Depois de tanto se ter especulado sobre o miúdo romeno, aqui estão notícias dele:
«Cristian Ponde já brilha nos infantis
O pequeno fenómeno contratado ao Olhanense há quase dois anos desloca-se a Lisboa ao fim-de-semana para jogar pelos leões, dando mostras do seu precoce talento. O JOGO já lhe tirou a pinta…
FILIPE ALEXANDRE DIAS
Sábado acorda preguiçoso em Pina Manique. Entre bocejos, um pequeno núcleo de pais e filhos, a que se juntam alguns curiosos, aglomera-se nas bancadas de um dos campos do complexo do Casa Pia, pólo dos escalões de escolinhas e infantis do Sporting. Na equipa leonina, que entra no recinto aprumada na pequenez irreverente de quem já se arroga o estatuto de craque, sobressai um miúdo alto – para os seus 12 anos – e de cabelo escuro, que todos os fins-de-semana não tem os pais para o levar ao campo e lhe lançar gritos de incentivo. Nem por isso se lhe nota um só traço de tristeza. Ele está no seu elemento, na idade dos sonhos, e o que acalenta é do tamanho do mundo, é a sua companhia, o amigo imaginário a puxar por ele na bancada, na esperança de que a sorte o acompanhe até algo melhor, mais grandioso. O miúdo chama-se Cristian Ponde, filho de emigrantes romenos que causou sensação quando, em Março de 2005, O JOGO o “descobriu” em Olhão – para onde foi viver com os pais, em busca de uma vida digna –, a assinar contrato com o Sporting. Há quase dois anos, o pequeno encarado como fenómeno tinha, na sua peugada, o rival Benfica e nada mais nada menos do que o Chelsea. Com o departamento de recrutamento leonino a operar de imediato – e beneficiando de uma mãozinha do amigo Niculae, então ainda jogador dos leões –, Cristian decidiu-se pelo clube que o apaixonara à chegada ao País. A transição para o Sporting foi calmamente planeada e dá agora os primeiros passos.
Hoje, aos 12 anos, o avançado divide o seu tempo entre Olhão e Lisboa. À sexta-feira, deixa para trás família e amigos, viajando com destino à capital, onde vai evoluindo com a formação de infantis B verde e branca. Seguindo um plano de acompanhamento específico delineado pelos responsáveis do sector de formação sedeado na Academia Sporting, o jovem atleta treina no Olhanense, estuda, durante a semana, no Algarve e, ao fim-de-semana, sua a camisola leonina, com a qual, aliás, já marca e promete. Com um longo caminho a percorrer e muito futebol nos pés, uma das esperanças do futebol jovem do emblema de Alvalade está já em construção.
Naquele sábado, Cristian fez mais um jogo pelos infantis. Até nem foi o seu melhor, mas um craque não se faz em poucos jogos. Essa é uma lição já aprendida. Mesmo assim, lutou, jogou e marcou o último dos seis golos sem resposta aplicados ao Ponte de Frielas. A aventura começa…
Um golo fácil e muito esforço
Num jogo de sete para sete em 60 minutos, como mandam os regulamentos dos jogos de infantis, o Sporting bate facilmente o Ponte de Frielas por 6-0. Cristian entra em campo ao minuto 20, mas as coisas teimam em não lhe sair bem. O seu contributo é modesto, mas nem por isso a exibição deixa de ser digna de registo, mesmo se algo diferente da dos dois jogos que antes fez na categoria, nos quais foi figura de proa, com muitos golos à mistura.
Ainda à procura do entendimento com os colegas que só encontra ao fim-de-semana, o puto farta-se de lutar, mas só perto do apito final consegue o seu golo, com uma emenda fácil junto da linha de baliza. Antes, falhara três boas ocasiões para atirar a contar, mas o próprio nível competitivo que encontra está a anos-luz daquele a que se habituara no Estádio José Arcanjo, onde sobressaía ao primeiro contacto com bola. O processo de crescimento está em fase de integração – e a exigente trajectória de leão ao peito ainda agora vai no começo.
Cristian
“Tenho sempre alguém à espera”
Perfeitamente adaptado ao ambiente que sonha encontrar durante a semana, Cristian conta os seus dias a O JOGO. “Estou a gostar muito do Sporting. Toda a gente me trata bem. O ambiente é muito bom, e somos todos amigos”, conta. Sexta-feira é dia de seguir, com os pais, até à estação de comboios de Tavira, e ele mal consegue esconder a ansiedade. À despedida, não há tempo para lágrimas, apenas para um “Até já!”, que o sonho mora pouco mais de duas centenas de quilómetros a norte de casa. “Vou sempre sozinho até Lisboa, mal posso esperar pela chegada, e há alguém sempre à minha espera. Já me estou a habituar. Não custa nada”, revela. Antes de assentar pé na carruagem, o pai Constantin deixa-lhe um último afago e algo mais para que nada falte, mesmo não havendo muito lá em casa: “O meu pai dá-me sempre algum dinheiro, que tento poupar. O dinheiro não é muito, e temos de lhe dar valor, como ele me diz.”
“Sporting será campeão”
Atento à campanha da equipa de Paulo Bento, Cristian tem fé que será desta que os leões vão resgatar o título que lhes foge desde 2001/02. Sempre que pode, o pequeno dá um salto a Alvalade para ver jogar os graúdos e sofrer como qualquer comum adepto: “Sempre que há possibilidade, assisto aos jogos na televisão – e até já vi alguns em Alvalade. Espero que a equipa seja campeã. Tem muitos jogadores jovens e com talento.”
Além de Nani, Cristian presta especial atenção aos outros talentos que saíram da cantera leonina: “Gosto deles todos, principalmente do João Moutinho e do Miguel Veloso. O Djaló também é muito bom, é rápido e chuta bem à baliza. O Sporting tem mesmo uma grande equipa.”
“Quero uma PSP”
Oriundo de uma família modesta, desde cedo Cristian se habituou a contentar-se com pouco. Sem disso se queixar, o “leãozinho” até já tem uma PS2 – “oferecida por O JOGO”, como fez questão de recordar –, mas, agora, o pensamento é mais avançado, com a nova versão do “Pro Evolution Soccer” (PES) no horizonte, claro está. “Tenho lá aquela PS2 que vocês me deram, mas ainda só tenho o PES 4. Gostava de ter o 6 e uma Playstation Portable [PSP].” Para concretizar a “ambição”, o petiz até já está a formar o seu primeiro pé-de-meia: “Ando a poupar, a tentar não estragar o dinheiro que o meu pai me vai dando, e talvez assim consiga comprar a minha PSP. Há um amigo meu que tem, já joguei nela e gostava de ter a minha.”
José João
“Tem muita qualidade mas precisa de crescer”
Técnico principal das formações infantis do Sporting, José João passou em revista os primeiros tempos de Cristian Ponde, explicando a origem e o objectivo do plano que lhe foi traçado. Segundo o treinador, o romeno tem muitos predicados a amadurecer, e, nestes casos, o tempo e o melhor acompanhamento são o segredo para a correcta formação do jogador. Para que nada falte, há todo um plano previamente esboçado, que não se estende só ao camisola 9 dos infantis B. “O Cristian está ao abrigo de um programa especial traçado pelo Sporting. Inseridos neste programa, temo-lo a ele e a um outro miúdo, de São João da Madeira. Jovens que moram muito longe de Lisboa foram alvo deste programa, no qual, aliás, contamos com a colaboração do Olhanense e da Sanjoanense. Eles treinam-se nestes clubes, da sua localidade, durante a semana e, ao fim-de-semana, jogam pelo Sporting, uma vez que a idade que têm desaconselha a que abandonem o seu ambiente. É preciso haver um cuidado especial ao nível do entrosamento, da competição. Tudo é, agora, diferente, daí este acompanhamento específico. Tentamos trabalhar todas as vertentes e preparar devidamente o crescimento deles”, pormenorizou.
Numa análise individual ao romeno, José João destacou-lhe as virtudes, mas alertou para o trabalho que o miúdo tem pela frente: “Ele está em franco processo de desenvolvimento. Tem bastante altura para a sua idade, evidencia muita qualidade, mas só isso não é suficiente, como é óbvio.”
Atenção aos pontos fracos
Dada a diferença acentuada de nível e intensidade de jogo que Cristian encontrou na transição do Olhanense para o Sporting, o técnico José João explicou que esta é um ponto de viragem. É nestas alturas que os miúdos tomam consciência das suas debilidades: “Temos sempre de ter em atenção os seus aspectos menos fortes. Os primeiros tempos de jovens nesta situação são sempre complicados. É necessária pedagogia e também cuidado na análise. As diferenças competitivas são grandes, e é aqui que começa o trabalho de melhoramento.”
Nani é jogador favorito
Cristian nem pestaneja quando a pergunta lhe é endereçada. “O meu jogador favorito? É o Nani”, exclama. O craque de palmo e meio ganha um brilho nos olhos quando, logo de seguida, adianta: “Somos bons amigos. Quando me magoei num pé, fui fazer tratamento ao Sporting, e ele foi lá visitar-me. Deu-me um aperto de mão e perguntou-me se eu estava melhor. Foi giro. O Miguel Veloso foi com ele, e agora, quando me vêem, metem-se logo comigo.” E, com um sorriso, completa: “Também já falei com o Paulo Bento, que é muito porreiro.”
Anseia jogar com o Benfica
À medida que vai assimilando a cultura leonina, o pequeno avançado já sonha em fazer a diferença num dérbi dos dérbis entre “pequenos”. O romeno até já defrontou o arqui-rival Benfica, mas a recordação não foi a melhor – e já sonha com a “vingança”: “Por acaso já joguei contra eles, num torneio que fiz com o Sporting no Luxemburgo, mas perdemos 1-0. Não quero falar muito desse jogo. Quero é saber quando é o próximo. Quero ganhar e marcar golos.”
Tem gosto pelos estudos
Amigo dos livros, Cristian orgulha-se, sem vaidade, do seu interesse e bom aproveitamento escolar. Não há disciplina que o atemorize: “Estou no 6.º ano e sou dos melhores da sala a quase tudo: Matemática, Ciências da Natureza, História e Educação Física, claro. Gosto muito de estudar, já conheço toda a gente na minha escola, mas gosto mais de jogar à bola.”
Visita à Roménia
Embora já há alguns anos em Portugal, a família Ponde tem feito economias para poder visitar o seu país-natal, se possível já no próximo Verão. A perspectiva da viagem deixa Cristian visivelmente entusiasmado: “Gostava de lá voltar. Às vezes, nem me lembro bem como é a Roménia.”
Acolhimento em famílias
Só a partir dos 13 anos é que os jovens da formação passam a viver na Academia. Cristian tem 12 anos e reside em Olhão, pelo que o Centro de Futebol do Sporting é encarado como desaconselhável, para já, à sua instalação. A alternativa dos responsáveis leoninos passa por encontrar um lar estável e harmonioso de um jovem atleta da capital. Assim, o romeno passa o fim-de-semana em casa do amigo e companheiro Carlos André.»
in O JOGO