Para quem vive e trabalha no Porto não são muitas as oportunidades de ver jogar os escalões jovens do Sporting. Há, pois, que aproveitar os jogos das fases finais com o FC Porto, Boavista ou Leixões para avaliarmos a evolução da qualidade dos diversos anos de colheita leonina.
Há duas semanas lá estive no estádio do Mar para ver os nossos juniores ganharem ao Leixões por 4-3. Num dia em que os leixonenses eram todos sportinguistas (torcendo para que lá para o final da tarde vencessemos o Paços), os nossos juniores, pretendendo eventualmente demonstrar que estão adaptados ao ritmo do futebol senior, tiveram uma entrada a ver… a banda (leixonense) passar.
Vinte minutos a ver jogar, que, com um adversário mais forte, teriam certamente sido fatais. Para além da falta de organização colectiva, fiquei com a ideia que da defesa não se aproveitava ninguém (eventualmente à excepção do guarda redes, mas, mesmo assim, a rever). Com efeito, mesmo não existindo grande ajuda do sector mais avançado em tarefas defensivas, a questão é que, cada vez que o Leixões se aproximava da nossa área, era um “senhor (já agora de Matosinhos) nos acuda”.
Sendo três dos quatro defesas jogadores estrangeiros contratados pela prospecção do Sporting e sem qualquer intuito xenófobo, a verdade é que não me pareceu que o lateral direito e os dois centrais tenham grande margem de progressão. Tendo consciência que, por vezes, até os jogadores que parecem excepcionais nos juniores acabam por não fazer grandes carreiras, penso que apenas devem ser contratados jogadores estrangeiros para os escalões jovens quando estes evidenciam algumas características técnicas excepcionais (e não medianas ou até fracas), o que não me parece manifestamente que seja o caso dos três defesas supracitados.
Do meio campo para a frente, aí a história é diferente. Diria até que com a defesa dos juniores do ano passado (Gonçalves, Carriço, Lança e Pinto) e os médios e avançados deste ano teríamos uma equipa de grande qualidade. Depois desses 20 minutos de pesadelo, os Andrés (Santos e o “rato mickey “ Martins) pegaram no jogo e criaram oportunidades atrás de oportunidades. Wilson Eduardo, apesar de ter falhado inúmeras oportunidades, pareceu-me um avançado bastante perigoso, sobretudo, nas diagonais muito rápidas que são letais sobretudo para centrais matulões e pesadões. Marco Matias é daqueles jogadores que qualquer treinador da Vitalis ou mesmo da zona baixo da tabela da Iª Liga almejará ter já na próxima época: embora não seja um extremo tecnicamente muito exuberante “à Sporting”, tem um poder de explosão notável, provoca muitos desequilíbrios nas transições ofensivas (sobretudo nas defesas em linha) e, ao contrário do extremo português habitual, vai mesmo para a baliza e marca golos. Também gostei do avançado nigeríamo Owuso que, nos 20 minutos em que esteve em campo, me pareceu muito rápido e dificil de segurar. Bruno Matias esteve mais dinâmico e maduro do que quando o vi nos iniciados (onde se limitava a ver jogar e a protestar com os companheiros por não lhe passarem sempre a bola), vê-se que é dos mais evoluídos tecnicamente, mas continua a parecer-me muito pouco disponível quando toca a defender. Idem aspas para Vivaldo. Recordo-me dele também nos iniciados contra o Porto como o mais exuberante em termos técnicos (inesquecíveis as suas rotações em movimento sobre os jogadores do Porto), mas continua a faltar-lhe aquela crença, têmpera e determinação que diferenciam os grandes jogadores.
Neste fim de semana, estive no Bessa a acompanhar a vitória dos nossos juvenis sobre o Boavista por 1-0. Sinceramente, não fiquei muito convencido com esta geração. Entrada também a ver “a banda passar” e muito pouca determinação nas disputas individuais. Valeu-nos o facto de, ao contrário dos juniores, a defesa ser bastante segura: o guarda redes pareceu-me tranquilo e defendeu vários remates perigosos, os dois centrais Nuno Reis e, em especial, Ricardo Alves, sempre muito bem e o lateral direito Cedric excelente sobretudo a atacar (onde, pelo menos nos primeiros 60 minutos, foi, porventura, o nosso “avançado” mais perigoso – jogador a rever, eventualmente, a extremo ou médio).
Daí para a frente, salvou-se, apenas, do meu ponto de vista, William “box to box” Carvalho, com força, dinamismo e técnica impressionantes. De resto, dois ou três médios e avançados tecnicamente evoluídos mas muito “brinca na areia”, um Renato esforçado mas trapalhão e um ponta de lança Ribeiro com físico, mas que escusava de se esforçar tanto por parecer o Nulo Ribeiro Gomes (até no facto de não ter praticamente ganho uma bola aos centrais adversários). Henrique Gomes, esteve pouco tempo em campo, não me pareceu nada de excepcional, mas tem a determinação e garra que falta aos restantes avançados para rematarem com perigo. Com efeito, depois dos primeiros vinte minutos foram muitas as vezes que conseguimos ir à linha (sobretudo William), mas o poder de fogo foi quase nulo.
Em resumo, vitória dificil, exibição cinzenta do Sporting, sendo justo, no entanto, reconhecer que a equipa do Boavista me pareceu perigosa e dificil de bater sobretudo em casa (interessantes alguns pormenores do nº 9 boavisteiro).
Por fim, no sábado, lá estive também no Olival para assistir ao Porto-Sporting em iniciados, podendo, assim, confirmar tudo o que aqui foi escrito sobre este jogo. Destas três equipas do Sporting é talvez aquela que me parece mais equilibrada, pelo menos, do nº 2 ao nº 11. O Guarda redes, embora não tivesse qualquer responsabilidade no golo – e sem praticamente mais nada para fazer, tal foi o nosso domínio, é muito baixinho mesmo para um escalão como estes. Defesa muito segura, com destaque para Paulo Silva e, sobretudo, para o capitão José Mário Eduardo, na fase final do jogo com uma exibição “à Carriço”, empunhando a bandeira e arrastando a equipa para a frente quase sempre muito bem. Freitas, bem a atacar, Rodolfo seguro e com boa cultura defensiva. Airosa e João Carlos, mais dois candidatos a médios box to box “à Academia”. Esgaio, grande segunda parte, passando tudo e todos e praticamente “terraplanando” a faixa lateral esquerda do Porto. Altair, começou bem, mas depois esteve um pouco discreto. Alexandre esteve muito apagado e Tiago Bragança, um “gordinho” tecnicamente à Miguel Veloso, também me pareceu com potencial. Finalmente, Alberto Coelho esteve muito perdulário, mas, quer pelo físico, quer porque não dá uma bola por perdida, quer pela rapidez, técnica em movimento e sentido de baliza, pode vir a ser um dos primeiros pontas de lança a sério produzidos pela nossa Academia.
A exibição da equipa do FC Porto foi bastante fraca, não me parecendo ter grandes jogadores à excepção do nº 3 (Tiago Ferreira), um excelente central “à Ricardo Carvalho”. O FC Porto, durante o jogo todo, limitou-se praticamente a efectuar dois remates à nossa baliza (um deles concretizado) e a tentar aproveitar a baixa estatura do nosso guarda redes em cantos ou livres contra nós marcados a partir do meio campo. Na frente de ataque, diria apenas que o avançado Lupeta, embora pareça ser cerca de 10 anos mais novo que o Mantorras, é provavelmente mais velho que o… Rui Costa… :liar: Antevejo-lhe um futuro risonho… no Pica da Liga dos Últimos ou… nas obras…
Por fim, tivemos direito à já tradicional arbitragem vergonhosa do Olival. Como é possível deixar passar em claro a falta (não tenho a certeza se foi dentro de área, pois estava do outro lado do campo) e expulsão do guarda redes do Porto, quando Betinho lhe tirou a bola e se aprestava para marcar golo com a baliza aberta? Diría que, não apenas foi visível para todos os espectadores, como também foi audível, tal a “pantufada” que, desesperado por ter perdido a bola, o miúdo do Porto deu no nosso avançado. Como é possível ter permitido diversas entradas assassinas e mesmo uma agressão por parte de Lupeta? Como é possível ter permitido todo o tipo de antijogo nestas idades a partir do momento em que o Porto fez o golo? Enfim, se o sistema continuar a vingar, teremos, dentro em pouco, um “promissor” internacional de Aveiro… :cartao:
Em resumo, três jogos, duas vitórias e uma derrota. O que mais interessa nestas escalões, é que me parece que continuamos a seleccionar e formar grandes jogadores e a ser, sem grandes dúvidas, uma das melhores escolas de jogadores de futebol da Europa. Pede-se, de qualquer forma, critérios mais apurados de excelência na prospecção de estrangeiros e bastante mais trabalho específico “obcessivo à Mirko Jozic” em gestos tão simples como o posicionamente defensivo, o cabeceamento, o remate em força e os cruzamentos.
Saudações leoninas,
Pedro Santos