[b]Letónia: Portugueses libertados em Riga só queriam recordações [/b]
31 de Maio de 2007, 16:09
Madrid, 31 Mai (Lusa) - Dois dos três portugueses libertados na Letónia, depois de terem sido detidos sob a acusação de profanarem a bandeira daquele país, afirmaram hoje à chegada a Madrid,l que apenas pretendiam levar as bandeiras como “souvenirs” para os seus amigos.
À chegada ao aeroporto madrileno, Guilherme Paiva da Cunha e Nuno Miguel Luís explicaram que faziam parte do grupo dos sete jovens detidos, cinco portugueses e dois espanhóis.
Nuno Miguel Luis reside em Barcelona, Guilherme Paiva da Cunha em Madrid e o terceiro português, Gonçalo Pais, em Portugal, para onde seguiu directamente.
Em declarações à Lusa, Nuno Miguel Luís disse que nenhum dos três, em momento algum, chegou sequer a tocar nas bandeiras, explicando que outros membros do grupo subiram ao mastro e retiraram o símbolo nacional letão.
Dois outros portugueses e os espanhóis Miguel Ángel López Beltrán e Edén Galván, continuam detidos na Letónia, acusados pelas autoridades de “profanação do país” por terem retirado a bandeira nacional de estandartes numa rua do centro de Riga.
Nuno Miguel Luis, que chegou a Madrid procedente de um voo de Estocolmo, admitiu que a acção do grupo foi “irresponsável e estúpida”, mas mantém que as acusações das autoridades da Letónia são “falsas” e o comportamento policial e judicial "exagerado.
“Quatro elementos do grupo subiram aos postes e retiraram as bandeiras que queriam levar para casa para oferecer a amigos”, disse.
“Estamos a ser acusados de profanação. Dizem que rasgámos as bandeiras, as pisámos e até as atirámos ao rio. A polícia ficou com as bandeiras”, afirmou.
O jovem português declarou ter vivido “uma péssima experiência”, afirmando que durante a detenção, alguns membros do grupo foram alvo de “comportamento violento por parte das autoridades”, que fizeram “muita pressão psicológica”.
“No primeiro dia levaram-nos para a esquadra, não tivemos acesso a advogados, não pudemos telefonar para ninguém nem para o consulado, e nem sequer tivemos acesso a um tradutor independente, já que quem fazia a tradução era um polícia”, afirmou.
“Eles exerceram muita pressão psicológica. Fomos incitados a assinar papéis em letão, que não entendíamos o que diziam, e, sob muita pressão, foi-nos dito que tudo seria rápido”, afirmou.
Os três jovens portugueses libertados passaram de acusados a testemunhas oculares, explicou, referindo que a situação dos restantes membros do grupo é “má”.
“As acusações são falas. Tirámos as bandeiras dos postes, com o intuito de as levar para casa. Foi uma atitude irresponsável e estúpida, mas no máximo foi um roubo, não uma profanação”, explicou.
Os sete jovens estiveram detidos numa esquadra e posteriormente numa prisão, onde “com alguma sorte” conseguiram ficar juntos numa cela e sem contacto com a restante população prisional.
“Depois de 12 dias fomos simplesmente libertados, sem pedido de desculpa, nem explicação”, disse.
“É um exagero. Esta situação está a ser levada até ao limite. Até já me foi dito que mesmo que fosse verdade, que houvesse profanação, até para esse tipo de crime, isto foi demasiado empolado”, afirmou.
Os jovens pertencem a uma associação internacional de estudantes, que Nuno Miguel Luís não quis identificar, que efectua viagens por toda a Europa.
Segundo referiu, os outros membros do grupo podem ser condenados a penas de “três anos de cadeia, pagamento de 50 salários mínimos ou a realização de trabalho comunitário”.
Sobre a situação em que se encontram os dois portugueses e dois espanhóis detidos, Guilherme Paiva pensava que depois do pagamento de uma fiança poderiam sair em liberdade condicional.
“Mas de repente, ontem, tudo mudou e terão de ficar na cadeia até ao julgamento que poderá demorar ainda três semanas”, afirmou.
Paiva disse que a experiência na cadeia tinha sido “muito dura”, que a detenção policial foi “muito violenta” e que um agente chegou mesmo a atingir os dois espanhóis com coronhadas.
Os dois espanhóis residem em Cartaya (Huelva) e nas Canárias, e as suas famílias têm dado inúmeros passos, através das autoridades espanholas para conseguir a sua libertação.
Um dos amigos dos espanhóis, Miguel Angel, que se deslocou hoje ao aeroporto de Madrid para receber os dois portugueses, disse que até agora “os esforços diplomáticas não deram frutos”.
As famílias tentarão agora suscitar o interesse de eurodeputados para o caso, estando previstas manifestações em frente às embaixadas da Letónia em “vários países europeus onde há amigos dos quatro detidos”.
ASP.
Lusa/Fim