Enquanto era adolescente e quando entrei para a faculdade devem ter sido centenas de madrugadas a ver NBA e ainda a euroliga e alguns jogos na liga espanhola. Isto que cá temos não é nada, mesmo um Benfica vs Porto, é zero, mediocridade absoluta com alguns bons momentos de americanos que mais ninguém quer. Joguei 10 anos muitas vezes contra o Zé Barbosa, Ivan Almeida, José Silva, João Soares, Morais da Ovarense… e a formação evoluiu zero, os miudos nem querem saber da modalidade e esta malta a acabar a carreira aos 35 36 37 anos ainda são dos portugueses melhorzinhos. É preciso repensar esta modalidade a nível nacional e muito. E para as aspirações da modalidade no Sporting é preciso tirarem um tempo para se questionarem se é para continuar com este enchovalhanço em jogos grandes, se querem discutir alguma coisa, ou se servimos só para audiência de tv, umas centenas no pavilhão e para tornar melhor as vitórias dos outros porque é diferente dizer que se ganhou ao Sporting do que se ganhou ao Queluz com o devido respeito. Temos o treinador indicado. Falta tudo o resto.
Excepto o argumento estafado do ecletismo, nada justifica que mantenhamos esta modalidade. Mesmo que, por hipótese por ora “delirante”, consigamos competir com Benfica e Porto, continuará a ser absurdo “investir” no basquetebol. Porque a) nunca, em caso e tempo algum, conseguiremos ter uma equipa para competir na Euroliga; b) consome recursos escassos que, por exemplo, o andebol merecia ter não para competir com Benfica e Porto, mas para disputar a própria Liga dos Campeões da modalidade.
Como tudo na vida, faz-se opções. Sendo esta entre ganhar uma competição interna “manhosa” (no basquetebol) e talvez ganhar a maior competição internacional de clubes do andebol mundial, eu não hesito nem alguma vez hesitarei. Desbaratar os recursos escassos que podemos votar às modalidades no basquetebol é um crime de lesa-Sporting e uma profunda prova de estupidez.
Em Portugal, faz tanto sentido ter Basquetebol como faria ter Basebol, ou cricket.
Não é uma modalidade propriamente tradicional no nosso país, nem é propriamente barata… Ou melhor, até pode ser barata, se quisermos ter um nível completamente amador.
Países como Espanha, Turquia ou Grécia conseguem ter projeção na modalidade para atrairem jogadores de nível NBA. Nós não…
De acordo com dados recentes, os orçamentos das equipas da Euroliga para a temporada 2024–25 são os seguintes:
Real Madrid: €42 milhões
Panathinaikos: €35 milhões
Milano: €33 milhões
Monaco: €27,5 milhões
Barcelona: €26 milhões
Fenerbahce: €25 milhões
Bayern: €24,5 milhões
Maccabi Tel Aviv: €22,3 milhões
Olympiacos: €22 milhões
Asvel: €21 milhões
Anadolu Efes: €20 milhões
Partizan: €20 milhões
Valencia: €18 milhões
Virtus: €16 milhões
Baskonia: €16 milhões
Crvena Zvezda: €15,8 milhões
Alba Berlin: €15 milhões
Zalgiris: €13 milhões
Assim sendo, o que raio é que nós andamos a fazer na modalidade?
Nada. Não há tradição…é uma modalidade que vive do acerto de contratação de estrangeiros. Só me custa está a dizer isto num ano em que as coisas correm mal porque soa a desculpa.
Se não devemos estar em modalidades onde o nosso orçamento não se compara aos melhores da Europa se calhar é melhor acabar com o futebol.
Querer acabar com a segunda modalidade a nivel mundial para por dinheiro em desportos como o futsal ou hóquei em patins sem significado internacional (champions são praticamente campeonatos ibéricos) é de rir. Ah, e tal, mas nessas ganhamos. Também podiamos ganhar no ténis de mesa ou no judo. Metam lá o dinheiro.
O Sporting tem que ter as principais modalidades. Ponto.
Sim, o futebol é mais competitivo que o basket e sim é a base do clube. Não era isso que estava a querer passar. Estava a passar que o tamanho dos orçamentos para os maiores clubes não pode ser critério para acabar com modalidades.
Pois, mas a questão é que, no futebol, com 70 ou 80 milhões de orçamento, bom scouting, e profissionalismo, dá perfeitamente para ser competitivo com equipas que têm orçamento de 500 ou 600 milhões. Até porque, nesses clubes de futebol, muito do investimento é redundante (fartas-te de um craque de 100 milhões e compras outro no ano seguinte). Por outras palavras, os gigantes do futebol também esbanjam muito dinheiro.
No basquetebol, com um orçamento de 1 ou 2 milhões, não consegues competir com orçamentos de 12 ou 13 (que é o orçamento mais baixo da Euroliga), porque essas equipas até na NBA conseguem recrutar.
O basquetebol, em Portugal, quando comparado com o basquetebol de alto nível da Europa (e já nem vou falar na NBA), parece uma modalidade diferente. Acredito que o basquetebol paralímpico tem um nível superior à Liga Portuguesa.
E quem me conhece minimamente daqui, sabe que eu sou defensor de um Sporting eclético.
Há muita gente, por exemplo que defende que deveríamos acabar com o hóquei, porque é pouco mais que uma modalidade ibérica, e que mesmo em Espanha é mais centrado na Catalunha e pouco mais… Mas o hóquei é fortemente tradicional em Portugal, o Sporting tem um histórico de títulos enorme e, com orçamentos relativamente baixos, conseguimos ganhar muitos títulos. Vou ser sempre um defensor do hóquei, mesmo não gostando particularmente da modalidade. E até poderia ser apenas praticada em Portugal, que me estava perfeitamente a marimbar, como os americanos se estão a marimbar para o facto de só eles jogarem o ‘football’ deles, ou de chamarem ‘World Series’ ao Baseball, por exemplo… A dimensão é diferente, mas a ideia é a mesma.
Basquetebol? Gosto muito. Em Portugal? Nem sequer considero aquilo Basquetebol, honestamente.
Concordo que nunca iremos competir na Euroliga, mas, por exemplo, se trabalharmos bem com um orçamento de 2 milhões de certeza que fazemos uma gracinha na Champions. É só ver o que estamos a fazer no andebol e de certeza que também temos 1/3 do orçamento de muitos clubes. E se formos por esse critério devíamos também acabar com o Voleibol, pois temos tanta história lá ou menos que no basquete e nunca vamos conseguir ganhar uma Champions lá.
A questão é que, no Voleibol, com um bocadinho mais de investimento, consegues meter a equipa a lugar por uma CEV Challenge Cup, ou mesmo CEV Cup. Champions League, já é outro nível.
Mas mais facilmente colocarias uma equipa de Voleibol portuguesa a ser competitiva numa CEV Champions League, do que uma de Basquetebol a ser competitiva numa FIBA Champions League, onde tens um Málaga a investir 14 milhões, por exemplo. Ou um Strasbourg a investir 7,1 milhões.
E ainda te digo mais: não discordo totalmente da ideia, que também já vi, de abdicar do Voleibol masculino, ou baixar o investimento, para colocar o feminino no topo da Europa. Porque, da mesma forma que há modalidades mais ‘premium’ no masculino que no feminino, também há outras que são o contrário. Quando uma pessoa pensa em modalidades ‘raínha’ do desporto feminino, o Voleibol é logo uma das que aparece à cabeça. E o masculino, provavelmente nem no top 10. Lá está, não diria que concordaria com a medida, caso a tomassem. Mas era gajo para a compreender e aceitar.
E volto a dizer: digo eu, que sou a favor de manter a matriz eclética do Sporting.