Tem sido uma tristeza ler e ouvir algumas pessoas com passado no clube falarem de Bruno Carvalho como se ele fosse um alucinado irresponsável que tomou o Sporting de assalto. Os anos passam e este clube não muda, os nossos piores inimigos continuam a estar dentro de casa.
Ora o actual Presidente quando tomou posse, além de ter encontrado um clube em pré-coma e sobre isso não me vou alongar porque a história é por demais conhecida, encontrou também o futebol português com os caminhos todos minados e viciados.
Na ultima década entrou em execução um plano que consistia em transformar o nosso campeonato num poleiro para dois galos. Na capital o Benfica, mais a norte o Porto.
Nesse plano o Sporting seria reduzido ao papel de palhaço pobre, e valha a verdade os nossos dirigentes tiveram um papel fundamental porque fizeram tudo o que de errado podiam ter feito para que este plano pudesse ter sucesso.
Além da forma irresponsável como conduziram o Sporting à ruina financeira, puseram-se várias vezes sob a asa de Benfica e Porto. Quem pode esquecer as alianças de Dias da Cunha com Luís Filipe Vieira e o famoso “Manifesto”? Ou o mesmo Dias da Cunha a passear em Sevilha com o cachecol do FCP no pescoço ao lado de Pinto da Costa, antes da final da Liga Europa. Ou ainda a venda de Moutinho ao FCP, e os negócios Miguel Lopes/Izmailov?
Permitiu-se vender a ideia que clubes com o Braga tinham ultrapassado o Sporting, na verdade essa humilhação chegou a ser real. Braga e imagine-se o Paços Ferreira bateram o nosso clube na luta pelo acesso à Liga dos Campeões. Este período negro culminou com um sétimo lugar no campeonato e o acesso falhado à Europa.
Nesses anos o Sr Feliz (Benfica) e o Sr Contente (Porto), esfregavam as mãos. O plano funcionava na perfeição. O Sporting não incomodava, e estes dois clubes dividiam todos os anos as receitas da LC, vendiam jogadores por valores altíssimos e dominavam como queriam tudo o que se passava no futebol português.
Foi perante este cenário que BdC assumiu a Presidência do Sporting.
Após tomar posse podia ter seguido um de dois caminhos. O mais simples seria sanear o clube de acordo com a vontade do BES, não levantar muitas ondas, ir com a corrente e aproveitar as migalhas que aparecessem pelo caminho que serviram para manter o povo Sportinguista sob controlo.
O outro caminho era bem mais ousado e arriscado. Obrigaria a romper com o passado, enfrentar o poder instalado, agitar o ninho de vespas em que se tinha transformado este nosso futebol, sem no fim ter a certeza que teria sucesso. E se falhasse sairia pela porta pequena, provavelmente com uns quantos a chamarem-lhe demagogo e alvo da chacota geral.
O Presidente sem hesitação escolheu o caminho mais longo, mais difícil e sinuoso, apesar dos riscos. E porque?
Porque não só não se conformou em ver o seu Sporting transformado num clube ultrapassado, humilhado e sem esperança, mas também porque sabia ser este o único caminho para a salvação.
Analisemos os factos. O mercado onde vive o futebol português é pequeno, e para complicar as duas entidades (BES + PT) que nos últimos anos tem financiado os 3 grandes estavam a fechar a torneira. Os clubes eram reféns dos empresários que tinham um controlo desmedido na estratégia para o futebol. Com o passar do tempo duas coisas aconteceram, as entidades financiadoras por excelência de Sporting, Benfica e Porto implodiram, e os fundos passaram desde o dia 1 de Maio de 2015 a ser proibidos.
O Sporting que na ultima década não tinha nada para mostrar estava tramado. Como é que poderia sobreviver? Quem estaria disposto a pagar um valor justo para ser parceiro de um clube que nada ganha, e pior não se destaca, nem se regenera? Que perde os melhores jogadores para os rivais, ou vende-os para pagar dividas?
A solução era só uma, mudar o paradigma do clube e os centros de poder no futebol português.
O primeiro ano correu relativamente bem, o acesso directo à LC foi um balsamo que permitiu dar margem de manobra a BdC. A calma que se viveu no futebol ajudou a que a restruturação financeira e de recurso humanos fosse feita sem grandes sobressaltos.
Porém nos bastidores do futebol o Sporting continuava a ser gozado, e a eleição de Luís Duque para presidente da Liga que juntou Porto e Benfica foi um desafio à autoridade de Bruno de Carvalho.
No 2º ano pedia-se uma evolução desportiva. Com MS ganhou-se a Taça de Portugal, a equipa B respondeu, as modalidades e a formação foram dignos da história do clube. Porém as dificuldades entre Presidente e treinador abriram brechas no clube que foram exploradas até ao tutano para fragilizar o Sporting.
Apesar das dificuldades o Sporting passou a contar, e as agulhas do futebol começaram a mudar. Porém fruto de fragilidades nunca antes vistas nas ultimas duas décadas no FCP, o SLB começa a ganhar um ascendente perigoso.
Bruno de Carvalho, contudo vai fazendo o trabalho de casa, coloca o orçamento para o Futebol dentro de parâmetros lógicos e comportáveis, e incute uma cultura de exigência no clube que não existia desde há muito. Ele sabe que os rivais vão ser obrigados a reduzir os seus orçamentos. Benfica e Porto gastavam com o futebol o triplo do Sporting, valores insustentáveis e que sem os fundos deixavam de ser possíveis.
É hora de atacar.
Mas antes de falar de Jorge Jesus, vamos analisar o outro cenário possível. BdC cedia à pressão mediática e ido contra todos os seus instintos, mantinha MS no comando do futebol. A paz podre que era latente, transitava para a temporada seguinte. O Sporting tinha o azar de começar mal o campeonato, e aqueles que antes idolatravam o MS, passavam assobia-lo. Os do costume saiam da toca para atacar o Presidente e tínhamos o caldo entornado. Provavelmente o treinador era despedido, lá vinha um desempregado ou outro qualquer sem grande experiencia, no limite passava o João de Deus para equipa A, mas a época estava perdida e estes dois anos também. Tudo isto quando se tinha tido o JJ à mercê.
Felizmente o BdC vê mais à frente e acima de tudo defende o Sporting até à morte. Quando percebe que a possibilidade JJ é real, move-se de forma exemplar para conseguir contratar o treinador que pode mudar o paradigma do Sporting, e colocar o clube no centro do futebol Português. Esta contratação tem de entrada um efeito imediato, coloca os rivais em sentido.
E é quando os rivais percebem que estão a perder o controlo da situação que sacam do arsenal pesado, e com o alto patrocínio de uma certa CS e respectivos comentadores, massacram o Sporting e o seu Presidente como nunca se tinha assistido.
De repente o JJ afinal até nem é assim tão bom. O JJ só sabe ganhar com equipas caras. O JJ não aposta na formação. O JJ e o BdC ao fim de 6 meses andam à estalada. O MS foi injustiçado. Aqui-del-rei que o BdC falou com o JJ quando o MS ainda tinha contrato. Ai meu deus o pobre do MS foi despedido por causa do fato. Encontrámos petróleo. Vamos perder a maioria da SAD. Vergonha o dinheiro é dos Angolanos roubado ao BES. O BdC é gay e a mulher transformista. Vamos todos internar o BdC. O mundo vai acabar.
O grave disto é que tivemos gente do Sporting com responsabilidades a patrocinar esta vergonha.
O JJ não aposta na formação. A mentira mais repetida nos últimos dias. Na formação do SLB que é uma invenção da CS, e de onde a ultima estrela a sair foi o Rui Costa, é verdade que não apostou. Mas quando no plantel do SLB existiram Di Maria (21 anos), David Luiz (20 Anos), Rodrigo (19 anos), André Gomes (19 anos) e Fábio Coentrão (21 anos) por exemplo, quem os fez jogadores? Quem os promoveu e permitiu ao SLB encaixes financeiros fabulosos? Não nos deixemos enganar, e lembrem-se de algo que o Presidente disse recentemente, quando lerem este tipo coisas, pensem primeiro em que está a ganhar com isso.
Todo este testamento para concluir o seguinte.
A contratação do JJ é um risco. Mas a contratação de qualquer treinador comporta riscos, a diferença é que a probabilidade de se ganhar com JJ aumenta exponencialmente. Ó Nuno, mas o JJ quer mandar em tudo! Com BdC ninguém manda mais que o Presidente. Ponto.
Partindo desta premissa, porque razão não haveríamos de aproveitar toda a experiencia deste treinador para melhorar o que temos de melhorar? Será que é assim tão grave, ou dito de outra forma, seria caso para recusar contratar o JJ ele querer ter uma via directa para o Presidente?
Para terminar que isto já vai muito longo. Em dois anos passamos de um clube alvo de chacota para um clube que já mete respeito. De um clube à beira do PER, para um clube que contrata o Jorge Jesus. De um clube amorfo e triste, para um clube que deixa os rivais à beira de um ataque de nervos.
A dupla JJ/BdC pode ficar na história do Sporting e do futebol Português.
Enquanto os cães ladram e caravana passa, confiem em quem dá o sangue pelo clube todos os dias e desfrutem porque o futuro é nosso.