Concordo com boa parte do que escreves. Por partes:
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Na questão do perfil Pote, acho que a questão do pé direito tem um peso grande. Eu vejo o Quenda como alguém perfeitamente capaz de corresponder e acrescentar mesmo em zonas interiores, e até na esquerda o tem feito com algum acerto, como dizes, mas tenho a clara sensação de que teria muito mais facilidade a fazê-lo pela direita. Os ângulos de passe que se abrem são maiores, e o Quenda não me parece alguém ambidestro o suficiente para desenrascar. Consegue render na mesma, porque é um talento raríssimo, mas o perfil estava em falta na mesma.
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" será o biel eficaz quando se pede uma exibição afirmativa sem bola, a marcar individualmente um lateral? será o biel eficaz quando se pede um jogador que ameace em transição?" Acho que pode cumprir nesses dois quesitos. Deixo a nota habitual de que o formato em que o vi é sempre pior para avaliar defensiva que ofensivamente, mas pareceu-me um tipo relativamente abnegado e comprometido. Está acima de um Edwards nesse capítulo, por exemplo, embora a sua compleição física coloque sempre um ceiling na coisa. Quanto a contextos de transição, acho que pode perfeitamente contribuir. Não sendo incrívelmente potente, tem uma aceleração e mesmo velocidade geral para não ser logo caçado, e acho até que iria definir uma percentagem bem maior dessas situações que alguém como o Alisson.
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“quando uma equipa fecha o meio e temos obrigatoriamente de arranjar vantagens por fora?)” Aqui será pior que alguém como o Alisson, mas como digo o eye test do drible dele pareceu-me melhor que as estatísticas. A primeira aceleração é forte, é ágil, e a relativa ambidestria permite-lhe ir para fora mesmo de pé esquerdo. Não acho que vá destruir laterais em zonas muito exteriores, mas não acho uma red flag absoluta.
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“o facto de ser(mais um) jogador com mentalidade ´assist first´( tendência que já temos sem pote e gyokeres que reduzem brutalmente a nossa ameaça de golo) e de ser um perfil de bola no pé, sem ser, a meu ver, suficientemente bom para justificar esse volume e protagonismo” A parte de ser um jogador de bola no pé, temos de ver. Não me pareceu alguém que evite explorar a profundidade. Mas na finalização, certo. Como digo, é uma preocupação. Já temos alguma ineficácia na nossa equipa, e salvo reversão é plausível que o Biel acentue a tendência.
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“vejo com maior probabilidade o alisson desenvolver alguns recursos a jogar por dentro, do que o biel tornar-se um jogador com um perfil atlético que dê garantias a época toda.” Pois, aqui é capaz de ser a maior discordância. Não que ache que o Biel vá conseguir dar essas garantias: acho possível, com trabalho específico, mas a verdade é que há algumas red flags a esse respeito - a que mais me preocupa é mesmo o problema que tem nas costas, sinceramente. Só que o Alisson tinha de evoluir mesmo bastante para atingir um nível aceitável a esse respeito. Acho bem mais plausível o Biel ficar relativamente ‘saudável’ e conseguir jogar durante mais tempo do que o Alisson evoluir imenso em algumas das áreas mais complicadas de evolução para jogador - porque envolvem velocidade de execução, raciocínio e decisão em milésimos de segundo.
No fundo, é um daqueles casos em que o fit estilístico para um extremo tradicional, mais de pressão e drible é de facto melhor com o Alisson que com o Biel, mas acho que pela diferença de acerto com bola o Biel pode ainda assim acrescentar mais, podendo depois dar-nos outra dimensão num papel mais adaptado - ao qual o Rui Borges está longe de ser alérgico, como se vê pela utilização do Nuno Santos a extremo no Vitória.
No entanto, como disse, o que me causa estranheza é mesmo a diferença de perfil. Não percebo exactamente o que o SCP queria aqui. A minha intuição é que o Alisson era mais um jogador que o Rui Borges gostou de ver, e que o Biel era alguém já há algum tempo referenciado pelo clube, mas parecem-me mesmo jogadores distintos. Sendo a escolha pelo Biel, parece-me que jogadores como o Hugo Bolin ou mesmo o Jakob Breum fariam mais sentido, por exemplo. Não os considerei tanto originalmente por, lá está, serem jogadores muito mais no sentido do Pote que extremos mais tradicionais, mas se se foi por aqui parecem-me escolhas que, apesar de também terem risco inerente, seriam mais seguras a preços relativamente similares, digo eu.
E depois pronto, há a aposta que eu faria. Que seria bastante arriscada por um lado, mas sobre alguém em quem vejo todas as qualidades para ser um extremo inacreditável. Mikel Gogorza. Os números de drible são surrealmente bons, especialmente num contexto mais júnior, mas a tape dele mostra um jogador com uma maturidade e acerto quase hilariantes para alguém com 18 anos. Acho que seria um jogador algo retraído numa primeira fase aqui, mas capaz de corresponder já a um nível alto - como mostram os jogos que fez no Dragão e em casa com o Eintracht - e que no médio-longo prazo quando se soltasse e juntasse todas as armas seria um jogador para quem a Liga Portuguesa seria demasiado pequena em 3 ou 4 anos. Mas claro, se fosse essa a escolha o tópico da contratação estaria igualmente em polvorosa, por outros motivos. É o que é