Crio este tópico porque sinto que existe neste fórum (e quiçá nos próprios clubes) uma grande dificuldade em fazer uma correta avaliação global do que é uma boa ou uma má contratação. Acho importante que nós sejamos capazes de fazer esta avaliação da forma mais correta possível e acho ainda mais importante que percebamos o impacto que estas contratações têm na força desportiva e financeira de um clube.
Antes de iniciar quero frisar bem esta ideia que já inscrevi em vários tópicos:
O sucesso de um clube depende, acima de tudo, de ser capaz de contratar bem e depois de também ser capaz de vender bem!
Ou seja, quando estamos a falar deste tema, estamos simplesmente a falar do tema mais importe que existe num clube!
ISTO É TUDO!
Todos os outros aspetos que interferem com os resultados de um clube, são secundários perante este. É aqui que está o peso esmagador na situação de cada clube.
Uma má política desportiva pode arruinar um clube em 5 anos.
Uma boa política desportiva pode enriquecer um clube em 5 anos.
É deste tipo de impacto que estamos a falar.
O elemento unitário que está na base de tudo isto é a contratação.
E é por isso que é interessante conseguirmos dar uma boa resposta à pergunta:
Como avaliar uma contratação?
Eu vou aqui fazer o exercício de propor uma forma que não seja demasiado complicada mas que, ainda assim, permita fazer uma boa avaliação de uma contratação.
Qualquer avaliação tem que contabilizar, acima de tudo, 3 vertentes:
Desportiva, Financeira e outra a que vou chamar de Custo de Oportunidade.
Deveremos tentar quantificar, tanto quanto possível, todas as vertentes.
É muito difícil não sermos subjetivos a avaliar o custo de oportunidade.
É fácil sermos objetivos a avaliar a vertente desportiva e é facílimo avaliar a vertente financeira.
Como avaliar a vertente desportiva?
A melhor forma que eu encontro é avaliar o rendimento de um jogador ano a ano e estipular quanto merecia de salário esse rendimento para esse jogador.
Se não estivermos à vontade a fazer esta avaliação, assumimos que corresponde ao salário real. Isto equivale a dizer que o jogador rendeu de acordo com o seu salário ou então que estamos a excluir a parte salarial da nossa avaliação.
Como avaliar a parte financeira pura?
Esta é a avaliação mais fácil e mais objetiva.
O resultado financeiro de um jogador é dado pela seguinte fórmula:
[Resultado Financeiro] = [Valor de Venda do Jogador] – [Valor de Compra do Jogador] – [Salários e Prémios]
Podemos combinar estas 2 componentes numa só e obter já um excelente método de avaliar uma contratação através da seguinte fórmula:
[Resultado Desportivo/Financeiro] = [Resultado Financeiro] + [Resultado Desportivo]
O resultado desportivo corresponde ao custo salarial merecido e então ficamos com:
[Resultado Desportivo/Financeiro] = [Valor de Venda do Jogador] – [Valor de Compra do Jogador] – [Salários e Prémios] + [Salários e Prémios Merecidos]
Esta é uma excelente forma de avaliarmos uma contratação!
Se quisermos ser ainda mais perfeccionistas, mas correndo aqui o risco de entrar com mais subjetividade, podemos incluir o conceito de custo de oportunidade. Neste caso, corresponde ao que perderíamos se não contratássemos o jogador dado o contexto específico.
Vou dar um exemplo, qual teria sido o custo de oportunidade de não termos contratado o Jardel?
Avaliar a contratação do Jardel pela fórmula acima daria um mau resultado.
Isso seria injusto porque o Jardel nos deu um título (que tem valor monetário) e ajudou à valorização de outros ativos. Por outro lado, ao acertarmos a contratação, não tivemos que fazer uma 2ª ou uma 3ª a tentar acertar com o PL certo (isto então vale mesmo muito dinheiro).
De qualquer dos modos, não aconselho a investir demasiado neste conceito para uma contratação normal.
A melhor forma de avaliar uma contratação de forma razoavelmente objetiva sem perder muito tempo é através da fórmula:
[Resultado Desportivo/Financeiro] = [Valor de Venda do Jogador] – [Valor de Compra do Jogador] – [Salários e Prémios] + [Salários e Prémios Merecidos]
Vamos testar com 4 exemplos:
Islan Slimani (1ªpassagem pelo SCP):
[Valor de Venda do Jogador] = 31 ME
[Valor de Compra do Jogador] = 0,3 ME
[Salários e Prémios] = 4ME
[Salários e Prémios Merecidos] = 5ME
O que dá:
[Resultado Desportivo/Financeiro] = 31,7ME
O que é um resultado histórico com uma contratação de um jogador.
Basicamente, não pagámos para o ter a jogar por nós com todo o rendimento que deu.
Não vou aqui contabilizar nenhum custo de oportunidade.
Alan Ruiz:
[Valor de Venda do Jogador] = 0 ME
[Valor de Compra do Jogador] = 8,4 ME
[Salários e Prémios] = 5ME
[Salários e Prémios Merecidos] = 3ME
O que dá:
[Resultado Desportivo/Financeiro] = -10,4 ME
O que é um resultado muito mau. Daqueles que dão cabo de clubes se fizermos muitos assim.
João Mário (no SLB se cumprir contrato até ao fim):
[Valor de Venda do Jogador] = 0 ME
[Valor de Compra do Jogador] = 7,5 ME (eles hão-de ir lá parar direta ou indiretamente)
[Salários e Prémios] = 20 ME
[Salários e Prémios Merecidos] = 10 ME
[Resultado Desportivo/Financeiro] = - 17,5 ME
O que é um resultado péssimo.
No entanto aqui, pode entrar o conceito do custo de oportunidade:
Se se verificar que o João Mário é a peça que vai fazer a diferença no SLB, isso pode ser quantificado em dinheiro e pode até superar 17,5 ME de prejuízo.
Mas isto é um grande risco!
Islan Slimani (se voltasse ao SCP num contrato de 3 anos a 2ME/ano e com preço de 3ME):
[Valor de Venda do Jogador] = 0 ME
[Valor de Compra do Jogador] = 3 ME
[Salários e Prémios] = 6ME
[Salários e Prémios Merecidos] = 4,5ME
O que dá:
[Resultado Desportivo/Financeiro] = - 4,5 ME
É um resultado negativo típico de uma contratação com este perfil.
Mas aqui também pode entrar o custo de oportunidade da diferença que o Slimani pode fazer no SCP.
Uma coisa é certa, não estamos a falar de um risco ao nível daquele que corre o SLB com o João Mário.
Notas finais:
1.
Uma contratação deve ser avaliada pelas vertentes desportiva, financeira e de custo de oportunidade.
2.
Sugiro que se evite usar muito o custo de oportunidade porque é uma vertente muito subjetiva. Simplifiquemos pois e desprezemos esta vertente na maioria dos casos.
3.
É normal que uma contratação dê resultado negativo e possa, mesmo assim, ser positiva.
Basta esse valor negativo não ser exagerado e o jogador cumprir bem desportivamente.
Na verdade, muito poucos jogadores dão resultado positivo e isso é explicado porque obviamente os clubes têm outras fontes de receita para financiar os plantéis.
4.
Uma contratação de resultado positivo é quase sempre uma boa contratação.
O clube enriqueceu com a passagem desse jogador.
5.
É importante apostar na formação.
Sempre que se aposta num jogador da formação e este revela qualidade vamos ter um jackpot porque:
[Valor de Venda do Jogador] pode ser explosivo.
[Valor de Compra do Jogador] = 0 ME
[Salários e Prémios] são normalmente mais baixos que os dos jogadores que vêm de fora.
[Salários e Prémios Merecidos] são normalmente mais altos que os [Salários e Prémios] efectivos, o que também é bom.
Ou seja, tudo contribui para a maximização do [Resultado Desportivo/Financeiro].
É por isto que se diz que se deve apostar na formação. Não é treta!
Isto já para não falar de questões de mística e da vantagem que é ter um plantel maioritariamente nacional.
Deve-se apostar na contratação de jogadores jovens de qualidade valorizáveis.
O perfil típico das contratações do SCP deve ser este porque:
[Valor de Venda do Jogador] não vai ser zero (como num jogador veterano) e a sua venda pode sempre ser por um valor explosivo (se a contratação for acertada).
Deve-se evitar a contratação de jogadores mais velhos porque:
[Valor de Venda do Jogador] quase de certeza vai ser zero.
[Valor de Compra do Jogador] normalmente é mais elevado do que parece por causa das luvas ao jogador e aos empresários.
[Salários e Prémios] são normalmente altíssimos em comparação com os [Salários e Prémios Merecidos] porque o jogador, muitas vezes, é contratado mais a pensar no que ele fez no passado e lhe deu bom nome do que no que realisticamente vai conseguir fazer no fim da carreira.
Isto não quer dizer que não se possa fazer uma ou outra exceção pontual a esta regra por causa do conceito do custo de oportunidade. Mas NUNCA se pode basear uma política desportiva na contratação de jogadores deste perfil como já fizemos no passado com resultados gravosos.
Podemos arriscar fazer uma avaliação de uma contratação antes do jogador em causa sair de um clube. Mas isso, na verdade, não é uma verdadeira avaliação da contratação. Isso é uma projecção.
A verdadeira avaliação da contratação de um jogador só se pode fazer quando ele encerrar o seu contrato no clube que o contratou.
Gostava que este tópico servisse de apoio à avaliação de contratações (incluindo projeções).
Se aplicarmos bem estes conceitos de que aqui falei, acredito que podemos ter uma noção muito mais exacta sobre se uma contratação é, ou pode ser, boa ou má.