Numa altura em que se discute com tanta paixão as contas e o futuro do futebol do Sporting e em que continuamos a assistir ao colapso de emblemas históricos como o Boavista, Farense ou Salgueiros, parece-me oportuno reflectir sobre a viabilidade de novos modelos para as competições profissionais.
Surgem, nesta altura, três tendências de ruptura que podem dar um novo impulso à indústria do futebol profissional em Portugal:
- A redução do número de clubes;
- A Liga Ibérica.
- A Liga Europeia
1- Redução do número de clubes
Nesta competição – que corresponderia ao que é hoje a Liga Sagres – participariam doze clubes.
Numa primeira fase jogariam todos contra todos a 2 mãos;
Numa segunda fase jogariam igualmente todos contra todos a 2 mãos, sendo que os seis primeiros classificados da 1ª fase disputariam o título nacional e o apuramento para as competições da UEFA e os seis últimos classificados da 1ª fase disputariam a permanência neste 1º escalão.
Cada equipa disputaria um total de 32 jogos (22 na 1ª FASE + 10 na 2ª FASE) e o sistema de pontuação manter-se-ia inalterado (vitória -3 pontos; empate – 1 pts; derrota – 0 pts);
Todas as equipas participariam na 2ª Fase partindo com zero pontos.
A classificação da 1ª Fase contaria como primeiro critério de desempate no final da competição.
Imaginemos então que, concluída a 1ª fase, teríamos a seguinte classificação:
1 - SPORTING
2 - BENFICA
3 - PORTO
4 - GUIMARÃES
5 - BRAGA
6 - MARÍTIMO
7 - SETÚBAL
8 - NACIONAL
9 - LEIXÕES
10 - PAÇOS DE FERREIRA
11 - ESTRELA DA AMADORA
12 – BELENENSES
Disputariam o título e a distribuição dos lugares nas competições da UEFA os seguintes clubes:
GRUPO A
1 – SPORTING
2 - PORTO
3 - GUIMARÃES
4 - BRAGA
5 – BENFICA
6 – BELENENSES
Disputariam a permanência na 1ª Liga os seguintes clubes:
GRUPO B
7 - MARÍTIMO
8 - SETÚBAL
9 - NACIONAL
10 - LEIXÕES
11 - PAÇOS DE FERREIRA
12 - ESTRELA DA AMADORA
Vantagens da proposta
Existindo menos clubes a disputar esta competição existe a fortíssima probabilidade de conseguirmos ver aumentada a qualidade média da equipas;
A 1ª Fase, sendo mais curta do que a actual Liga Sagres (22 jogos contra 30/66 pontos em disputa contra 90) proporcionaria menos hipóteses de recuperação em caso de arranques menos bem sucedidos, o que aumentaria a expectativa, o interesse e, logo, as audiências. O Sporting, salvo erro, com a pontuação da temporada passada, partiria para a 22ª e última jornada a disputar o acesso ao 1º Grupo…
Na 2ª Fase todos os jogos teriam um carácter muito mais decisivo. Estamos a falar de 10 jogos para decidir um campeão. Um mau arranque nesta fase poderá ser dramático. As recuperações muito mais difíceis porque há menos jogos e as equipas são muito mais fortes. Um duplo empate dos três grandes nas 2 primeiras jornadas poderia, por exemplo, colocar o Guimarães a sonhar com o título fazendo que, também por exemplo, num Belenenses vs. Guimarães as audiências televisivas disparassem brutalmente (seria um jogo que interessava, e muito, aos adeptos de SCP, SLB e FCP).
Mais “clássicos” por época (sem cair em exagero);
Calendários mais exigentes. Por vezes olho, por exemplo, para a Liga Italiana e para um clube como a Fiorentina e delicio-me a olhar para o seu calendário: na semana x joga com a Roma, a seguir com o Inter, 8 dias depois recebe a Juventus, a meio da semana defronta o AC Milan para aTaça de Itália, depois a Lázio, etc, etc, etc, Depois comparo com o calendário dos 3 grandes em Portugal e vejo que o nível de exigência é ridículo em comparação. Com este modelo, pelo menos, assegura-se mais períodos conhecidos como os “ciclos terríveis” que desgastam mas dão mais pedalada e ritmo competitivo para as disputas europeias.
Isto significava 3 jogos por semana no grupo A, sendo, por exemplo, um transmitido à sexta, outro ao Sábado e outro ao Domingo.
Os pontos seriam premiados com euros, à semelhança do que sucede na Liga dos Campeões, havendo ainda um bolo a distribuir pelos clubes de acordo com as respectivas classificações.
Numa outra escala e em horários “menos nobres” disputar-se-iam os jogos do Grupo B que teriam o aliciante de, em poucos jogos, proporcionar momentos de grande tensão competitiva, tendo em conta o que estava em jogo.
Três pressupostos importantes:
1º - Isto, como quase tudo na organização do futebol de alta-competição, depende dos detentores dos direitos televisivos. A exequibilidade desta proposta tem a ver com a capacidade dos diversos intervenientes de encontrarem uma base de entendimento. Não será fácil mas o aumento das receitas que uma solução deste tipo proporciona poderá ajudar a desbloquear algumas teimosias.
2º - A Arbitragem e a Disciplina devem ser confiadas a órgãos autónomos e independentes, debaixo da tutela da Secretaria de Estado do Desporto. Já está há muito provado que a LPFP nunca poderá integrar essas competências.
3º - Seria uma excelente ocasião para alterar os calendários das competições profissionais, acabando de uma vez com as férias natalícias e reveillons prolongados e aproveitar o período das festas para vender o produto por bom preço. Ponham os olhos em Inglaterra.
2 - A Liga Ibérica
Sendo esse um desejo - mais ou menos secreto - dos dirigentes dos 3 grandes, não me parece que fosse uma solução desejável para o futebol português. Isto porque criaria um vazio com consequências imprevisíveis para os clubes nacionais que não pudessem aceder à competição ibérica. Imaginem o que seria uma liga nacional sem a presença de Sporting, Porto e Benfica. E as consequências que isso teria nos orçamentos dos clubes de pequena e média dimensão, que é como quem diz na sua capacidade de investimento, que é como quem diz na sua capacidade de construir equipas de qualidade, de gerar bons jogadores, de abastecer o futebol português dos talentos que lhe têm permitido ocupar o 9º lugar a nível de selecções, segundo o ranking da FIFA.
De qualquer maneira haverá sempre quem defenda uma Liga Ibérica, na qual a participação de clubes portugueses obedeceria a uma regra de proporcionalidade. Estaremos a falar de 4 ou 5 clubes num universo de 18 ou 20 participantes Imaginando que participavam 5 clubes portugueses. No final da competição aqueles 2 que, desses 5, ficasse pior classificado passaria à competição doméstica (que, entretanto, por via de desorçamentação, estaria tão depauperada que muito dificilmente seria capaz de integrar clubes com equipas capazes de ser competitivas na competição ibérica).
Quem defende a LI que avance com um estudo de viabilidade.
3 - A Liga Europeia
Este é o modelo que admito como o futuro do futebol na Europa. Irá, acredito, acabar com a Liga dos Campeões e a Taça UEFA.
Disputar-se-iam, numa 1ª fase e simultaneamente, um conjunto de competições regionais à escala europeia.
Exemplo:
Liga do Sul da Europa (por exemplo c/ clubes portugueses, espanhóis, italianos e franceses, numa base de proporcionalidade), Liga do Centro da Europa, Liga do Norte da Europa, Liga do Leste, etc.
Numa 2ª fase disputar-se-ia uma super fase final onde participariam as equipas melhor classificadas nas fases regionais, de modo a apurar o Campeão Europeu de Clubes.
Este modelo tem a vantagem de permitir a disputa de campeonatos europeus de divisões inferiores, protegendo os clubes de média dimensão.
É uma hipótese que está a ser ponderada mas contará com alguma resistência por parte das ligas inglesa, espanhola e italiana, que são ligas equilibradas economicamente e que podem perder sobretudo com a dispersão verificada nas fases regionais.