O tom foi demasiado “mão na anca” para quem tem as responsabilidades de Queiroz, mas aquilo que, do ponto de vista do Sporting, é verdadeiramente lastimável nas suas declarações, é o facto de serem verdadeiras.
O hype em torno de Veloso tem responsáveis, mas nenhum deles é o Queiroz, o Man Utd ou qualquer outro clube alegadamente interessado. O que Queiroz disse é o que diria qualquer pessoa com um cargo num grande clube, que possui um departamento de prospecção e que segue jogadores por todo o mundo. Será novidade para alguém que os grandes europeus enviam regularmente emissários a países estrangeiros, para observarem potenciais reforços? Note-se que nas suas primeiras declarações o Queiroz até desviou as atenções e nomeou outros jogadores, e após o jogo da primeira volta até chegou ao ridículo de destacar a exibição do Yannick só para poder evitar falar do Veloso.
Os culpados por este regabofe, como disse, são outros. São a comunicação social, o empresário, o próprio jogador, e a passividade do Sporting perante todos eles.
Os jornais querem vender papel a peso, e alimentam o assunto fazendo a mesma pergunta N vezes, o empresário tenta fazer render o seu peixe, o jogador, deslumbrado, não sabe resguardar-se. E o Sporting não só assiste a tudo, impávido e sereno, como, em intervenções públicas dos seus responsáveis, ainda atira achas para a fogueira.
Não há declarações sobre o assunto em que gente como Franco ou Freitas não adite, à conhecida fórmula “queremos conservar os talentos”, os comentários de “existem as cláusulas, se alguém pagar não podemos fazer nada”, ou de “os jogadores têm a ambição legítima de saír”.
Quem não quer vender, diz que não quer vender e não fala mais do assunto. Quem diz “a cláusula é X, quem pagar leva, mesmo que nós não queiramos”, não está a dissuadir - mas a apregoar. Depois admirem-se que os empresários comecem a dizer que “há vários interessados”, que os jogadores, ainda para mais encorajados pela intenção anunciada de “não cortar as pernas”, comecem a palrar sobre os “grandes europeus”, e que os jornais publiquem tudo isso.
Sobre a questão das horas do dia e do saber o que diz: há várias formas de dizer as coisas, e há formas erradas de dizer coisas certas. Pela posição que ocupa, Queiroz, como já disse, não esteve bem. Mas errar todos erram, e as suas declarações não perdem pertinência por isso. O Franco, para atacar o PdC, também se lembrou de dizer que o Papa estava a morrer.