A Taça das Cidades com Feira, a Liga Europa e a origem dos Rankings.

A Inter-Cities Fairs Cup foi lançada no mesmo ano em que a UEFA criou a European Champion Clubs’ Cup (actual Liga dos Campeões), 1955, com o propósito de rivalizar com esta.

Enquanto a prova da UEFA, inspirada na sua congénere sul-americana, traçava a sua origem às diversas tentativas de criar uma competição continental (Mitropa Cup, Taça Latina), a Taça das Cidades com Feira tem origem nos torneios de futebol disputados por ocasião dos certames anuais e feiras de comércio, daí o seu nome.

Os mentores da prova foram Stanley Rous, secretário-geral da FA inglesa, e Ottorino Barassi, membro do comité executivo da FIFA e um dos principais responsáveis pela organização dos campeonatos do mundo de 1934 e 1950. O financiamento ficou a cargo do magnata suíço dos totobolas, Erns Thommen.

As inscrições estavam abertas a todos os países europeus que tivessem feiras de comércio anual. Cada país deveria inscrever um clube proveniente de uma cidade com feira ou certame anual e nomear um clube representante ou uma selecção de jogadores dessa mesma cidade.

Nas primeiras 2 edições, a prova estendia-se ao longo de 2 anos e algumas cidades que tinham mais que um clube, optavam por enviar uma selecção de jogadores. Mas rapidamente começaram a nomear o seu clube mais bem classificado no campeonato.

O formato pluri-anual revelou-se pouco interessante e a partir de 1960 a prova torna-se anual. Uma vez que os organizadores eram diferentes, alguns clubes chegaram a participar até 1960-61 na Taça das Feiras e nas competições da UEFA em simultâneo.

De forma a tornar a prova mais atractiva, a partir de 1961-62, cada país passou a poder nomear 3 cidades, sendo que por duas vezes foram abertas excepções e uma cidade enviou duas equipas. O calendário passou também a estar articulado com as competições da UEFA (Taça dos Campeões Europeus e Taça das Taças).

A partir de 1968, a organização da Taça das Feiras convida cada país a enviar um número arbitrário de 2, 3 ou 4 equipas conforme a dimensão do país. A prova traça assim a sua própria identidade e torna-se muito popular em toda a Europa, pela extrema competitividade e pela possibilidade de equipas do mesmo país se encontrarem.

Em 1971, no auge do seu sucesso, a prova é adquirida pela UEFA, que a rebaptiza como UEFA Cup, importando todas as regras e regulamentos que se mantiveram até 1975. Nesse ano foi abolido o limite de 1 cidade – 1 equipa, na sequência de protestos do Everton, que tinha de partilhar o seu lugar com o Liverpool. A FA inglesa colocou-se ao lado do Everton, ameaçando retirar todos os seus clubes da competições europeias e a UEFA acedeu, sob a condição da FA controlar o hooliganismo galopante.

Para tornar o acesso baseado no mérito de cada país, em 1979 são introduzidos os actuais conhecidos rankings da UEFA e cada país envia mais ou menos equipas conforme o coeficiente determinado pelas suas prestações, sistema que se mantém até hoje.

Em 1997 a Taça UEFA perde os principais vice-campeões para a reformulada Liga dos Campeões mas dois anos depois volta a ser alargada com os Vencedores da Taças, após a respectiva competição ser abolida nesse ano.

Em 2009 a Taça Intertoto é integrada na Taça UEFA, dando origem à actual longa Liga Europa, que se disputa ao longo de 11 meses.

As equipas portuguesas tiveram participações interessantes, sendo de longe as equipas mais bem sucedidas o Sporting e o Vitória de Setúbal. A Taça das Feiras tornou-se mesmo no torneio fetiche dos sadinos, que vivendo a melhor era do seu futebol, chegaram por duas vezes aos quartos-de-final, eliminando vários gigantes do futebol europeu.

O Sporting fez bons jogos, dos quais se destaca a cilindragem do Bordéus num total de 10-1 em 1965 ou o embate épico com o Valencia em 1968. Depois de aplicar 4 em Alvalade ao clube Che, o Sporting consentiu 4 golos na 2ª mão e acabou embrulhado num prolongamento. Aos 112 minutos, Chico Faria colocou um ponto final na eliminatória e marcou o golo que qualificou o Sporting.

Em 1965-66, motivado pelo recente sucesso europeu, o Sporting aplicou-se na prova que estreava, pois tinha boas perspectivas de chegar longe, mas foi eliminado num 3º jogo que, em vez de se disputar em terreno neutro, acabou mesmo por se disputar na casa do rival, com o terreno a inclinar-se para os Espanholistas. Nessa mesma eliminatória o AC Milan quase caía no Barreiro frente à CUF (actual Fabril), onde perdeu por 2-0, mas conseguiu passar a eliminatória da mesma forma, disputando um 3º jogo em campo “neutro” na casa do rival também em campo inclinado.

O principal entrave nestes desempates prendia-se com o facto de as equipas hesitarem em despender recursos em mais viagens, acabando os visitantes da 2ª mão por aceder a jogar o 3º jogo na casa do rival em campo nada neutro.

Em 1967-68, depois de ultrapassar a Fiorentina e o Club Brugge, o Sporting ainda sonhou com os quartos-de-final, o adversário, o Zurique era claramente inferior, mas o jogo na Suíça correu mal e um dupla arbitragem alemã em ambas a as mãos não deixou o Sporting fazer muito mais.

[glow=green,2,300]Historial do SPORTING na Taça das Cidades com Feira
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[tt]Eliminatória Visitado Visitante Estádio Espectadores Árbitro (País)

1965-66
1ª Ronda
22-09-1965 Bordeaux 0 4 Sporting Parc Lescure 12.069 Juan Gardeazábal Garay (Espanha)
06-10-1965 Sporting 6 1 Bordeaux José Alvalade 15.000 Adolfo Bueno Perales (Espanha)

2ª Ronda
11-10-1965 Sporting 2 1 Espanyol José Alvalade 40.000 William Mullan (Escócia)
24-11-1965 Espanyol 4 3 Sporting Sarrià 30.000 Ernest Crawford (Inglaterra)
15-12-1965 Espanyol 2 1 Sporting Sarrià 20.200 Pierre Schwinte (França)

1967-68
1ª Ronda
13-09-1967 Club Brugge 0 0 Sporting Jan Breydel 15.800 Roger Machin (França)
27-09-1967 Sporting 2 1 Club Brugge José Alvalade 8.451 Mariano Medina Iglesias (Espanha)

2ª Ronda
06-12-1967 Sporting 2 1 Fiorentina José Alvalade 16.735 Kurt Handwerker (Alemanha Ocidental)
13-12-1967 Fiorentina 1 1 Sporting Artemio Franchi 8.200 Tibor Wotava (Hungria)

3ª Ronda
28-02-1968 FC Zürich 3 0 Sporting Letzigrund 11.300 Wolfgang Riedel (A. Ocidental)
13-03-1968 Sporting 1 0 FC Zürich José Alvalade 19.426 Alfred Ott (Alemanha Oriental)

1968-69
1ª Ronda
18-09-1968 Sporting 4 0 Valencia José Alvalade 27.500 Robert Lacoste (France)
02-10-1968 Valencia 4ap1 Sporting Mestalla 30.000 Aurelio Angonese (Itália)

2ª Ronda
30-10-1968 Sporting 1 1 Newcastle José Alvalade 9.000 Erwin Vetter (A. Ocidental)
20-11-1968 Newcastle 1 0 Sporting St. James Park 53.650 Gerhard Schulenburg (A. Oriental)

1969-70
1ª Ronda
24-09-1969 Sporting 4 0 LASK Linz José Alvalade 30.000 David Smith (Inglaterra)
01-10-1969 LASK Linz 2 2 Sporting Gugl-Stadion 10.000 Helmut Bader (A. Ocidental)

2ª Ronda
29-10-1969 Sporting 0 0 Arsenal José Alvalade 32.000 Dittmar Huber (Suíça)
26-11-1969 Arsenal 3 0 Sporting Highbury Park 35.253 Heinz Siebert (A. Ocidental)
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[center]VENCEDORES

1955-58 Barcelona XI
1958-60 FC Barcelona
1960-61 AS Roma
1961-62 Valencia CF
1962-63 Valencia CF
1963-64 Real Zaragoza
1964-65 Ferencváros
1965-66 FC Barcelona
1966-67 Dinamo Zagreb
1968-68 Leeds United
1968-69 Newcastle United
1969-70 Arsenal FC
1970-71 Leeds United[/center]

Apesar de ter adquirido o torneio e mantido a sua organização intacta, devido à rivalidade que mantinha com esta competição, a UEFA recusou-se a integrar os vencedores da prova até 1971 no historial dos vencedores da Taça UEFA e da Liga Europa, boicote que mantém até hoje, alegando que a competição não podia ser oficial por não estar sob a sua égide, apesar dos constantes pedidos dos clubes vencedores

A UEFA também não quis o troféu original e substitui-o por um novo desenhado por Bertoni, troféu que ainda vigora. O original foi entregue ao FC Barcelona após vencer o Leeds United num jogo especial que opôs o vencedor de 1971 ao clube com mais triunfos na prova.