Aproxima-se o fim de um modelo de gestão que ficou conhecido por “Projecto Roquette”. Pode não ser hoje, amanha, ou no próximo mês, mas acontecerá. Tão certo como dois e dois serem quatro.
O Projecto Roquette tinha as suas virtudes, mas fruto da desvirtualização que foi sofrendo ao longo dos anos, arrastou o clube para um buraco nunca antes sonhado por qualquer um de nós e com consequências ainda difíceis de quantificar. Por outro lado, transformou-se no poleiro de pessoas agarradas ao poder que vendo o fim a aproximar-se tentam a fuga desesperada rumo ao abismo. Mas esta perversão foi ainda mais grave tendo em conta que, no essencial, estas pessoas estiveram todas amarradas às instituições financeiras que são credoras do Sporting, faltando-lhes independência para promover roturas. Por isso hoje o clube está refém dos bancos e da Olivedesportos, não sendo por isso capaz de ser dono do seu destino.
Quando GL cair, e vai cair! o Sporting terá de ser repensado. Não na sua matriz de clube grande, formador, ecléctico, com um passado honroso e obrigação de lutar pela vitória seja em que campo for, mas na forma de lá chegar e no modelo de clube que desejamos.
Cabe ao próximo presidente esta tarefa. Por isso terá de ser alguém carismático, mobilizador e com um projecto ambicioso para pelo menos dois mandatos.
Li com atenção a entrevista que José Couceiro concedeu recentemente à Abola TV. Entre muitas coisas acertadas, disse algo que é inegável, o Sporting não pode ter em 10 anos 5 presidentes. Não existe projecto que resista a isto porque cada presidente pensa de maneira diferente do anterior, mantendo o clube constantemente em ebulição e mudança. Ora somo gastadores, ora somos formadores, ora apostamos num regime presidencialista, ora vive-se num modelo bicéfalo clube/SAD, ora se aposta nas amadoras ora se fecham secções. Esta esquizofrenia tem vindo a matar o Sporting.
Na minha opinião o próximo presidente não pode usar o treinador como arma eleitoral. Terá de se mostrar pelos seus méritos e programa eleitoral. Pela credibilidade das suas ideias, e pela equipa que reunir à sua volta. Com isto, evita o vexame de num dia dizer que “morre” com o seu treinador, e no outro estar a ser obrigado a dispensá-lo, ficando assim numa posição insustentável. O treinador é um funcionário do clube, obviamente alguém muito importante na estrutura do futebol profissional, mas não deixa de ser um funcionário, logo não ser um “peso” para o Presidente.
O próximo Presidente do Sporting, terá de ser alguém com gosto pelo futebol e que assuma a pasta sem rodeios. Defendo um modelo o mais directo possível, onde a comunicação entre Presidente/Treinador tenha o menos ruído possível. Por isso, no máximo a estrutura deve incluir contratação de um Director Desportivo.
Só estas três pessoas devem ter acesso aos dossiers que digam respeito ao Futebol Profissional. O Presidente com a função de definir estratégias, orçamentos e em conjunto com DD participar nas contratações.
Ao DD deve caber a tarefa de ser elo de ligação entre o Treinador/Platel e a Administração da SAD, ser o responsável em conjunto com o Presidente pelas contratações, tendo em conta as carências do plantel e os desejos do treinador. Tem também de ser um estratega, capaz de pensar a longo prazo o futebol profissional. Deve ter conhecimentos do mercado e saber avaliar jogadores. Passa pelo DD definir qual o perfil de jogador do Sporting, nas suas vertentes humanas e desportivas. Jogar no Sporting não deve ser para qualquer. Existem requisitos técnicos, tácticos mas também de conduta pessoal e profissional que devem ser exigidos. Algo que tem sido descurado nos últimos anos, com comprovados prejuízos para o clube. Mas sobre o perfil do DD, irei acrescentar algo mais à frente.
Por fim o treinador. Tem de alguém com reputação inquestionável, talhado para trabalhar e potenciar a formação. Com capacidade mobilizadora, e que privilegie o futebol como espectáculo. Um clube como o Sporting, não pode ter um treinador resultadista, que aposte num futebol enfadonho e sem chama. Chega de brincar às experiências neste cargo de vital importância. A escolha desta pessoa é tão importante que não pode gerar dúvidas nos responsáveis pelo futebol para, e se em algum momento da temporada os resultados não forem os esperados, saberem segurá-lo dando protecção e condições para desenvolver o seu trabalho.
Mas existem mais dois pontos que o futuro Presidente tem de ter conta. Primeiro é de capital importância, na pasta financeira deve estar alguém que lhe seja próximo, com carácter e não um “yes man”, por isso capaz de contrapor ideias e apontar caminhos alternativos. Alguém com curriculum e que os nossos credores vejam como um interlocutor credível. Sendo natural que este homem assuma o lugar de número 2 no elenco directivo, é por isso essencial que a relação com o presidente seja de grande cumplicidade mas honesta e profissional.
De igual modo, o futuro DD, assume igual importância. Tem por isso de ser alguém que não ofereça duvidas ao presidente, e que esteja no lugar pelo Sporting, e não como trampolim para se promover socialmente ou para encher os bolsos, enquanto o “tacho durar”.
Mas para mim, o mais importante para que esta refundação seja efectiva passa pelo futuro presidente ser capaz de apresentar uma lista credível, sem recorrer aos nomes do passado, aos mesmo de sempre que gravitam à volta do Sporting faz anos, qual abutres, sempre à espera que o tacho lhes caí no colo. Para que o Sporting se reerga terá de o fazer com sangue novo, pessoas que nada tenha que ver com o passado, que não tenham anti-corpos e se sintam livres para poder cortar-a-eito, se assim for necessário, sem se sentirem comprometidas com este ou aquele. Este ponto para mim é essencial, diria mesmo vital.
O próximo presidente tem de se capaz de falar verdade, fugindo aos lugares comuns e sound-bytes que só servem para enganar os mais desprevenidos. Se sentir que o clube precisa de dois ou três anos para voltar a ganhar, terá de ser capaz de ser frontal e dizê-lo. Se assim for, terá certamente o Sportinguistas do seu lado, e dispostos a colaborar nesta refundação.
Não pode ter medo de afrontar os muitos “lobbys” que vivem na sombra do Sporting. Terá de ter a coragem de avaliar se “Conselho Leonino”, “Grupo Stromp”, “Leões de Portugal”, etc… cabem neste novo Sporting, ou se existem meramente para traficar lugares. Para mim, estes órgãos consultivos são hoje mais prejudiciais que benéficos ao clube e deve a sua utilidade ser avaliada.
Outro ponto deveras importante, a Comunicação. Com a reformulação do jornal do clube e a estreia da Sporting TV, abre-se uma janela de ouro para, também nesta área, refundar o clube. Actualmente a comunicação do clube é incrivelmente amadora, pouco aceitável num clube que ser de topo e profissional. A mim causa impressão esta situação porque na SAD as duas ultimas pessoas a exercer funções nesta área foram Nuno Dias (no mandato de JEB) e agora o Pedro Sousa. Ambos jornalistas reconhecidos pelos seus pares e Sportinguistas assumidos. O que vem provar outra coisa mais preocupante, a mediocridade reinante é tal, que os poucos bons profissionais acabam também eles por ser contaminados.
Mas o futuro novo presidente terá de ser capaz de algo ainda mais ousado nesta área, publicamente desautorizar todos os que para se promover falam em nome do clube em diversos programas televisivos e radiofónicos. A voz do Sporting deve ser só uma, por isso os Sportinguistas devem saber de forma inequívoca que quem estiver nos “Dias Seguintes”, “Trios de Ataque”, etc… fala em nome próprio, e em momento algum podem ter cargos executivos ou não executivos no clube. Eu não posso aceitar que um tipo como ROC que é membro do CL, todas as semanas envergonhe os Sportinguistas com a sua participação infeliz e desastrada na TV.
Da mesma forma, não pode ser admissível que o PMAG clube seja envergonhado semanalmente por um benfiquista a pavonear-se na televisão por saber tanto ou mais do Sporting que os dirigentes do clube. Simplesmente não pode ser admissível que participe em programas televisivos ou escrevam crónicas em jornais desportivos, porque não é possível desassociar-se da sua condição de dirigente do clube. E o que se passa semanalmente, para as pessoas que assistem ao Trio de Ataque, não é que o EB, cidadão, cirurgião e sportinguista leva baile do Seara, é que o PMAG do SCP, sabe menos da vida interna do clube, que um comentador televisivo sócio de um clube rival.
Nós somos uma massa adepta indifectivel, mas que hoje se sente, na sua grande maioria órfã, triste e traída. Por isso a indiferença que se assiste. Ainda assim, eu que sou um desses, não deixo de pensar e reflectir sobre o clube e estou preparado para ajudar dentro das minhas possibilidades, se aparecer alguém que me inspire confiança para tal. Como eu, certamente existirão muitos mais desejos de voltar a vibrar com o Sporting.
Não se tratar de estar á espera do São Sebastião ou do Messias, trata-se apenas de termos a sabedoria e o discernimento de eleger alguém capaz de colocar o Sporting no lugar que é seu por direito. E isso só se faz, mudando o paradigma actual de forma radical. Refundar o clube é para mim, não uma necessidade mas uma obrigação.