Recebi ontem a suposta carta de confissão de Francisco Farinha Simões no atentado de Camarate que vitimou o então primeiro ministro, Francisco Sá Carneiro e o ministro da defesa, Adelino Amaro da Costa.
Aparentemente, e a fazer fé nos factos relatados, confirmam-se as suspeitas que já tinha ouvido e lido várias vezes, que se tratou de facto de um atentado e que este terá sido orquestrado pela CIA, com a anuência de Henry Kissinger e o embaixador em Portugal, Frank Carlucci, estando os motivos relacionados com o tráfico de armas que era promovida pelos EUA para vários cenários de conflitos pelo mundo, quer numa lógica de politica externa, quer em beneficio das corporações privadas norte-americanas (Halliburton, Carlyle, Black Water, etc) ligadas a muitos politicos e diplomatas amercianos, maioritariamente repúblicanos e à administração Reagan.
O que é aí relatado é além de assustador, tremendamente revoltante (ainda que não seja grande surpresa). Confesso apenas que não sendo adepto de teorias da conspiração, há demasiada lógica na teoria para deixar de a considerar verosímil!!
Aqui fica:
Eu Fernando Farinha Simões, decidi finalmente, em 2011, contar toda a verdade sobre Camarate. No passado nunca contei toda a operação de Camarate, pois estando a correr o prrocesso judicial, poderia ser preso e condenado. Tambem porque durante 25 anos não podia falar, por estar obrigado por parte da CIA, mas esta situação mudou agora, ao que acresce o facto da CIA, me ter abandonado completamente desde 1989. Finalmente decidi falar por obrigação de consciência. Fiz o meu primeiro depoimento sobre Camarate, na Comissão de Inquérito parlamentar, em 1995. Mais tarde prestei alguns depoimentos em que fui acrescentandofactos e informações. Cheguei a prestar declarações para um programa da SIC, organizado por Emilio Rangel, que não chegou contudo a ir para o ar. Em todas essas declarações públicas contei factos sobre o atentado de Camarate, que nunca foram desmentidos, apesar dos nomes que citei e da gravidade dos factos que referi. Em todos esses relatos, eu desmenti a tese oficial de acidente, defendida pela Polícia Judiciária e pela Procuradoria Geral da República. Nunca tive duvidas de que as Comissões de Inquérito Parlamentares estavam no caminho certo, pois Camarate foi um atentado. Devo também dizer que tendo eu falado de factos sobre Camarate tão graves, e do envolvimento de certas pessoas nesses factos, sempre me surpreendeu que essas pessoas tenham preferido o silêncio. Então neste caso o Tenente Coronel Lencastre Bernardo ou o Major Canto e Castro. Se se sentissem ofendidos pelas minhas declarações, teria sido lógico que tivessem reagido. Quanto a mim, este seu silêncio só pode significar que, tendo noção do que fizeram, consideram que quanto menos se falar neste assunto melhor. 2. Nessas declarações que fiz, desde 1995, fui relatando, sucessivamente, apenas parte dos factos ocorridos, sem nunca ter feito a narração completa dos acontecimentos. Estávamos ainda relativamente próximos dos acontecimentos, e não quis portanto revelar todos os pormenores, nem todas as pessoas envolvidas nesta operação. Contudo, após terem passado mais de 30 anos sobre os factos ocorridos, entendi que todos os portugueses tinham o direito de conhecero que verdadeiramente sucedeu em Camarate. Não quero contudo deixar de referir, que estou hoje profundamente arrependido de ter participado nesta operação, não apenas pelas pessoas que aí morreram, e cuja a qualidade humana só mais tarde tive ocasião de conhecer, como o prejuízo que constituiu, para o futuro do País, o desaparecimento dessas pessoas. Nesta altura contudo, Camarate era apenas mais uma operação em que participava, pelo que não medi as consequências. Peço por isso desculpa aos Familiares das vítimas, e aos portugueses em geral, pelas consequências da operação em que participei. Gostaria assim de voltar atrás no tempo, para explicar como acabei por me envolver nesta operação. Em 1974 conheci na Afica do Sul, a agente dupla alemã, Uta Gerveck, que trabalhava para a BND – Serviços de Inteligência Alemães Ocidentais, e ao mesmo tempo para a Stassi. A cobertura legal de Uta Gerveck é feita através do Conselho Mundial das Igrejas (uma espécie de ONG), e é através dessa fachada que viaja practicamente pelo mundo todo, trabalhando ao mesmo tempo para a BND e para a Stassi.
Fez um livro em alemão que me dedicou, e que ainda tenho, sobre a luta de libertação do PAIGC na Guiné Bissau. O meu trabalho para a Stassi veio contudo a verificar-se posteriormente, quando já estava a trabalhar para a CIA. A minha infiltração na Stassi dá-se por convite de Uta Gerveck, em 1976, com a concordância da CIA, pois isso interessava-lhes muito.
Uta Gerveck apresenta-me, em 1978, em Berlim Leste a Marcus Wolf, então director da Stassi. Fui para este efeito então clandestinamente a Berlim Leste, com um passaporte espanhol, que me foi fornecido por Uta Gerveck. O meu trabalho de infiltração na Stassi consistiu na elaboração de relatórios pormenorizados acerca das “toupeiras” infiltradas na Alemanha Ocidental pela Stassi, que actuavam nomeadamente junto a Helmut Khol, Hulmut Shmidt e de Hans Jurgen Wischewski. Hans Jurgen Wischewski era o responsável pelas relações e contactos entre a Alemanha Ocidental e de Leste, sendo presidente da Associação Alemã de Cooperação e Desenvolvimento ( ajuda ao terceiro mundo), e também ia ás reuniões do Grupo Bilderberg. vIabilizou também muitas operações clandestinas, nos anos 70 e 80, de ajuda a grupos de libertação, apartir de da Alemanha Ocidental. Estive também na Academia da Stassi, várias vezes em Postdan – Eiche.
Relativamente ao relato dos factos, gostaria de começar por referir que tenho contactos, desde 1970, em Angola, com um agente da CIA, que é o jornalista e apresentador Paulo Cardoso ( já falecido). Conheci Paulo Cardoso em Angola, com quem trabalhei na TVA – Televisão de Angola na altura.Em 1975, formei em Portugal, os CODECO com José Esteves, Vasco Montez, Carlos Miranda e Jorge Gago ( já falecido). Esta organização pretendia defender, em Portugal, se necessário por via da guerrilha, os valores do mundo Ocidental => Ver operação Gladio!!!
Através de Pulo Cardoso, sou apresentado, em 1975, no Hotel Sheraton, em Lisboa, a um agente da CIA, antena, ( recolha de informações), chamado Philip Snell. Falei então, durante algum tempo, com Philip Snell. O Paulo Cardoso estava então a viver no Hotel Sheraton. Passados poucos dias, Philip Snell diz-me para levantar gratuitamente, um bilhete de avião, de Lisboa para Londres, a uma ag~encia de viagens na Av. De Ceuta, que trabalhava para a embaixada dos EUA. Fui então a uma reunião em Londres, onde encontrei um amigo antigo, Gary Van Dyk, da Afica do Sul, que colaborava com a CIA.
Fui então entrevistado pelo chefe de estação da CIA para a Europa que se chamava Jonh Logan. Gary Van Dyk defendeu nessa reunião, a minha entrada para a CIA, dizendo que me conhecia bem de Angola, e que eu trabalhava com eficiência. Comecei então a trabalhar para a CIA, tendo também para esse efeito pesado o facto de ter anteriormente colaborado com a NISS – National Intelligence Security Service ( Ag~encia Sul Africana de Informações). Gary Van Dyk era o antena, em Londres, do DONS- Department Operational of National Security (Sul Africana).
Regressado a Lisboa, trabalhei para a embaixada dos EUA, em Lisboa, entre 1975 e 1988, a tempo inteiro. Entre 1976 e 1977, durante cerca de um ano e meio, vivi numa suite no Hotel Sheraton em Lisboa, o que pode ser comprovado, tudo pago pela embaixada dos EUA. Conduzia então um carro com matricula diplomática, um Ford, que estacionava na garagem do Hotel. Nesta suite viveu também a minha mulher Elza, já grávida da minha filha Eliana.O meu trabalho incluía recolha de informações e contra informações, informações sobre o tráfico de armas, de operações de combate ao tráfico de armas, de operações de combate ao tráfico de droga, informações sobre terrorismo, recrutamento de informadores, etc. Estas actividades incluem contactos com serviços secretos de outros países, como a Stassi, a Mossad, e a “Boss” (Sul Africana), depois NISS, depois DONS e actualmente SASS. Era pago em Portugal, recebendo cerca de USD 5.000 por mês. Nestas actividades facilita o facto de eu falar 6 linguas. Actuei utilizando vários nomes diferentes, com passaportes fornecidos pela embaixada dos EUA em Lisboa. Facilita também o facto de falar um dialecto Angolano o Kimbundo.
A embaixada dos EUA tinha também uma casa de recuo na Quinta da Marinha que me estava entregue, e onde ficavam frequentemente agentes e militares americanos, que passavam por Portugal. Era a vivenda “Alpendrada”.
A partir de 1975, como referi, passei a trabalhar directamente para a CIA. Contudo, a partir de 1978, passei a trabalhar como agente encoberto, no chamado “ Office of Special Operations”, a que se chamava serviços clandestinos, e que visavam observar um alvo, incluindo perseguir, conhecer e eleiminar esse alvo, em qualquer pais do mundo, exepto nos EUA. Por pertencermos a este Office, éramos obrigados a assinar uma clausula que se chamava “Plausible denial”, que significa que se fossemos apanhados nestas operações com documentos de identificação falsos, a situação seria por nossa conta e risco, e a CIA nada teria a ver com essa situação. Nessa circunstância, tínhamos o discurso preparado para explicar o que estávamos a fazer, incluindo estarmos preparados para aguentar a tortura. Trabalhei para o Office of Special Operations até 1989, ano em que saí da CIA.Para fazer face a estes trabalhos e operações, as minhas contas dos cartões de crédito do VISA, Amercan Express e Dinners Club, tinham cada uma, um plafond de 10000 USD, que podiam ser movimentados em caso de necessidade. Estes cartões eram emitidos no Brasil, em bancos estrangeiros sedeados no Brasil, como o Citibank, po Bank of Boston ou o Bank of America. Entre 1975 e 1989, portanto durante cerca de 14 anos, gastei com estes cartões cerca de 10 milhões de USD, em operações em diversos países, nomeadamente pagando a informadores, políticos, militares, homens de negócios, e também a traficantes de armas e de droga, em ligação com a DEA (Drug Enforcement Agency). Existiram outros valores movimentados á parte, a partir de um saco azul “ em cash”, valores esses postos á disposição pelo chefe de estação da CIA, do local onde as operações eram realizadas. Este saco azul servia para pagar despesas como viajens, compras necessárias, etc.
Posso referir que a operação Camarate, que a seguier irei transcrever custou, a preços de 1980, entre 750.000 e 1 milhão de USD. Só o Sr. José António dos Santos Esteves recebeu 200.000 USD. Estas despesas relacionadas com a operação Camarate, incluíram os pagamentos a diversas pessoas e participantes, como o Sr. Lee Rodrigues, como seguidamente irei descrever.
Ente 1975 e 1988, participei em vários cursos e seminários em Langley, Virginia e Quantico, pago pela CIA, sobre informações, desinformação, contra-informação, terrorismo, contra-terrorismo, infiltrações encobertas, etc, etc.Trabalhei em serviços de infiltração pela CIA e pela DEA, em diferentes países, como Portugal, El Salvador, Bolivia, Colômbia, Venezuela, Peru, Guatemala, Nicarágua, Panamá, Chile, Líbano, Síria, Egipto, Argélia, Marrocos e Filipinas.
A minha colaboração com a DEA, iniciou-se em 1981, através de Richard Lee Armitage. Em 1980, Richard Armitage viria também a estar comigo e com Henry Kissinger em Paris. Richard Armitage era membro do CFR ( Council for Foreign Affairs and Relations) e da Organização e Cooperação para a Segurança da Europa (OSCE), criada pela CIA. Richard Armitage era também membro na altura, do grupo Carlyle, do qual o CEO era Frank Carlucci. O grupo Carlyle dedica-se á construção civil, imobiliário e é um dos maiores grupos de tráfico de armas do mundo, junto com o grupo Haliburton, chefiado por Richard “ Dick” Cheney. O Grupo Carlyle pertence a vários investidores privados dos EUA, por regra do Partido Republicano. Este grupo promove nomeadamente vendas de armas, petróleo e cimento para países como o Iraque, Afeganistão e agora para países da primavera árabe.
A lavagem do dinheiro do tráfico de armas e da droga era feito na altura, pelo Banco BCCI, ligado á CIA e á NSA – National Security Agency. O BCCI foi fundado em 1972 e fechado no principio dos anos 90, devido aos diversos escândalos em que estev envolvido.
Oliver North pertencia ao Conselho Nacional de Segurança, ás ordens de William Walker, ex-embaixador dos EUA em El Salvador. Oliver North seguiu e segue sempre as ordens da CIA, dependente de William Casey. Oliver North está hoje retirado da CIA, e é o CEO de vários grupos privados americanos tal como Frank Carlucci.Da DEA conheci Celerino Castillo, Mike Levine, Anabelle Grimm e Brad Ayers, tendo trabalhado para a DEA entre 1975 e 1989. Da CIA trabalhei também com Tosh Plumbey, Ralph Mcgehee – Tenente coronel da NSA, actualmente reformado. Da Cia trabalhei ainda com BO Gritz e Tatum. Estes dois agentes tinham a sua base de operações em El Salvador, ( onde eu também estive, nos anos 80, durante o tráfico Irão-Contras), desenvolvendo nomeadamente actividades de tráfico de armas. Uma das suas operações consistiu no transporte de armas dos EUA para El Salvador, que eram depois transportadas para o Irão e a Nicarágua. Os aviões, normalmente panamianos e colombianos, regressavam depois para os EUA com droga, nomeadamente cocaína, proveniente de países como a Colombia, Bolivia e El Salvador, que serviam para financiar a compra de armas. Esta actividade desenvolveu-se essencialmente desde os finais dos anos 70 até 1988.
A cocaína vinha nomeadamente da Ilha Normans Cay, nas Bahamas, de que era proprietário Carlos Lheder Rivas. Carlos Rivas era um dos chefes do cartel de Medellin, trabalhando para este cartel e para ele próprio. Carlos Rivas era, neste contexto, um personagem importante, sendo o braço direito de Roberto Vesco, que trabalhava para a CIA e para a NSA. Roberto Vesco era proprietário de bancos nas Bahamas, nomeadamente o Columbus Trust. Carlos Rivas fazia toda a logística de Roberto Vesco e forneciam armas a troco de cocaína, nomeadamente ao movimento de guerrilha colombiano M19. Roberto Vesco está hoje refugiado em Cuba.O dinheiro das operações de armas e de droga são lavadas no Banco BCCI e noutros bancos, com o nome de código “Amadeus”. Há no entanto contas activas nas Bahamas e em Norman’s Cay, nas Ilhas Jersey, que gerem contas bancárias, nomeadamente para o tráfico de armas para os “Contras” da Nicarágua, e para o Irão.
Como acima referi, muito desse dinheiro foi para bancos americanos e franceses, o que em parte explicará porquê é que Manuel Noriega foi condenado a 60 anos de prisão, tendo primeiro estado preso nos EUA, depois em França, e actualmente no Panamá. Foi preso porque era conveniente que estivesse calado, não referindo nomeadamente que partilhava com a CIA, o dinheiro proveniente da venda de armas e da venda de drogas. Noriega movimentava contas bancárias em mais de 120 bancos, com conhecimento da CIA. Noriega fazia também parte da operação Black Eagle, dedicada ao tráfico de armas e de droga, que em 1982 se transformou numa empresa chamada Enterprise, com a colaboração de Oliver North e de Donald Gregg da CIA. Em face do grau de informações e de conhecimento que tinha, é fácil de perceber porquê se verificou o derrube e a prisão de Noriega. Devo dizer que estou pessoalmente admirado que não o tenham até agora “suicidado", pois deve ter muitos documentos ainda guardados. Noriega tinha a intenção de contar tudo o que sabia sobre este tráfico, nomeadamente sobre os serviços prestados à CIA e a Bush Pai, tendo por isso sido preso. Washington e a CIA são assim veículos importantes do tráfico de armas e de droga, utilizando nomeadamente os pontos de apoio de South Flórida e do Panamá.11.No início dos anos 80 conheci um traficante do cartel de Cali, de nome Ramon Milian Rodriguez, que depois mais tarde perante uma comissão do Senado Americano, onde falou do tráfico de armas e de droga, do branqueamento de dinheiro, bem como das cumplicidades de Oliver North neste tráfico às ordens de Bush Pai e do Donald Gregg.
Muito do dinheiro gerado nessas vendas foi para bancos americanos e franceses. Este dinheiro servia também para compras de propriedades imobiliárias. Por estar ligado a estas operações, Noriega foi preso pelos EUA.
Foi numa operação de droga que realizei na Colômbia e nas Bahamas, em 1984, onde se deu a prisão de Carlos Lheder Rivas, do Cartel de Medallin, em que eu não concordei com os agentes da DEA da estação de Maiami, pois eles queriam ficar com 10 milões de dólares e com o avião “lear-jet” provenientes do tráfico de droga. Não concordando, participei desses agentes ao chefe da estação da DEA de Miami. Este chefe mandou-lhes então levantar um inquérito, tendo sido presos pela própria DEA. A partir de aí a minha vida tornou-se num verdadeiro inferno, nomeadamente com a realização de armadilhas, e detenções, tendo acabado por sair da CIA em 1989, a conselho de Frank Carlucci. O principal culpado da minha saida da CIA foi e da DEA foi John C. Lawn, director da estação da DEA e amigo de Noriega e de outros traficantes. John Lawn encobriu, ou tentou encobrir, todos os agentes da DEA que denunciei aquando da prisão de Carlos Rivas. Após a minha saída da CIA, Frank Carlucci continuou contudo a ajudar-me com dinheiro, com conselhos e com apoio logístico, sempre que eu precisei até 1994.
Regressando contudo à minha actividade em Portugal, anteriormente a Camarate e ao serviço da CIA, devo referir que conheci Frank Carlucci, em 1975, através de duas pessoas: um jornalista Português da RTP, já falecido, chamado Paulo Cardoso de Oliveira, que conhecera em Angola, e que era agente da CIA, e Gary Van Dyk, agente da BOSS (Sul Africana) que conheci também em Angola.
12.Mantive contactos directos frequentes com Frank Carlucci, sobretudo entre l975 e 1982, de quem recebi instruções para vários trabalhos e operações. Os meus contactos com Frank Carlucci mantêm-se até hoje, com quem falo ainda ocasionalmente pelo telefone. A última vez que estive com ele foi em Madrid, em 2008, na escala de uma viagem que Frank Carlucci realizou à Turquia.
Em Lisboa, também lidei e recebi ordens de William Hasselberg - antena da CIA em Lisboa, que além de recolher informacões em Lisboa actua como elo de ligação entre portugueses e americanos. Tive inclusivamente uma vida social com William Hasselberg, que inclui uma vida nocturna em Lisboa, em diferentes bares, restaurantes, e locais
públicos. William Hasselberg gostava bastante da vida nocturna, onde tinha muito gosto em aparecer com as suas diversas “conquistas” femininas. Trabalhei também com outros agentes da CIA, nomeadamente Philip Agee. Neste ambito, trabalhei em operações de tráfico de armas, e em infiltrações em organizações com o objectivo de obter informações políticas e militares, “Billie” Hasselberg fala bem português, e era grande amigo de Artur Albarran, Hasselberg e Albarran conheceram-se numa festa da embaixada da Colômbia ou
Venezuela, tendo Albarran casado nessa altura, nos anos 80, com a filha do embaixador, que foi a sua primeira mulher.
13. Das reuniões que tive com a embaixada americana em Lisboa, a partir de 1978, conheci vários agentes da CIA. O Chefe da estação da CIA em Portugal, John Logan, oferece-me um livro seu autografado. Conheci também o segundo chefe da CIA, Sr. Philip Snell, Sr. James Lowell, e o Sr. Arredondo. Da parte militar da CIA conheci o cor Wilkinson, a partir de quem conheci o coronel Oliver North e o coronel Peter Bleckley. O coronel Oliver North, militar mas também agente da CIA e o coronel Peter Bleckley, são os principais estrategas nos contactos internacionais, com vista ao tráfico e venda de armas, nomeadamente com países como Irão, Iraque, Nicarágua, e o El Salvador. Na sequência do conhecimento que fiz com Oliver North , tendo várias reuniões com ele e com agentes da CIA, por causa do tráfico e negócio de armas. Estas reuniões têm lugar em vários países, como os EUA, o México, a Nicarágua, a Venezuela, o Panamá. Neste último país contacto com dois dos principais adjuntos de Noriega, José Bladon, chefe dos serviços secretos do Panamá, que me disse que práticamente todos os embaixadores do Panamá em todo o Mundo estavam ao serviço de Noriega.
Blandon pediu-me na altura se eu arranjava um Rolls Royce Silver Spirits, para o embaixador do Panamá em Lisboa, o que acabei por conseguir.
Em meados de 1980, Frank Carlucci refere-me, por alto, e pela primeira vez, que eu iria ser encarregue de fazer um “trabalho” de importância máxima e prioritária em Portugal, com a ajuda dele, da CIA, e da Embaixada dos EUA em Portugal, sendo-me dado, para esse efeito, todo o apoio necessário.
Tenho depois reuniões em Lisboa, com o agente da CIA, Frank Sturgies, que conheço pela primeira vez. Frank Sturgies é uma pessoa de aspecto sinistro e com grande frieza, e é organizador das forças anti-castristas, sediadas em Miami, e é elo de ligação com os “contra” da Nicarágua. Frank Sturgies refere-me então, que está em marcha um plano para afastar, definitivamente, (entenda-se eliminar) uma pessoa importante, ligada ao Governo Português de então, sem dizer contudo ainda nomes.
14.Algum tempo depois, possívelmente em Setembro ou Outubro de 1980, jogo ténis com Frank Carlucci quase toda a tarde, na antiga residência do embaixador dos EUA, na Lapa. Janto depois com ele, onde Frank Carlucci refere novamente que existem problemas em Portugal para a venda e transporte de armas, e que Francisco Sá Carneiro não era uma pessoa querida dos EUA. Depois já na sobremesa, juntam-se a nós o General Diogo Neto, o Coronel Vinhas, o Coronel Robocho Vaz e Paulo Cardoso, onde se refere novamente a necessidade de se afastarem alguns obstáculos existentes ao negócio de armas. Todos estes elementos referem a Frank Carlucci que eu sou a pessoa indicada para a preparação e implementação desta operação.
Em Outubro de 1980, num juntar no Hotel Sheraton onde participo eu, Frank Sturgies (CIA), Vilfred Navarro (CIA), o General Diogo Neto e o Coronel Vinhas (já falecidos), onde se refere que há entraves ao tráfico de armas que têm de ser removidos. Depois há um outro jantar também no Hotel Sheraton, onde participam, entre outros, eu e o Coronel Oliver North, onde este diz claramente que “é preciso limar algumas arestas” e “se houver necessidade de se tirar alguém do caminho, tira-se”, dando portanto a entender que haverá que eliminar pessoas que criam problemas aos negócios de venda de armas. Oliver North diz-me também que está a ter problemas com a sua própria organização, e que teme que o possam querer afastar e “deixar cair”, o que acabou por acontecer.
15.Há também Portugueses que estavam a beneficiar com o tráfico de armas, como o Major Canto e Castro, o General Pezarat Correia, Franco Charais e o empresário Zoio. Sabe-se também já nessa altura que Adelino Amaro da Costa estava a tentar acabar com o tráfico de armas, a investigar o fundo de desenvolvimento do Ultramar, e a tentar acabar com lobbies instalados. Afastar essas duas pessoas pela via política era impossível, pois a AD tinha ganho as eleições. Restava portanto a via de um atentado.
Passados alguns dias, recebo um telefonema do Major Canto e Castro (pertencente ao conselho da revolução), que eu já conhecia de Angola, pedindo para eu me encontrar com ele no Hotel Altis. Nessa reunião está também Frank Sturgies, e fala-se pela primeira vez em “atentado”, sem se referirem ainda quem é o alvo. referem que contam comigo para esta operação. O Major Canto e Castro diz que é preciso recrutar alguém capaz de realizar esta operação.
Tenho depois uma segunda reunião no Hotel Altis com Frank Sturgies e Philip Snell, onde Frank Sturgies me encarrega de preparar e arranjar alguns operacionais para uma possível operação dentro de pouco tempo, possívelmente dentro de 2 ou 3 meses. Perguntam-me se já recrutou a pessoa certa para realizar este atentado, e se eu conheço algum perito na fabricação de bombas e em armas de fogo. Respondo que em Espanha arranjaria alguém da ETA para vir cá fazer o atentado, se tal fosse necessário. Quem paga a operação e a preparação do atentado é a CIA e o Major Canto e Castro. Canto e Castro colabora na altura com os serviços Secretos Franceses, para onde entrou através do sogro na época. O sogro era de Nacionalidade Belga, que trabalhava para a SDEC, os serviços de inteligência franceses, em 1979 e 1980. Canto e Castro casou com uma das suas filhas, quando estava em Luanda, em Angola, ao serviço da Força Aérea Portuguesa. Em Luanda, Canto e Castro vivia perto de mim.
16.Tendo que organizar esta operação, falo então com José Esteves e mais tarde com Lee Rodrigues ( que na altura ainda não conhecia). O elo de ligação de Lee Rodrigues em Lisboa era Evo Fernandes, que estava ligado à resistência moçambicana, a Renamo. Falo nessa altura também com duas pessoas ligadas à ETA militar, para caso do atentado ser realizado através de armas de fogo.
Depois, noutro jantar em casa de Frank Carlucci, na Lapa, na Mansarda, no último andar, onde jantamos os dois sozinhos, Frank Carlucci diz abertamente e pela primeira vez, o que eu tinha de fazer, qual era a operação em curso e que esta visava Adelino Amaro da Costa, que estava a dificultar o transporte e venda de armas a partir de Portugal ou que passavam em Portugal, e que havia luz verde dada por Henry Kissinger e que essa ordem me seria dada directamente de Paris.
Poucos dias depois voo com Philipp Snell para Paris, ficando no Hotel Baltimore, na avenida Bis Kleber. Philip Snell faz uma reserva para um alto cargo dos EUA, no Hotel George V. Depois, juntamente com Philip Snell, desloco-me ao restaurante Fouquet, nos Champs Elisées, onde me encontro com Henri Kissinger e Oliver North. Cumprimento ambos, referindo que sou “o homem deles em Lisboa”.
17.Três semanas antes dos atentado, Canto e Castro e Frank Surgies, referem pela primeira vez, que o alvo do atentado é Adelino Amaro da Costa. O Major Canto e Castro afirma que irá viajar para Londres. Frank Sturgies pede-me que obtenha um cartão de acesso ao aeroporto para um tal Lee Rodrigues, que é referido como sendo a pessoa que levará e colocará a bomba no avião.
Recebo depois um telefonema de Canto e Castro, referindo que está em Londres e para eu ir ter lá com ele. Refere-me que o meu bilhete está numa agência de viagens situada na Av. da Republica, junto à pastelaria Ceuta. Chegado a Londres fico no Hotel Grosvenor, ao pé de Victoria Station. Canto e Castro vai buscar-me e leva-me a uma casa perto do Hotel, onde me mostra pela primeira vez, o material, incluindo explosivos, que servirão para confeccionar a “bomba” nesta operação. Essa casa em Londres, era ao mesmo tempo residência e consultório de um dentista indiano, amigo de Canto e Castro, Canto e Castro refere-me que esse material será levado para Portugal pela sua companheira Juanita Valderrama. O Major Canto e Castro pede-me então que vá ao Hotel Altis recolher o material. Vou então ao Hotel acompanhado de José esteves, e recebemos uma mala e uma carta da senhora Juanita, José Esteves prepara então uma bomba destinada a um avião, com esses materiais, com a ajuda de Carlos Miranda.
O Major Canto e Castro volta depois de Londres, encontra-se comigo, e digo-lhe que a bomba está montada. Lee Rodrigues é-me apresentado pelo Major Canto e Castro. Alguns dias depois Lee Rodrigues telefona-me e encontramo-nos para jantar no restaurante Galeto, junto ao Saldanha, juntamente com Canto e Castro, onde aparece também Evo Fernandes, que era o contacto de Lee Rodrigues em Lisboa. Fora Evo Fernandes que apresentara Lee Rodrigues a Canto e Castro. Lee Rofrigues era moçambicano e tinha ligações à Renamo.(continua)