com uma boa carga de ideologia. Nada que não possa ser mantido dentro dos limites do respeito.

Obrigado pela tua resposta Daniel, mais uma prova (como se provas fossem necessarias) de que dominas bastante bem esta area, embora nem sempre concorde com alguns dos teus pontos de vista.

Queira só aprofundar porque razão não consideras as estatísticas fidedignas? Será porque vão contra a tua ideologia? Se for esse o caso, sabes tão bem como eu que os dogmas são pouco saudáveis.

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  • smaller differences in pay before tax (like in Japan)[/b]

Esta parte já não te parece merecedora de aplauso?
Fico bastante contente que concordes com pelo menos cinquenta por cento das “soluções apresentadas”, que aliás é prova da tua coerência, já que sempre tens defendido medidas de cariz mais social democrático (o verdadeiro e não o PSD).

Eu estou convencido que a democratização do local de trabalho é um passo fundamental para maior igualdade entre as classes. Sendo essa a razão que defenderia (em principio) este tipo de medida.

Já agora, deixa-me só deixar aqui um pequeno caveat sobre quem empenhou a sua reputação profissional neste estudo mas antes que me esqueça, queria sublinhar que as estatísticas referentes a crianças são da UNICEF.

Richard Wilkinson, Professor Emeritus of social epidemiology at the University of Nottingham, having retired in 2008. He is also Honorary Professor at University College London.

Kate Pickett, Professor in the Department of Health Sciences of the University of York

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PS:
Este estudo não é sobre pobreza, é sobre desigualdade…Algo que é bastante diferente, embora eu compreenda a razão para relacionares os dois termos.

Estes assuntos e outros estão todos bem estudados e entendidos, falta é o mais importante e aquilo que nunca acontece, AGIR!

Até lá continuamos todos a bater na mesma tecla sem que nada aconteça.

Não é considerar as estatísticas menos fidedignas, aliás, até faço um mea culpa porque não vi grande parte delas. Vi unicamente a referente ao rendimento, deixando passar as restantes. Algumas deixaram-me surpreendido, admito.

Concordo com a 2ª, também, mas não respondi porque quis clarificar o seu significado. Sim, concordo, obviamente. Justiça económica faz-se a todos os níveis, não somente na fiscalidade ou na expansão do Estado Social. Quem tem mais deve, natural e justamente, pagar mais. Ninguém pode considerar-se justo e defender o contrário.

Como disse, eu não me importo de pagar mais, mas quero ver o dinheiro bem aplicado, e não para pagar dívidas e variantes dessa natureza. Daí que eu seja um forte apoiante de causas privadas, fora da esfera estatal, como caridade, etc. Apoio porque posso e porque gosto.

Repara, eu tenho até uma ideia que poderás considerar estranha: no caso de um homem que, ao longo da sua vida profissional, teve um certo nível de rendimentos (alto), eu defendo que a reforma desse sujeito deve ficar para o Estado ou ser substancialmente reduzida, porque esse sujeito não necessitará da reforma do Estado para sobreviver. E esta, han? Ideias há muitas, mas preconceitos também.

Ah, e será preciso referir que eu apoio uma espécie de “plafonamento” nas reformas? Acima dos 2000€ é abusivo, na minha opinião. Uma ideia um pouco rupestre, muito pouco trabalhada, mas cujo ideia e objectivo é evidente, penso.

Para os políticos agirem não basta apenas que os assuntos estejam bem estudados. O que falta é os políticos verem-se obrigados agir.

Repara por exemplo no caso do Aquecimento Global (muito rapidamente para não entrar em off topic porque até há um tópico para esse efeito), um assunto que não deixa margens para duvidas, onde praticamente todos os governos do mundo estão de acordo quanto a existência e possíveis danos para o planeta e futuro das espécies. Um assunto que nem faz falta ser um cientista, já que as causas são tão óbvias que qualquer pessoa com educação relativamente acima da média consegue fazer um juízo acertado sobre a situação.

Porque razoes não há nem sequer um plano ou qualquer tipo de medidas para nos salvar do precipício?
Simples, porque aqueles que mais lucram com o comercio do petróleo e outros fossil fuels, não querem que nada seja feito.
Portanto, cerca de um ano atrás lançaram uma enorme campanha de relações publicas para desacreditar a ciência por trás deste problema (tal e qual como estão agora a fazer com este livro que aqui discutimos), conseguindo empolar ao máximo toda a polémica acerca de uns emails da East Anglia University a que chamaram Climategate, que na altura diziam deitar por terra toda esta “teoria de conspiração liberal/comunista” e que ainda acerca de um mês atrás ficou provado em tribunal, que todo este escândalo do Climategate não passou de uma enorme tempestade num copo de agua, excepto pela enorme quantidade de pessoas que dizem agora não acreditar no Aquecimento Global, como se estivéssemos a falar se acreditam ou não no Pai Natal .

Se os políticos no Congresso Norte Americano (onde realmente se decide os destinos do mundo) se apercebem que os eleitores não acreditam em algo, não se vão por a passar leis, ainda por cima se forem leis que vão contra o interesse das elites que dominam o nosso sistema democrático.
É portanto óbvio que para que se possa agir, faz falta que a população se una e se faça ouvir, algo extremamente difícil quando há corporações como esta, que também está envolvida no financiamento das Tea Parties nos EUA, algo que tentam agora trazer para a Europa e que não quero discutir porque me tira do sério.

Estas são as razoes porque não se age, de resto estou absolutamente de acordo contigo, já é tempo para os políticos se deixarem de tanto debate e começar a fazer algo pelo planeta e respectivas populações. Ao mesmo tempo que as massas devem (digo devem, porque não há outra hipótese) deixar de adorar apenas o deus que vês na imagem abaixo, ou seja, o deus consumo.

Enquanto assim não for, será difícil agir de uma maneira significativa e com impacto, mesmo para os políticos mais bem intencionados porque também os há, da mesma maneira que também há C.E.O.s bem intencionados, mas que por lei tem que continuar a procurar lucro para as suas corporações, mesmo que isso inclua destruir o planeta…

Talvez o Daniel nos possa dar mais umas luzes nesse aspecto, já que ele entende a mentalidade e os paramentos porque se regem as grandes corporações.

Obrigado pela vossa participação no tópico.

A questão-mor pretende-se com o falhanço total deste sistema capitalista, que se vai tentando mascarar através de taxonomias diversas (ou é o “neoliberalismo” ou é o “sociedade de mercado”), apercebendo-se de que poderá estar a criar as condições necessárias para uma revolução a longo prazo…
Sim, já conheço o argumento de que foi este sistema capitalista que proporcionou o maior bem-estar à sociedade… Contudo, o tal “New Deal” / “Welfare State”, que Roosevelt se viu obrigado a conceder, dada a situação caótica nos EUA pós-29, e que se foi estendendo a outros países desenvolvidos, começa a ver os seus dias encurtados e os seus efeitos extremamente limitados.

Se a tal juntarmos o facto de que um emprego sólido é cada vez mais difícil de encontrar nesses mesmos países desenvolvidos, dada a globalização e à extensão de multinacionais para países de mão-de-obra barata, proliferando, pelo contrário, o trabalho precário e mal remunerado, começamos a encontrar as razões para a existência deste fosso entre ricos e pobres.

Infelizmente, os preconceitos ideológicos tendem a toldar as visões e os argumentos. Quem assume uma posição destas é automaticamente catalogado de “comuna” ou “anarca”, não havendo espaço para uma discussão aberta e com um único objectivo: procurar soluções para um futuro melhor.
Porque ninguém me consegue convencer de que o sistema actual é o mais eficaz para tornar a sociedade mais justa e equilibrada. O presente indica-nos o contrário: o sistema capitalista tende a aniquilar a classe média, estilhaçando-a e atirando-a para a pobreza, criando uma sociedade bipolarizada e insustentável a longo prazo. Por outras palavras, o sistema actual começa a destruir a sua base de sustentação.

A História escreve-se diariamente. Em 1789, a maioria dos franceses não tinha a noção da importância da Revolução que estava a acontecer, por exemplo.
E, na minha opinião, estamos também nós a viver tempos históricos e tempos de mudança, sem ainda termos plena consciência disso. Ela não ocorrerá brevemente. Mas, assumindo uma posição optimista, acredito que tomará lugar. É impossível este sonambulismo perdurar ad eternum.

Think for yourself. Question authority.

Apesar de ainda haver muitas tentativas de a repor disfarçadamente, a Inquisição e o seu Index já lá vão. As pessoas podem-se informar, podem abrir o seu espírito, podem tentar compreender o porquê. A informação está aí, ao nosso dispor. Tudo tem uma razão. Os salários não decrescem por acaso. A deterioração da qualidade de vida também não. O aumento da criminalidade também não. O aumento das depressões também não. Tudo tem uma razão. Cabe a cada indivíduo a responsabilidade de pensar e agir.

Depois de cinco minutos a olhar para o espaço em branco desta mensagem e ainda meio atordoado pelo golpe contundente que foi o post do Schism, lá me recomponho e é com alegria indisfarçável que aceno afirmativamente e exclamo:

Concordo com o texto desde a primeira letra inicial até ao ultimo ponto final!

Eu acredito exactamente no mesmo, tenho fé e esperança quase religiosa que um dia assim será. Tenho a certeza que tantas mudanças, conflitos, e revoluções haverão, que há-de haver uma que é a ultima.

Mesmo com todas a armadilhas que os interesses dos poderosos vão espalhando, o numero daqueles consciente da realidade aumenta. É um facto, basta ver como a sociedade era estruturada cinquenta anos atrás, extremamente machista, racista e alienada e comparar com hoje em dia, que mesmo com todos os seus defeitos, como consumismos egoístas e potenciais calamidades ecológicas, é completamente diferente da sociedade onde os nossos pais nasceram.

Agora é altura para alguém aparecer no tópico e contra argumentar com a U-word…Aposto que já deve ter ocorrido a alguns. Refiro-me a utopia, que juntamente com a também já clássica parte do “capitalismo não é o melhor sistema, mas é o único possível” acabam por ser autênticos thought terminating cliches.
Embora quem o diga aqui no fórum não o diga por maldade ou má intenção, estou ciente desse facto, alem de não me estar a referir a ninguém em particular.
Este vídeo faz uma tese muito mais eloquente do que eu seria capaz.

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RSA Animate - The Empathic Civilisation[/center]

O video e cartoons por Royal Society for the Arts, discurso por President of the Foundation On Economic Trends, Jeremy Rifkin.

Em Portugal infelizmente é assim

  • os ricos são ricos por isto não têm dificuldades
  • os pobres o governo paga tudo
  • na classe média os 2 membros trabalham o dia inteiro e são os que tem mais dificuldades pois descontam para tudo o que se possa imaginar.

No caso dos Açores onde habito em São Miguel minha ilha vejo muitas pessoas a receber o rendimento minimo, recusando emprego por o ordenado minimo ser menor que o rendimento, ou sejam passam os dias nos cafes enquanto anda a classe média a trabalhar e nao ter tempo nem dinheiro para tomar um cafe. Posso ainda adiantar que nas familias que recebem o rendimento andam os meninos nos intervalos a levar chopicaos, batatas fritas entre outros produtos do genero enquanto os outros levam uma sandes ou um iogourt, sei disto pois minha mae é educadora de infancia.

Não tive tempo para estudar os argumentos dos autores.

Em relação à votação, votei média. Em relação a países desenvolvidos, é seguramente maior que na Holanda ou na Suécia, e seguramente menor que nos Estados Unidos. O problema está em balizar o que seriam o 1 e o 10 da escala. É que as comparações não fazem muito sentido se o nível de vida médio não for comparável - se calhar os habitantes de Moçambique não se importariam de viver numa sociedade com mais desigualdade caso os pobres dessa sociedade fizessem uma vida muito melhor que a classe média de lá.

Concordo. Também tinha me ocorrido tal pensamento, é que a nossa desigualdade comparativamente ao Paquistão ou Etiópia é fantástica. A comparação deve e tem sentido se for a nível europeu, o nosso mapa.