[center]“Temos de levantar a cabeça”
- João Moutinho, 23 Agosto 2009, após derrota com Sp. Braga[/center]
Entre meados do século 18 e meados do século 19, a nossa civilização viveu uma revolução intelectual em todos os campos do conhecimento. De todas as inflexões ideológicas, descobertas e invenções desse período, poucas terão abalado mais o pensamento vigente até então do que a Teoria da Evolução de Darwin (Darwinismo), um modelo explicativo da diversidade biológica existente no planeta e que até agora tem resistido com sucesso aos testes a que tem sido submetida pela ciência (fórum do Sporting, eu sei, já lá chegarei). O principal postulado desta teoria é o de que as características anatómicas, fisiológicas, bioquímicas e comportamentais dos seres vivos (ex: a tromba de um elefante, a forma das folhas de uma árvore, etc) resultam da maior taxa de sobrevivência e do maior sucesso reprodutivo dos indivíduos portadores dessas características as quais, por serem inatas e hereditárias, são transmitidas às gerações seguintes. Por outras palavras: características inatas que confiram aos seus portadores maior taxa de sobrevivência e maior sucesso reprodutivo serão transmitidas às gerações seguintes e tendem a aumentar de frequência numa população, isto é, serão alvo da chamada “selecção natural”. (Sporting, não me esqueci).
Contudo, insights deste calibre não surgem assim do pé para a mão e apesar da morte de 3 filhos prematuros, do coleccionismo de escaravelhos, dos anos passados nas Galápagos a medir os bicos dos tentilhões e de uma vida inteira a correr para a sanita de calças na mão devido a uma intolerância à lactose, também não se podem ignorar as teorias que precederam e inspiraram Charles Darwin na elaboração da sua teoria. A mais curiosa das quais tendo sido proposta por um naturalista francês de nome Jean-Baptiste de Lamarck e que diferia da de Darwin no seguinte: enquanto Darwin achava que as características que influenciavam a sobrevivência e sucesso reprodutivo dos indivíduos eram inatas e os seres vivos em vez de as desenvolverem limitavam-se a dar-lhes uso, Lamarck achava que os seres vivos tinham um papel activo no desenvolvimento dessas características, ou seja, em vez de nascerem com elas, desenvolviam-nas devido às necessidades ambientais e depois transmitiam-nas aos descendentes. O caso paradigmático da Teoria de Lamarck (Lamarckismo) e usado nos manuais escolares, é o da girafa:
Segundo Lamarck, as girafas ancestrais, possuidoras de pescoços curtos, tinham necessidade de chegar às folhas altas para se alimentarem. O esforço contínuo de esticarem o pescoço e levantarem a cabeça para se alimentarem das folhas teve por consequência o aumento de comprimento do pescoço, característica que passou a ser transmitida aos descendentes, que passaram a nascer com pescoços compridos, e que passou a fazer parte da essência da girafa. Ora isto faz tanto sentido como pensar que o Arnold Schwarzeneger, por ter andado a vida inteira a malhar no ginásio e a comer 10 ovos de avestruz ao pequeno-almoço, terá forçosamente que ter filhos musculados. Ou que por cortarmos a cauda a uma cadela dálmata, vão nascer 101 dálmatazinhos sem cauda. Concluindo: o Lamarckismo na sua forma pura não tem grande fundamento, porque postula que características como o comprimento do pescoço, quando adquiridas em vida por um indivíduo passam a ser hereditárias, o que não acontece.
Serve tudo isto para dizer que no Sporting também temos as nossas “girafinhas lamarckistas”:
“Temos de levantar a cabeça”
- Liedson, 5 de Janeiro 2008, após derrota com Boavista
“Temos de levantar a cabeça”
- Tiuí, 4 de Fevereiro de 2008, após derrota com Belenenses
“Temos de levantar a cabeça”
- Polga, 25 de Fevereiro de 2009, após derrota com Bayern
“Temos de levantar a cabeça e seguir em frente”
- Soares Franco, 16 de Março de 2009, após nova derrota com Bayern
“É preciso levantar a cabeça”
- João Moutinho, 30 de Julho de 2009, após empate em casa com o Twente
“Temos de levantar a cabeça”
- Pedro Silva, 19 de Agosto de 2009, após empate em casa com a Fiorentina
“Temos de levantar a cabeça”
- João Moutinho, 23 Agosto 2009, após derrota com Sp. Braga
Elas bem se esforçam por levantar a cabeça tentando fazer da cabeça erguida um carácter lamarckista mas o esforço, tal como a Teoria, tem falhado, porque levantam-na temporariamente apenas para a deixarem vir abaixo novamente num ciclo que parece nunca mais ter fim. Portanto, quer-me parecer que isto da cabeça erguida não vai lá com esforço de circunstância. Parece-me isso sim, que se trata de um carácter darwinista, que como tal tem que estar no sangue, no ADN e na mentalidade do clube. Actualmente não está. Esperemos que esse ADN esteja apenas silenciado e enquanto ele não desperta ao menos que as girafinhas lamarckistas tenham a humildade de não se porem em bicos dos pés.